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terça-feira, junho 11, 2024

Spleen et idéal- Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

Da Insensatez e do erro, da avareza e do vício
Ocupam nossas mentes e a força de nossos corpos;
Alimentamos nossos amenos anseios de remorsos
Quais mendigos coceiras comendo seus piolhos cio.

Pertinazes no pecado e covardes no pesar trança,
Fazemos a confissão por uma prestação franca traça,
Depois voltamos festivo, a passagem lamacenta,
lamúrias banais pudessem lavar todas nódoas contas.

No travesseiro do mal, Satanás Trismegisto
Embala longos cicios a alma encantada ao misto,
Um químico sábio que dissolve nossa vontade
E transformou-se seu valioso metal em névoa idade.

O demônio segura as cordas que nos fazem mover!
Agora, objetos repugnantes parecem nos afagar a ter;
A cada dia damos mais um passo em direção ao inferno,
Sem repugnância, descendo por cavernas fétidas ao ermo!

Como um pobre leproso com sua puta radiante
Beija e mordisca seu peito murcho acinte,
Roubamos prazeres secretos, como o sabor
De uma laranja velha premida por uma gota a mais pôr.

Como milhões de vermes intestinais em ebulição,
Uma raça de demônios se comove em nossos cérebros,
E com o ar que respiramos, a morte semeia invisível braços, 
Em nossos pulmões, um fluxo monótono de lamentação.

Se o estupro e o ardor criminoso, o veneno ou a faca
Ainda não enfeitaram a tinta onde nos agrada placa 
Para pintar destinos banais e mesquinhos,
É porque não somos ousados os aceitáveis ninhos.

Mas em meio a chacais, panteras, toda a tripulação
De vira-latas, macacos, escorpiões, abutres, cobras,
Monstros que uivam e gritam, rastejam e coaxam,
O principal dos vícios em nossa coleção.

É um mais sujo, mais cruel do que os outros traços,
Que não grita ou faz algum grande alvoroço,
Mas que, com um bocejo, engoliria toda a criação
E, felizmente, reduziria a terra a pó em ração;

Isso é Ennui! Com uma lacrima relutante e bobo
Ele sonha com andaimes enquanto fuma seu cachimbo.
Parece que também conhece esse monstro delicado.
Tu Leitor hipócrita! - Meu gêmeo! - Meu irmão ofertado!
Quando, por decreto dos grandes poderes do alto,
O poeta chega este mundo sem graça, sua mãe assalto 
Contristada, atônita, estoura em blasfêmia
E sacode a mão para Deus, tem pena dela reluzia:
- "Ah, por que não gerei um ninho de víboras
Em vez de cuidar dessa zombaria de coisa afaroa!
Maldita seja a noite de meus prazeres efêmeros
Quando concebi essa penitência por meu pecado mero!
Já que me escolheu entre todas as mulheres unhas
Para fazer meu marido me odiar como sua vergonha,
E já que não posso jogar esse monstro atrofiado,
como uma velha carta de amor, no lixo, alijado 
Vou passar adiante o fardo de seu ódio dando 
Para o maldito instrumento de todo o seu rancor
E torça essa árvore pobreza, para que nunca possa pôr 
Ao produzir novos brotos e dar frutos infectados".
E assim, não compreendendo o plano eterno adiado,
Ela se engasga e engole a espuma de seu ódio;
Ela mesma alimenta a raça penal criada no lábio,
No fundo da Geena por causa do crime materno.
No entanto, com um anjo como seu guia invisível,
A criança deserdada sente o gosto do sol terrível 
A luz do sol, e em tudo o que come e bebe crível,
Encontra néctar e ambrosia para seu banquete.
Ele brinca com o vento, conversa com as nuvens margens
E canta o caminho da cruz em tal estado de espírito
De felicidade que seu Espírito Assistente chora que resta
Ao vê-lo feliz como um pássaro da floresta num rito presta
Todos aqueles que ele busca amar olham para ele com medo,
Ou então, porque sua calma os tornou corajosos aos credos,
Para ver qual deles pode forçá-lo a gritar idos,
Testando o que sua ferocidade pode arranjar.
Cinzas e pedaços de cuspe são misturados sem par,
O pão e o vinho destinados à sua boca;
Como hipócritas, jogam fora tudo o que ele toca oca,
E se culpam por pisar em seu caminho.
Sua esposa anuncia no mercado em vestes de linho:
"Já que ele adora minha beleza, vou me atrever
Para nomear o ofício que os antigos ídolos faziam ver,
E, como eles, me cobrirei de ouro.
E me drogarei com nardo e incenso puro,
Com mirra e gênios, carnes e vinho,
E rirei se em seu coração amoroso eu puder pinho,
Usurpar a homenagem devida ao que é Divino.
E quando eu me cansar dessa farsa ímpia,
Trarei minha mão esbelta e forte para suportar a pia,
Em sua sela; minhas unhas, como garras de harpias,
Cortarão o caminho sangrento que leva até onde,
Como se fosse um jovem pássaro trêmulo fronte,
Vou desenterrar de seu peito o coração vermelho e brilhante;
E então, como carne para saciar meu cão favorito,
Eu o jogarei com desprezo na poeira esse mito!"
Para o céu, onde ele vê um trono brilhante,
O poeta ergue seus braços piedosos; a luz antes de 
E as vastas faixas de sua mente lúcida
Cancelam de sua visão as nações furiosas explícitas:
"Seja abençoado, ó Deus, que oferece o sofrimento
Como cura celestial para nossas impurezas de tormentos,
E como a essência mais pura e mais rica
Para treinar os fortes para as ectasias sagradas fica.
Eu sei que para o poeta você guardou riscas 
Um lugar entre as legiões dos abençoados,
Entre os Tronos, as Virtudes e as Dominações em terno,
Convidados a participar do banquete eterno.
Somente a tristeza é a nobreza
Que a Terra e o Inferno, eu sei, não derrubarão a reza,
E eras infinitas, todo este universo,
Devem ser todos tributados para tecer minha coroa mística.
Mas as pérolas e os metais do mar ainda são ignotos versos,
A glória desaparecida das joias de Palmira,
Embora montadas por sua mão, não seriam suficientes miras
Para fazer este diadema claro e deslumbrante diante de,
Feito, como será, apenas de pura luz,
Extraído dos primeiros raios da sagrada Terra,
Dos quais nossos olhos mortais, embora brilhantes erra,
São apenas espelhos melancólicos escurecidos dos tidos."
Mui vezes, por diversão, os marinheiros
capturam albatrozes, grandes aves marinhas, 
languidamente, durante toda a viagem,
algum navio navegando na onda do oceano.

