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domingo, maio 26, 2024

Op.21 (1912) - Arnold Schoenberg (1874-1951) - Otto Erich Hartleben (1864-1905) - Trad. Eric Ponty


Segunda-feira

O vinho que se bebeu com os olhos,
A lua derrama-se em ondas à noite,
E uma maré de primavera inunda
O horizonte silencioso.

Desejos horríveis e doces,
Nadam pelas enchentes sem número!
O vinho que bebeu com teus olhos
A lua se derramou em ondas à noite.

O poeta que é movido pela devoção,
Intoxica-se com a poção sagrada,
Em direção ao céu virando a sua cabeça
tua cabeça e tropeçando ele chupou e sorveu,
O vinho que bebeu com teus olhos!


Columbina

As flores pálidas do luar,
As rosas brancas maravilhosas,
Florescem nas noites de julho -
Oh, quebrei apenas uma!

Para aliviar meu sofrimento ansioso,
Busco no riacho escuro
As pálidas flores do luar,
As rosas brancas e maravilhosas.

Todos os meus desejos seriam agradados,
Se eu pudesse ser num conto de fadas,
Tão felizmente calmo
Em seus cabelos castanhos
As flores pálidas do luar!


O dândi

Com um magnífico feixe de luz
Lua fulgura facões cristalinos
Sobre lavatório breu, mui bento
Na dança silente do Bérgamo.

Em cuia de bronze pra tingir
Ri-se intensa fonte, o som metalino.
Num delirante feixe de luz
Lua fulgura os facões cristalinos.

Pierrot com a face de cera
Pondera e pensa: irá se maquiar?
Impele o rubro e o verde oriental
E pinta sua face de jeito brioso
Num delirante feixe de lua.

Arlequim

Mais formoso do que o espectro solar,
Aqui está o Arlequim muito magro,
Que amassa o casaquinho
Da atrabiliária donzela.

Para apaziguar sua raiva,
Ele mostra uma lantejoula
Mais bela que o espectro solar,
Aqui está o esbelto Arlequim.

A velha senhora, embolsando seu salário,
entrega colombina ao malandro,
Que em um grande céu azul turquesa
Se desenha e canta Lunaire,
Mais bela que o espectro solar.


Uma lavadeira lívida

Uma lavadeira lívida
Lava panos lívidos durante a noite;
Braços nus, prateados e alvos
Se distendem até o dilúvio.

Ventos rastejam por meio campestre,
Silente, se mover o fluxo.
Uma lavadeira lívida
Lava xales lívidos durante essa noite.

E submissa dama do céu,
De ramos suaves acariciados,
Espalham sobre prados abrumados
A textura de linho intensa
Duma lívida lavadeira.

Valsa de Chopin

Qual lívida gota de sangue
Colorir lábios duma pessoa acamada,
Por isso, se apoia em impressões
Numa graça destrutiva.

Acordes luxuriosos selvagens [perturbar]
Dum sonho glacial do desalento...
Como lívida gota de sangue
Realçar beiços duma pessoa acamada.

Quente e exultante, doce e languinhenta,
Melancólica Valsa infeliz,
Não pode ausentar-se da minha cabeceira.
Me agarra aos meus pensamentos
Numa lívida gota de sangue!

Madonna

Sobe, Ó Mãe, Todas aflições,
Sobre Altar de meus versos!
Sangue de seu peito esguio
Derramou me ira da espada.

Feridas sempre em novas
Olhares rubros e acesos.
Vem, ó mãe dessas dores,
Nesse altar de meus versos!

Em tuas mãos pálidas
Seguram o cadáver desse filho.
Demonstrá-lo toda a gente -
Mas olhar do homem atalha
Tu, Ó Mãe, Todas aflições.

Lua adoentada

A lua sonolenta, doente de morte
Lá no arado negro do céu,
Seu olhar, tão febril superdimensionada,
Me cativa como uma estranha melodia.

Do sofrimento do amor insaciável
Morressem de saudade, profundos sufocados,
Da lua noturna doente de morte
Lá no negro arado do céu.

