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sábado, fevereiro 03, 2024

The sonnets of William Shakespeare e os sonetos de Almiro W. S. Pisetta - Eric Ponty @ Outros

 

Se você for ao youtube, e digitar 'this masquerade' (composta por Leon Russel), entre as opções disponíveis, estará o duo Carpenters e Jorge Benson, as interpretações são bem diferentes e a beleza da música longe de se perder em cada uma delas, é acentuada pelos talentos individuais dos artistas. Pode ainda ouvir a mesma musica executada por Nelson Faria e Arthur Maia, é absolutamente impossível, na opinião do presente avaliador, dizer qual a mais perfeita. O fenômeno é de ordem geral, é possível apreciá-lo, por exemplo, entre os compositores antigos, se ouvirmos a abertura da paixão segundo São Mateus, de Bach, por condutores dos anos 70 e ouvirmos as mais recentes, é possível notar as diferenças, devido ao estilo de cada época, Bach executado por grandes orquestras, soa diferente se a orquestra for historicamente informada, com instrumentos de época. Shakespeare é semelhante a uma fé, uma religião, um compositor, luminária da humanidade, que canta o Amor como poucos, e acredito que temos em cada um de seus tradutores um 'condutor' ou um 'ungido' a nos transmitir maravilhas, e nesse livro em especial a graça dos sonetos.

Em sua primorosa introdução, o tradutor faz um apanhado indispensável para leigos como eu, e nos leva a passear pelo todo do poema comentando rapidamente a sequência lógica que encadeia internamente os sonetos, citando o belo rapaz, a dama escura, o poeta rival e will (William) em conjunto com o Tempo, a Morte e a Natureza, para concluir que estamos 'diante de uma comédia de traição', segundo o tradutor português Graça Moura, e 'diante de uma comédia da loucura do amor', segundo o Almiro Pisetta e um dos seus mestres. Para mim, essa primeira parte do livro já é por si só um achado inestimável!

Um “leitor social” pode se sentir frustrado ao procurar aqui uma comédia ou tragédia. Sendo Shakespeare todo mundo e ninguém, podemos afirmar que os “Sonetos” são, ao mesmo tempo, autobiográficos e universais, pessoais e impessoais, irônicos e sinceros, bissexuais e heterossexuais, falhos e íntegros. O “eu” do poema é sempre uma máscara, uma persona, e não um ser humano. Shakespeare aqui esboça um autorretrato, mas evita retoca-lo minuciosamente. A voz que medita nesses poemas se esforça para se distanciar do próprio sofrimento, às vezes até da própria humilhação. O relato que depreendemos dos “Sonetos” parece discorrer sobre traição; no entanto, jamais ouvimos falar da morte do amor, embora haja motivo mais do que suficiente para que tal morte ocorra. Entre os meus sonetos favoritos destaco o de número 12, 19, 55, 60, 121, 129, 130, e 144. Ao ler essa magnifica obra lírica, comparei três traduções existentes no mercado editorial brasileiro – duas completas e uma incompleta (42 sonetos). Com relação as completas temos a tradução de Vasco Graça Moura – Editora Landmark, e a de Thereza Christina R. da Mota -- Editora Ibis Libris. Com relação aos sonetos incompletos, a tradução de Ivo Barroso (editora Nova Fronteira) está muito boa. Em suma, a tradução de Thereza Cristina está aquém das duas outras. Alguns erros de interpretação podem ser encontrados ao longo dos sonetos. Por exemplo, a tradutora considera o amante do poeta uma mulher, enquanto que toda literatura o considera um homem jovem e belo. Sugiro que o leitor fique com a excelente tradução de Vasco Graça Moura e a complemente com a análise de Helen Vendler (The Art of Shakespeare'S Sonnets & Poems).

A partir desse ponto, o tradutor nos apresenta o percurso da tradução, norteado por Erza Pound (e sua melopeia, falopeia e logopeia) , Paulo Vizioli e Horácio. Entramos no campo da erudição, e longe de se expressar somente aos iniciados, sem esforço evidente Pisetta nos conduz com clareza, iluminando o caminho para que leigos como eu possam entender o que geralmente fica reservado a estudantes ou profissionais do meio, e o faz com notável senso de humor, para mim, uma aula e mais um achado!

O tradutor se apoiou em vários autores no seu percurso, desde brasileiros (Barbara Heliodora e Ivo Barroso, entre os mais célebres), o português Vasco Graça Moura, e autores de língua inglesa dedicados à obra de Shakespeare. Antes de passar as traduções propriamentes escritas, questiona o motivo dos sonetos terem se tornado campeões de vendas, em relação a restante obra de Shakespeare, nos apresentando algumas respostas, e no último paragrafo da introdução, cita Vizioli: 'traduzir poesia é acima de tudo, um trabalho de amor'. Segue-se então os sonetos em inglês, traduzidos primeiramente em prosa para português, e logo em versos. As traduções versificadas são acompanhadas de pequenos comentários que enriquecem o texto.

Um “leitor social” pode se sentir frustrado ao procurar aqui uma comédia ou tragédia. Sendo Shakespeare todo mundo e ninguém, podemos afirmar que os “Sonetos” são, ao mesmo tempo, autobiográficos e universais, pessoais e impessoais, irônicos e sinceros, bissexuais e heterossexuais, falhos e íntegros. O “eu” do poema é sempre uma máscara, uma persona, e não um ser humano. Shakespeare aqui esboça um autorretrato, mas evita retoca-lo minuciosamente. A voz que medita nesses poemas se esforça para se distanciar do próprio sofrimento, às vezes até da própria humilhação. O relato que depreendemos dos “Sonetos” parece discorrer sobre traição; no entanto, jamais ouvimos falar da morte do amor, embora haja motivo mais do que suficiente para que tal morte ocorra. Entre os meus sonetos favoritos destaco o 121, 129, 130, e 144.

Mevlana Rumi diz em um dos seus poema que 'o Amor não pode ser dito', peço que releve por não citar a fonte. Acho que esses grandes poetas tentam dizer o indizivel, expressar na forma escrita o que transborda das margens, há uma beleza estética nos sonetos de Shakespeare que por si só nos convidam ao amor da poesia, também acho que Shakespeare é um lago que reflete o Amor que vivemos no dia a dia, com seus encontros, desencontros, dissabores, entregas e desprezos. Fui convertido à fé pelas traduções de Thereza Christina, e em cada um dos seus apóstolos, ungidos, condutores ou tradutores, Shakespeare derrama sua graça, na comédia que é tentar encontrar o amor em outro ser tão humano e im (perfeito?) como nós, e jamais desiste de o fazer. Sugiro pesquisar por Almiro Pisetta no youtube, há um vídeo onde ele compartilha um pouco do que se lerá no livro. Pesquisando na Amazon, há outros trabalhos do mesmo autor, mas fora do campo da poesia. O tradutor ainda esteve envolvido na tradução da trilogia 'O Senhor dos anéis'.

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