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segunda-feira, junho 03, 2024

Primeiro Sonho, que é como a Madre Juana Inés de la Cruz chamou e compôs [esse poema], imitando Góngora. - TRAD. ERIC PONTY

Piramidal, ameaçador, da sombra nascida na terra
sombra nascida da terra, ao céu conduzia
de obeliscos vãos, ponta altiva,
para escalar, fingindo escalar as estrelas;
5 Embora suas belas luzes,
sempre isentas, sempre brilhando,
a guerra negra
que com vapores negros o intimidava
a terrível sombra fugitiva
10 Tão distante eles zombavam,
que sua carranca escurecida
não alcançava ainda o convexo superior
do orbe da deusa
que era três vezes bela
15 com três belos rostos sendo ostensivos,
permanecendo apenas o dono
do ar que ele embaçou
com a densa respiração que exalava;
e na quietude satisfeita
20 do império silencioso,
submisso apenas às vozes dos pássaros noturnos
22 dos pássaros noturnos,
tão escuras, tão baixas,
que nem mesmo o silêncio era interrompido.
25 Com voo e canto tardios, do ouvido
e ainda pior do humor admitido,
o envergonhado incrimine se aproxima
Das portas sagradas as frestas,
Ou das eminentes claraboias
30 os buracos mais propícios
que são capazes de abrir uma brecha para ele,
e sacrílego ele chega aos brilhantes
lanternas sagradas de chama perene
que se extingue, se não infamar,
35 o licor claro, a matéria bruta
consumindo, que a árvore de Minerva
de seu fruto, de prensas agravadas,
em dor, suou e cedeu à força.
39 E aqueles que sua casa
40 campos que viam voltar, seus panos de grama,
à divindade de Baco, desobedientes
-Não mais histórias contando diferentes,
em forma sim afrontada transformada-,
segunda forma névoa,
45 para ser vista mesmo temendo na escuridão,
pássaros sem penas e com asas:
essas três clericais, eu digo,
irmãs ousadas,
que o tremendo castigo
50 De nuas lhes deu membranas marrons,
Asas tão mal dispostas
Que são uma zombaria até do mais sombrio.
53 Estas, com o tagarelar
O ministro de Plutão em uma época, agora
55 Sugestão supersticiosa para o pessimista,
Sozinho, o que não canta
compunham uma capela terrível,
58 Máximas, negras, longas entoações,
e pausas mais do que vozes, esperando
60 para a medição desajeitada e preguiçosa
de maior proporção, talvez, que o vento
com movimento fleumático,
de batida tão lenta, tão parada,
Que no meio pode ter adormecido.
65 Este, pois, triste som intercorrente
Da multidão atônita e temerosa,
67 menos para a atenção que solicitava
do que para o sono que persuadiu;
antes sim, lentamente,
70 sua consonância obtusa espaïosa
à calma induzia
72 E a repousar seus membros convidava,
o silêncio insinuando a vida
(um e outro selando o lábio escuro
75 com um dedo apontando),
Harpócrates, à noite, silenciosa;
77 Para quem, embora não seja duro,
se imperioso
preceito, todos eram obedientes.
80 O vento calmo, o cão adormecido,
este jaz, aquele permanece
os átomos não se movem,
com o sussurro tornam o medo brando,
embora pequeno, sacrílego barulhento,
85 violadores do silêncio tranquilo.
O mar, não mais alterado
nem mesmo o instável balançar
berço cerúleo onde o sol dormia;
e os peixes adormecidos, sempre mudos,
90 Nos leitos leitosos
De seus escuros seios cavernosos,
mudos eram duas vezes;
E entre eles, a enganosa feiticeira
Almone, que antes
95 Em peixes ela transformou, meros amantes,
Transformados também, ela se vingou agora.
Nos seios ocultos da montanha,
Côncavos de penhascos mal formados,
99 De sua aspereza menos defendidos
100 Do que de sua escuridão protegidos,
cuja sombria mansão
Pode ser noite no meio do dia,
desconhecido até mesmo para os certos
o pé selvagem do caçador experiente,
105 a ferocidade de alguns
de alguns, e de outros o medo deposto,
o bruto vulgar,
à natureza
aquele que de seu poder paga imposto,
110 Tributo universal;
E o rei, cuja vigilância ele afetava,
Mas com os olhos abertos não vigiava.
Ele, com seus próprios cães, o assediava,
O monarca outrora iluminado,
115 Tímido agora um cervo,
Com ouvidos atentos,
da atmosfera calma
Ao menor movimento perceptível
que os átomos emudecem,
120 o ouvido alternado se aguça
e o leve rumor sente
que ainda o perturba em seu sono.
E na quietude do ninho
que de mato e lama é uma rede instável
125 formadas na parte mais opaca
a parte mais monótona da árvore, dorme
A turfa leve, descansando ao vento
Do vento que a corta, movimento alado.
De Júpiter, o pássaro generoso,
130 Como finalmente ele reina, por não se entregar totalmente
ao descanso, que o vício considera
Se for necessário passar, cuidado
que ela tenha cuidado para não incorrer no excesso da omissão,
A um só pé, livre, ela confia o peso,
135 E em outro ela mantém pequenos cálculos
-Vigília- vigília ao acordar de um sono leve-,
para que, se necessário, fosse admitido,
não possa ser dilatada e continuada,
antes de ser interrompido
140 Do cuidado real seja pastoral
Oh, a pesada pensão de Sua Majestade!
que nem mesmo o mais leve descuido perdoa!
Causa, talvez, que tenha tornado misteriosa,
circular, denotando, a coroa,
145 em um círculo dourado,
Essa ânsia não é menos contínua.
O sonho todo, por fim, o possuiu;
tudo, finalmente, o silêncio o ocupou:
até o ladrão dormia;
150 Mesmo o amante não estava acordado.
A escuridão estava quase passando, e a sombra
estava se afastando, e a sombra escurecia, quando
cansados dos trabalhos do dia
-E não apenas oprimido
155 da avidez pesada
do trabalho corporal, mas cansado
também do deleite (que também cansa
que é um objeto contínuo para os sentidos,
embora seja deleitoso:
160 Que a natureza sempre alterna
uma ou outra escala,
distribuindo vários exercícios
ou para o lazer, ou para o trabalho destinado,
na fiel infidelidade com que ela governa
165 o aparato do mundo);
Assim, de profundo
sono profundo e doce, os membros ocupados,
os sentidos foram deixados
dos quais eles têm exercício ordinário
170 (trabalho finalmente, mas trabalho amado,
se houver trabalho amável),
se não privados, pelo menos suspensos,
e cedendo ao retrato do oposto
Da vida, que, lentamente armada,
175 Covardemente ataca e preguiçosamente vence
Com armas sonolentas,
177 desde o humilde cajado até o orgulhoso cetro,
sem nenhuma marca distintiva
a não ser o pano de saco de púrpura para discernir,
180 por seu nível, em todo o poder,
classifica-se como isento
nenhuma pessoa,
183 daquele a quem três coroas formam
tiara soberano,
185 para aquele que vive em uma cabana de palha;
Daquele que o verde Danúbio dourar,
àquele que habita a humilde, humilde cana;
e com uma vara sempre igual
(como, de fato, poderosa imagem
190 Da morte) Morfeu
o pano de saco mede igual ao brocado.
192 A alma, então, suspensa
do governo exterior - no qual, ocupada
no emprego material,
195 Bem ou mal, ela dá o dia como passado,
apenas dispensa
remota, se não totalmente separada
não, para aqueles oprimidos pela morte temporária
membros lânguidos, ossos calmos,
Madre Juana Inés de la Cruz - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

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