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terça-feira, novembro 21, 2023

Proema: A Flauta de Palheta - RUMI - TRAD. ERIC PONTY

Da flauta de palheta ouve a história que conta;
Que queixa faz dos males da ausência:


"Da selva cama desde mim eles rasgaram,
Os olhos dos homens e das mulheres choraram muito.
O meu peito rasgo e parto em dois,
Para dar, através de suspiros, vazão à minha dor.
Quem de sua pátria foi arrebatado para longe,
anseia por regressar num dia futuro.
Eu soluço e suspiro em cada recuo,
Seja a alegria ou a dor em que os homens se acham. 
Eles pensam que podem ler o meu coração;
Os segredos da dor não os revelo a ninguém.
Os meus suspiros e gemidos formam apenas uma corrente,
Os olhos e os ouvidos dos homens não captam a sua corrente.
A alma e o corpo são um só,
ninguém pode ver a sua alma.

Uma chama é o lamento da flauta; nem um sopro,
Que a chama que não sente, o condena à morte.
A chama do amor, esta, leva a flauta,
O fermento do vinho, o amor; sua língua não é muda.
A flauta do amante ausente não é brinquedo;
O seu som proclama a sua dor, a sua alegria.
A flauta, ou maldição, ou cura, está quieta;
Contente, reclamando, como quiser.
Conta a sua história de dor ardente;
Conta como o amor é louco, em resumo.
O que melhor conhece as dores do amante;
Como o ouvido recebe o lamento da língua.

O seu dia é apenas um amanhecer;
Cada dia de tristeza é um joguete do tormento.
Os meus dias são perdidos; não te importes,
Ainda vos resta a minha alegria.
O dia do pobre parece ser só um dia;
O dia de um pobre parece ser só uma carranca.
Que vantagem tem um conselho para um tolo?
Não desperdices tuas palavras; deixa esfriar tua ira.
Liberta-te dos laços da luxúria; fica livre de tudo.
Não sejas escravo da ganância.
Despejai os rios numa pequena bilha,
20 Que só pode conter o seu pequeno fardo.
O olho é um vaso que nunca está satisfeito;
A ostra está cheia antes que a pérola seja enviada.
O coração que sangra do dardo do amor,
Do vício da cobiça é mantido à parte.
Então vem tu, amor, hóspede bem-vindo; -
Médico tu para acalmar meu peito.
Tu curas o orgulho e a vergonha em mim;
A habilidade do velho Galeno não foi nada para ti
Por amor, esta estrutura terrena ascende
Para o céu; uma colina, para saltar finge.

Em transe de amor, o Monte Sinai treme,
ao descer de Deus, e Moisés treme.
Encontrei o amigo de quem gosto,
imitaria a nota dulcíssima da flauta.
Mas do meu amor, enquanto me afastava,
Só palavras sem sentido eu digo.
A primavera acabou; a rosa foi-se;
A canção de Philo mel está terminada.
O seu amor era tudo; ele, uma nota.
Seu amor, vivo; ele, cisco morto. 
Quem não sente a chama rápida do amor,
é como a ave cuja asa é coxa.
Posso estar quieto, tranquilo, contente,
Quando o meu prazer está longe? Não! Triste.
O amor pede ao meu coração que rompa todos os laços.
O meu coração quebrar-se-ia, com o silêncio maldito.
Um espelho é melhor retratado quando brilhante;
Com a ferrugem, o seu brilho diminui.
Então, limpa essa liga suja;
Brilhante será, assim, o reflexo de cada raio.
O que é que eu não sei fazer?
Tal é o meu caso; cantado muito bem!
RUMI - TRAD. ERIC PONTY
ERIC PONTY - POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA

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