A pessoa amada, que em um frenesi sensual
Sem pensar, se esgueira até a amada,
Entretido com o jogo de seus raios -
Teu sangue pálido e agoniado,
Tua lua noturna, doente de morte.

Noite (Passaglia)

Borboletas gigantes abrumadas e pretas
Mataram o esplendor do sol.
Um livro mágico fechado,
Repousa no horizonte - silencioso.

Da fumaça das profundezas perdidas
Um aroma se ergue, matando a memória!
Borboletas gigantes negras e escuras
Mataram o esplendor do sol.

E do céu para a terra
Baixam com asas pesadas
Invisíveis os sonhos não sonhados
Sobre os corações dos homens...
Borboletas gigantes escuras e negras.

Oração do Pierrot

Pierrot! O meu riso
Eu esqueci-me!
A imagem de esplendor
Dissolvida - Dissolvida!

Negra é a bandeira
Do meu mastro agora.
Pierrot! O meu riso
Eu esqueci-me!

Oh, devolve-me,
Cavalo médico da alma,
Boneco de neve da poesia,
Serena alteza da lua,
Pierrot - o meu riso!

Ao meu primo de Bergamo

Somos parentes pela Lua,
O Pierrot Bergamasco e eu,
Pois sinto uma pálida agitação,
Quando ela cuida da noite marrom.

Ao pé da tribuna vermelha,
Ele cobrou os gestos do rei:
Estamos ligados pela Lua,
O Pierrot Bergamasco e eu.

Minha fortuna são os vaga-lumes;
Eu vivo de tiros, iguais a ti,
Minha língua sangrenta para a Lei,
E a palavra me incomoda:
Somos parentes pela Lua!


Assalto

Rubro, rubis principescos,
Gotas ferais auréolas ancestrais,
...Letargia Santuários fenecidos,
Nas arcas desse jazigo.

Noite, com compartes camoecas,
Pierrot rebaixar a furtar
Rubro, rubis principescos,
Pingos prestígio ancestrais, sangue.

Mas - Seus velos estão iço,
Medo lívido impede seu recinto:
Por meio Penumbra – Quais olhares! -
Santuários Fenecidos
Rubro, rubis principescos.

Missa sangrenta

No cruel jantar
Pelo calor doiro,
Luzes faiscantes Velas,
Pierrot beira Altar. 

A mão, aprovada a Deus,
Largueia vestes sacerdotais...
Para Banquete atroz
Pelo fulgor douro.

Com aceno bendição
Demostram almas ansiosas
Hospedeiro rubro gotejante...
Coração de dedos sangrentos,
Ao banquete cruel.

Canção do enforcado

Galocha esguia
Num pescoço comprido
será derradeiro
na última amante.

Em sua cabeceira
Presa num prego
Galocha esguia
Num pescoço longo.

Elegante qual pinheiro
Tranças entorno gargalo
Vai lhe ser folgazã
Será consorte dum malfeitor
Galocha esguia!

Decapitação

Lua, Espada alvo do Turco
Em coxim de seda negra,
Fantasmal - abreviado
Por meio noturna dolente abrumada.

Pierrot vagueia sem repouso
Apreciar altivez do pavor mortal
Pra Lua, Espada turco nu
Em coxim seda preta.

Joelhos tremidos,
Desmaiando e esvai.
Se acha que já é
No pescoço do pecador, terrestre
Lua, Espada alvo do Turco.

Cruzes

Cruzes bentas são avessas,
Sobre quais Poetas sangram inúteis,
Cegos atingirem o abutre
Enxame fantasmal cintilante!

Corpos espadins aromas maldizentes...,
no escarlate de sangue!
Cruzes bentas são avessas,
Sobre quais Poetas sangram inúteis

Jazida cabeceira - congeladas caracóis -
Longe, vozerio da caravana esvaecer.
Devagar Sol se inicia,
Duma coroa real rubra. –
Cruzes bentas são avessas.

Cristal da Boêmia

Um raio de lua, bem fechado
Em um copo de cristal da Boêmia,
Uma joia, maravilhosa e rara,
É este livro de versos.

Eu me disfarcei de Pierrot.
Para aquela que amo, ofereço
O raio da lua, bem fechado
Em um copo de cristal da Boêmia.