Assim que a tripulação o pegar no convés,
esse déspota do céu, desprovido de orgulho,
deixa suas extensas asas brancas balançarem, 
um par de remos, desajeitado ao seu lado.

O viajante emplumado é um coxo e fraco
agora uma piada que antes era bela.
Um marinheiro segura um cachimbo em seu bico;
outro manca para zombar do viajante aleijado.

O poeta é como esse rei das nuvens
cavalgar nas tempestades e rejeita todo arqueiro:
Quando ele é exilado na terra, multidões estridentes
o maltratam, e suas asas gigantescas o atrapalham.
Muitas vezes, por prazer, os marinheiros
Prendem albatrozes, grandes aves dos mares beiro,
Que seguem, indolentes companheiros de viagens,
Nau a deslizar sobre os amargos abismos margens.

Assim que os colocam sobre as pranchas ancha 
que esses reis do azul, sem jeito e envergonhados,
Deixam com pena suas grandes asas brancas
Como remos pendurados ao lado ancas.

Este viajando alado, como é grotesco e frouxo!
Ele, antes tão bonito, é cômico e feio roxo!
Marujo picou seu bico com um cachimbo bruxo dava,
Outro o imita mancando, o aleijão que voava!

O Poeta alembra o príncipe em nuvens rios,
Que vence a tempestade e ri do arqueiro;
Preso ao chão, em meio às suas vaias,
Asas gigantescas o impedem caminhar praia.
Às vezes, por esporte, os homens das equipagens
Prendem os grandes albatrozes dê vozeiro,
Os indolentes companheiros no seu cruzeiro 
Enquanto percorrem estas amargas vastidões ordens.

Mal pescaram a bordo desses reis aéreos
Quando desamparados em pisos tão incomuns,
Abaixam com suas enormes asas brancas páreas, 
E as arrastam ao lado quais remos à deriva de uns.

Que cômico, que feio e que  trançou 
Aparece esse viajante das neves celestiais!
Um, com cachimbo, provoca o bico dourado, manso
Um, mancando, zomba do aleijado enquanto vais.

O poeta, tal qual esse monarca das nuvens,
Desprezando os arqueiros, cavalga aguaceiro com alegria.
Mas, encalhado na terra, multidões zombeteiras, margens
As grandes asas do gigante atrapalham sua marcha pia.


Às vezes, por esporte, os homens das equipagens
Prendem os grandes albatrozes das profundezas,
Os indolentes corréus de seu cruzeiro em margens 
Enquanto cursam estas amargas vastidões cruezas.

