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quinta-feira, maio 23, 2024

Ao Leitor - Charles Baudelaire - TRAD. ERIC PONTY

Tolice e erro, mesquinhez e pecado
Possuem nosso espírito e cansam nossa carne.
E, como um animal de estimação, alimentamos
Esse nosso remorso domesticado.

Como os mendigos alimentam seus piolhos.
Nossos pecados são teimosos, nossa contrição é frouxa;
Oferecemos generosamente nossos votos de fé
E voltamos de bom grado ao caminho da imundície.

No travesseiro do mal está Satã Trismegisto
Que embala nosso espírito encantado para dormir,
E o rico metal de nossa vontade
É todo vaporizado por esse químico erudito.

Genuinamente o Diabo puxa todas as nossas cordas!
Nos objetos mais repugnantes, encontramos encantos;
A cada dia damos mais um passo em direção ao inferno,
Contentes em atravessar o poço fedorento.

Como um pobre libertino chupa e beija
A triste e atormentada teta de uma velha prostituta,
Roubamos um prazer furtivo quando passamos,
Uma laranja murcha que apertamos e pressionamos.

Perto, enxameando, como um milhão de vermes que se contorcem,
Uma nação demoníaca se agita em nossos cérebros,
E, quando respiramos, a morte flui em nossos pulmões,
Uma torrente secreta de gritos monótonos e lamentosos.

Se a matança, ou o incêndio criminoso, o veneno, o estupro
Ainda não adornaram nossos belos desenhos,
A tela banal de nossos tristes destinos,
É apenas porque nosso espírito não tem coragem.

Mas lá com todos os chacais, panteras, cães de caça,
Os macacos, os escorpiões, os abutres, as cobras,
Esses brutos uivantes, ganindo, grunhindo e rastejando,
Por esses infames zoológicos do vício de nossos dias.

Uma só criatura é a mais imunda e falsa!
Embora não faça grandes gestos, nem grandes gritos,
De bom grado devastaria a terra de seus habitantes,
E em um só bocejo engolir todo o mundo;

É o tédio! - seus olhos estão cheios de lágrimas involuntárias,
Ele sonha com andaimes enquanto fuma seu maquine.
Você o conhece, leitor, esse monstro delicado,
- Leitor hipócrita, - meu companheiro, - meu irmão!
Charles Baudelaire - TRAD. ERIC PONTY
ERIC PONTY - POETA - TRADUTOR - LIBRETISTA

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