Nesses símbolos cintilantes
Está tudo o que eu tenho e sou.
Como Pierrot em um crânio pálido,
Trago em meu coração e mente apenas
O raio da lua - bem fechado.

Saudades caseiras

Ó Doce lamento - Suspiro cristalino
 Remota pantomima italiana,
 Soa qual Pierrot de lenho,
 Tão coevo afetuoso agora.

 E soar por meio ermo desse coração,
 Sons afogadiços por todos sentidos idos,
 Lindo suspiro diáfano, simples e formoso...
 Dessa ancestral pantomima Itália.

 Lá Pierrot olvida Minas de amargura!
 Pela lívida luz ardores lunares,
 Por meio mares luzidios, aspiração iça,
 Ousada altivez, pra altivez, pro céu caseiro
 Linda perpétua cristalina, carpideira amável!

A Crueldade!

Dentro da cabeceira alva de Cassandra
...cujo templo o ar estremeceu 
Pierrot perfura cacimbões fingidos,
Ternos - Quais da caveira!

Logo, um polegar, cravou...
Seu puro tabaco turco
Dentro da cabeceira nua de Cassandra,
...cujo templo o ar estremeceu o ar!

Então torce à fonte azedume
...à parte traseira da cabeceira nua...
...São presunção e vaidade...
...Exato tabaco turco...
Da cabeceira nua de Cassandra!

A Paródia 

Agulhas de tricô, vivas e chamativas,
Em seus cabelos brancos,
A Duana está sentada murmurando,
Em sua pequena saia vermelha.

Ela espera no caramanchão,
Ela ama Pierrot com dor,
Agulhas de tricô, brilhantes e reluzentes,
Em seus cabelos brancos.

Então, de repente, - Diana! - um sussurro!
Uma brisa ri suavemente:
A lua, a malvada zombeteira,
Imita com seus raios -
Agulhas de tricô, piscantes e brilhantes.


A Desonra da lua 

Uma mancha branca da lua brilhante
Na parte de trás da sua saia preta,
Assim Pierrot caminha na noite amena,
Em busca de felicidade e aventura.
 
De repente, algo o incomoda no seu fato,
Ele olha em volta e encontra -
Uma mancha branca da lua brilhante
Na parte de trás da sua saia preta.

Espera! pensa ele: é uma nódoa de gesso!
Limpa e limpa, mas - não a consegue tirar!
E assim continua, inchado de veneno,
Esfregando e raspando até de manhã cedo -
Uma mancha branca da lua brilhante.


Serenata

Com Burlesco estojo colossal
Pierrot fere sua viola,
Qual a cegonha em uma perna,
Faz uma pizzicato contornos fracos.

De repente, Cassandra beirar - enfadada
Ao virtuoso anoitecer...
Com arco grotesco
Pierrot arranha sua viola.

De si mesmo detinha-lhe à viola:
Com meiga esquerda
Agarrando a cabeceira nua do colarinho...
Sonha em cabeceira nua
Com Burlesco estojo colossal.

Desando à casa 

(Barcarola)

 O raio de luar é o leme,
o nenúfar serve de barco;
Pierrot navega para sul nele
Com um bom vento de viagem.

O riacho zumbe em escalas profundas
E balança o barco leve.
O raio de luar é o leme,
O nenúfar serve de barco.

Para Bergamo, para casa,
Pierrot regressa agora;
Já desponta no Leste
O horizonte verde.
- O raio de luar é o leme.


O Antigo Aroma

Ó velho perfume dos contos de fadas,
Intoxica os meus sentidos outra vez;
Um exército tolo de brincalhões
Desliza pelo ar leve.

Um desejo feliz faz-me feliz
Por alegrias que há muito desprezei:
Ó velho perfume dos contos de fadas,
Intoxica-me de outra vez!

Revelo todo o meu desagrado;
Da minha janela de sol
Olho livremente para o mundo valioso
E sonho com os espaços abertos...
Ó velho perfume dos contos de fadas.

Otto Erich Hartleben (1864-1905) - Trad. Eric Ponty

ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETTISTA

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