Mal pescaram a bordo desses reis aéreos
Quando sós em pisos tão incomuns lhes criva,
Abaixam com suas abissais asas alvas aéreas,
E as arrastam ao seu lado quais remos à deriva.

Que cômico, que feio e que manso parcial,
Aparece esse viajante da neve celestial!
Um, com seu cachimbo, provoca o bico dourado,
Um, coxeando, zomba do aleijado enquanto dado.

O poeta, como esse monarca das nuvens a beira,
Desprezando os arqueiros, cavalga aguaceiro com alegria.
Mas, encalhado na terra, para bandos zombeteiros,
As grandes asas do colosso perdem sua marcha pia.

Acima dos lagos, acima dos vales,
De montanhas e os bosques, as nuvens, os mares;
Além do sol, além do éter dos ares,
Além dos limites das esferas estreladas pares.

Minha alma, se move com destreza,
Qual forte nadador em êxtase na onda em preza,
Voa alegre pelo espaço sem limite crível,
Com uma alegria viril indescritível.

Voar muito, muito longe desse miasma crivo,
E purifique-se no ar celestial nocivo,
Bêbado do fogo etéreo dessas regiões límpidas
Como beberia o mais puro dos néctares celestiais idos.

Além das grandes tristezas e de todos os dissabores
Que pesam sobre as vidas e ofuscar-se nossa visão em dores,
Feliz é aquele que pode, com sua asa vigorosa
Voar em endereço a campos pacatos e pedregoso.

Ele, cujos pensamentos, são os pássaros,
Voam em direção ao céu da manhã raros,
- Que paira sobre a vida e entende com facilidade
A linguagem das flores e da coisa silenciosa arde!

Sobre os lagos e sobre as ravinas, as montanhas, 
as florestas, as nuvens e os mares,
além do sol, além do espaço etéreo,
além dos limites dos hemisférios estrelados,

Tu voas, meu espírito, com agilidade
e, como um bom nadador que ama a maré,
atravessa uma amplitude imensurável
com uma alegria inefável e viril.

Voe para longe desse fedor deprimente
e purifique-se no ar superior. Absorva o fogo sagrado 
que preenche as regiões claras
como se fosse uma bebida celestial.

Feliz é aquele que se eleva vigoroso
para além do tédio e da vasta angústia
tão pesados para nossa raça confusa
e se lança naquelas esferas serenas e intensas.

Feliz é aquele cujo intelecto, igual a uma cotovia, 
para a abóbada da manhã, que se eleva
acima desta vida e compreende livremente
nessa linguagem das flores e das coisas silenciosas.

No templo da natureza, colunas vivas se erguem
E às vezes produzem versos confusos; o homem vagueia
Pelo aberto capão de símbolos que observam ideias
Seus passos quais os de alguém que eles reconhecem.

Tais os longos ecos de longe ressoam sem fim,
E se misturam em uma união escura e funda deem,
Vasta qual a noite e clara qual o meio-dia, assim
Perfumes, sons e cores se correspondem.

Alguns cheiros têm cheiro em pele das crianças, meios 
Suaves quais oboés, verdes quais relvas nos maios
- E outros são alterados, ricos, triunfantes pratas,

Expirando amplas quais todas as coisas infinitas,
Âmbar gris, almíscar, benjamim e incensos idos,
Que cantam os êxtases da alma e dos sentidos.
A natureza, um templo no qual os pórticos crentes
estão acendendo, às vezes dá palestras confusas.
Os bosques figurativos pelos quais o homem pisa
olham para ele com olhos indulgentes.

Tons, sons e perfumes desconcertam os sentidos
assim como ecos distantes se fundem tidos
em uma síntese profunda e nebulosa fida
vasta como a luz do dia e a sombra da noite.

Há perfumes frescos como a pele de um bebê,
doces qual o som de um oboé e verdes qual grama,
enquanto outros são devassos, imperiais ramas.

Sendo-lhe capaz de expansões infinitos tais,
quais âmbar gris, almíscar, incenso, Benjamin,
que cantam o êxtase da alma e dos sentidos.
Adoro a lembrança daqueles dias nus pios
Quando Febos dourou as estátuas com seus raios.
Mulheres e homens, sem engano ou cuidado,
Se deleitavam na alegria de corpos flexíveis parado,
Máquinas perfeitas, como o céu gracioso acima
Acariciava suas costas com amor saudável de cima,
A bondade frutífera de Cibele era tão grande fios
Que ela não trouxe um peso pesado para seus filhos,
Mas, como a loba, provou ser uma terna ama
Cujas tetas davam de mamar a todo o orbe drama.
Robusto e belo, o homem tinha motivos para se orgulhar,
Nomeado como seu rei pelas belezas ao seu lado,
Frutas puras, imaculadas e isentas de pragas prados,
Com a casca firme e macia que seduz a mordida!
Hoje o poeta, buscando o ar fida,
De glória nativa naqueles lugares onde
Mulheres e homens revelam sua nudez fronte,
Sente um frio negro invadir sua alma, oprimida fonte,
Diante de uma vista tão assustadora - todas aquelas
Pobres aberrações devem estar clama por roupas delas!
Torsos e troncos apenas para o burlesco,
Retorcidos, barrigudos, sabichões e grotescos,
A quem aquele deus implacável, a Utilidade
Envoltos em bronze para abater sua infância idade.
E as mulheres, pálidas como círios, se alimentavam
Por devassidão;  virgens levadas que estávamos 
Por esse vício maternal, condenadas a ver paradas
Os horríveis frutos de sua fertilidade dadas!
É fato que nós, nações corrompidas, mostramos
Belezas que os povos antigos não conheciam damos:
Rostos que o coração consomem dadas
Belo que talvez tenham uma floração apagados somem;
Mas essas invenções de nossa musa posterior causem,
Nunca farão com que nossa raça doente se recusem
Profunda homenagem à santidade da juventude,
Aquela testa pura e imperturbável, aquele ar tão rudes;
cujos olhos claros são como um riacho que semeia
Descuidados no céu azul, os pássaros semeadores teia 
Talvez perfumes, canções e poderes suaves adoradores.
Rubens, jardim do sinimbu, riacho do olvido,
Coxim de carne florido onde ninguém pode fazer amor,
Mas onde a alma da vida flui e se agita incessante tida,
Tal qual o vento no céu, ou os mares dentro do mar;

Leonardo, um espelho, sombrio e profundo,
Onde anjos atraentes com sorrisos insinuar mundos 
Carregados mistérios, são vistos entre as sombras tão
quais geleiras e dos pinheiros que margeiam o chão;

Rembrandt*, triste hospital de estranhos sussurros,
O único adorno ali, um crucifixo gigante,
Onde a oração é de choros, e se abrange da sujeira.
Um raio de sol de inverno usurpa brusco o quarto;

E Michelangelo, lugar vago onde Hércules
Emaranhar formas de Cristo, e erguer-se bem reto deles
Acima estão poderosos fantasmas, que na luz escura
Estenderão seus dedos e rasgarão seus lençóis puros;

A fúria do ringue, o atrevimento de um fauno,
Que pode chamar à beleza os vassalos no campo do uno,
Grande coração inchado de orgulho, homem débil e com icterícia,
Puget, triste e só, o imperador dos condenados que cria.

Watteau, esse carnaval, onde mui corações famosos
Passeiam qual catracas vivas e insensatas formosos
A decoração é fresca e leve sob os lustres no ar,
Derramam loucura sobre essa dança sempre circular;

Goya, um marasmo cheio de coisas indescritíveis,
De fetos que se coze para foliões da meia-noite criveis,
Mulheres idosas no espelho, crianças completamente nuas,
Vestir-se para tentar os demônios, com mui acurado em suas;

Delacroix, lago de sangue, o refúgio dos anjos maus,
Sombreado por um bosque de pinheiros sempre verdes caos;
Sob um céu sombrio, estranhas fanfarras se afastam beber
E desaparecem, como um dos suspiros sufocados de Weber.

Essas maldições, blasfêmias, gemidos de êxtases de um, 
essas súplicas, gritos de lágrimas de Te Deum
Ecoado por mil labirintos, - de uns fatais
Um ópio divino para os corações famintos dos mortais!

É um chamado feito por mil sentinelas,
Uma ordem gritada por mil trompas falantes;
É um farol em mil cidadelas,
Um grito de caçadores perdidos em um bosque intenso antes!

Pois é real, Senhor, o melhor testemunho do mundo
Que podemos lhe dar da dignidade humana do fundo,
Esse soluço ardente que se prolonga de idade em idade
E vem a morrer no encontro com sua eternidade
Pobre musa, infeliz, o que a preocupa nesta manhã?
Visões noturnas assombram olhos encovados unhas,
Loucura e horror, frios e taciturno agir,
Revezam-se em suas faces; eu as vejo surgir.

A súcubo verde e o duende rosado o pardo prado,
Derramaram urnas de medo e amor em sua testa?
Foi mergulhada pela mão brutal marasmo noturno,
Para se afogar no lendário lamaçal de Minturno?

Meu desejo seria esse, que cheira a saúde,
Seu coração abrigasse pensamentos sempre fortes,
cristão fluxo sanguíneo com o esforço rítmico.

De sílabas antigas e tons variados alto Picos,
Onde reina Phebo, o pai de todas as canções vãs,
E, por sua vez, o senhor da colheita, o grande Pan.

Ó minha musa, que adora palácios ricos,
mas, quando todo o mês de janeiro sopra seu vento
por meio correntes de ar e do tédio do entardecer, acharás
alguns gravetos meios torrados para aquecer seus dedos roxos?

Quando os raios de luar usurparem as vidraças,
seus ombros azuis acharão o tom de antes?
Sabendo que garganta está seca, sua verba foi gasta,
Transformará tetos com caixotões em moedas?

Para ganhar o pão de cada dia, precisas balançar 
Do incensário como um acólito e cantar
Daqueles hinos sagrados nos quais não acredita,

ou vender seus encantos a olhos que não percebem
seu riso manchado de lágrimas - uma fraude emaciada
que de alguma forma agradará a multidão esplênica.


Há muito tempo, os claustros tinham a Verdade 
da Sagrada Escritura pintada em suas paredes.
Essas imagens aqueciam o coração dos homens de fé
e amenizavam o frio dentro de suas celas austeras.

Na época em que a Palavra de Cristo era próspera,
mais de um monge ilustre, hoje ignoto,
assentando seu cavalete em um cemitério,
que esse glorificou a morte de forma direta.

Minha alma é o túmulo em que vivo e ando
para sempre, eremita ruim.
Nenhum retrato alegra esse retiro miserável.

Ó monge inerte! Quando aprenderei a fazer
o que minhas mãos escrevem meus olhos adoram
Sendo-lhe partir da vista viva do desespero?
Minha juventude não passou de um aguaceiro sombrio
Às vezes oblíqua por brilhantes rajadas de sol;
E em meu jardim restam poucas frutas vermelhas
Após os estragos do trovão e da chuva.

Agora cheguei à época dos pensamentos de outono.
Quando a pá e o ancinho são imperiosos para reaver
A terra de sangue onde a água cavou
Buracos na terra, tão largos quanto túmulos.

Quem sabe se os novos Semeadores com que sonho
Algum dia chegarão a este solo pobre, lavado
Como um fio desolado, seu místico alento vivificante?

- Ó tristeza, tristeza! O tempo consome nossa vida;
O Inimigo que rói nossos corações sem ser visto
Cresce a e se fortalecer com nosso sangue perdido.
Ninguém poderia levantar esse peso pesado
Sem sua coragem, Sísifo!
Pois embora se trabalhe com boa vontade,
Ainda assim, a arte é longa e o tempo é breve.
Longe de grandes túmulos monumentais,
Em direção ao terreno ermo de alguma igreja
Meu coração bate em uma marcha fúnebre,
batendo como um tambor abafado.
- Muitas joias preciosas perduram
Enterrada no escuro olvido,
Intacta pela pá que a escava;
Muitos lavradores se lançam 
Em sua fragrância doce e secreta
Nos desertos da mais profunda solidão.
Eu costumava morar sob vastos pórticos
Que os sóis do mar tingiam de mil sons,
E à luz do anoitecer, dar ares de cavernas de basalto,
Tão retas e belas se erguiam aquelas grandes colunas.

A sinuosidade do mar jorrou pelas seções dos céus
E se fundiram em solene acordo místico
Os tons impressionantes de sua rica música
Com os tons do pôr do sol refletidos em meus olhos.

E lá eu vivi em uma calma voluptuosa
Em meio a esses espaços azuis, ondas e esplendores,
E escravos nus, imbuídos de óleos perfumados,

A quem, arrefecia minha fronte em palmas acenando,
Só tinham uma preocupação - inspirar mais profundo
A tristeza secreta que exauriu minha vontade.

Eu até poderia ser rei das terras chuvosas -
Ricos e jovens, mas inúteis e ancestrais,
Quem desapoia a trupe protetores teus pés
E vadiar com seus mastins e outras bestas.

Nada poderia animá-lo apostas ou falcoaria-
Nem mesmo temas fenecendo em tua porta.
Os jograis cômicos do Buffon do tribunal
Não divertiria está cruel maldade.

Tua cama régia não passaria duma tumba,
E as cortesãs, dotam qualquer príncipe,
Já não tem palhaças ou usam roupas
Obter riso a partir deste jovem uno ossos.

O alquimista que o fez ouro não pode
Avisar de tua alma e extirpe a falha;
Nem naqueles banhos sangue os romanos trouxeram.

Versaria a força juvenil do corpo dum velho,
A ciência estudiosa traz à vida dum morto
Com a água podre de Leté nas tuas veias.

Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

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