P/Moema
Ó jovem nuvem do viço, ó frescura livre,Com o coração tão leve nos ventos a voar,
Ou brilhar em borrifos espalhados, - eu
Estou triste como o mar em plena atividade;
Eu dei-te à luz, tu voltarás para mim.
O teu coração é leve como o vento vazio
De estéril mudança sem objetivo, - mas eu
Sou a mente lenta e pesada do pensamento:
Eu sou a agonia de formar e achar; -
O trabalho de fluxo da eternidade.
Olhos que voam sobre a paisagem,
Sobre vales, bosques e riachos
Para os reinos das nuvens do céu;
Olhos que vagueiam e sonham,
Esperanças que sempre avançam
Em busca de mais beleza;
O mundo inteiro é teu para vaguear
- Olhar perscrutador e pensamento agitado -
Em nenhum lugar podeis fazer a vossa casa;
Não onde a paz tão vãmente procurada
Que se esconde no vale,
Nem as pequenas aldeias do contentamento;
Nem o vestido garrido do prazer
Tentam-te para uma carícia má
- Pensamentos que não descansam nem ficam –
Sempre lhe dizeis que não;
Ainda assim vagueais - 'Onde, ó dizei,
Onde está a nossa beleza visionária?
DEPOIS DA MÚSICA
O que te permite o teu humor melancólico,
Teu êxtase
Quando mais uma vez os teus domínios te cercam:
E o que te vale a tua coragem,
e a força que tanto desejas;
Tão depressa o teu coração cobarde se vai embora?
Para mais e mais forte luta a nossa força se esforçará,
Embora o melhor bem da esperança
Seja apenas esta esperança: lutar, e lutar igualmente.
Tudo o que nasceu para quebrar
Em sacrifício manso
Por amor de outrem,
Todo o esforço do homem é vão,
Desperdiçado como o preço
Da dor escondida do coração –
Longo, ó pássaro espírito,
Do teu medo solitário
Cantaste sem ouvir
No bosque aceso pela lua da esperança,
Enquanto nenhuma criatura próxima
Não sabia que nem entendia.
I
Levanta-te, ó portador da taça, levanta-te e traz
Aos lábios sedentos a taça que louvam,
Pois parecia que o amor era uma coisa fácil,
Mas os meus pés caíram em caminhos difíceis.
Eu pedi ao vento que o meu coração levasse
A fragrância do almíscar nos seus cabelos que dormem
Na noite dos seus cabelos - mas nenhuma fragrância fica
As fúcsias de sangue do meu coração, o meu triste coração chora.
Ouçam o taberneiro que vos aconselha:
"Com vinho tinto tinge-se o teu tapete de oração!"
Nunca houve um viajante como ele que conhecesse
Os caminhos da estrada e da taberna.
Onde repousarei, quando a noite calma passar,
Além do teu portão, oh Coração do meu coração,
Os sinos dos camelos lamentam e choram:
"Amarra de novo o teu fardo e parte!"
As ondas correm alto, a noite está nublada de medos,
e os redemoinhos de água chocam e rugem;
Como é que a minha voz afogada chegará aos seus ouvidos
Cujas embarcações de carga leve chegaram à costa?
Eu procurei o meu; os anos incansáveis
Que o meu nome é desonrado.
Que manto cobrirá a minha miséria
Quando todas as bocas jocosas ensaiam a minha vergonha!
Oh Hafiz, procurando um fim para a contenda,
Mantém firme na tua mente o que os sábios escreveram:
"Se pôr fim alcançares o desejo da tua vida,
"Põe o mundo de lado, sim, abandona-o!"
O pássaro dos jardins cantou para a rosa,
Recém soprada na clara aurora: "Abaixa a cabeça!
Tão bela como tu dentro deste jardim,
Muitos floresceram e morreram." Ela riu-se e disse
"Que eu nasci para morrer não entristece o meu coração
Mas nunca foi a parte de um verdadeiro amante
"Para atormentar com palavras amargas o repouso do seu amor."
O degrau da taberna será a tua hospedaria,
Pois o sopro divino do Amor só chega àqueles
Que suplicante no limiar empoeirado jaz.
E tu, se quiseres beber o vinho que flui
Do cálice de joias da Vida, vermelho rubi,
Em tuas pestanas teus olhos hão de enfiar
Mil fúcsia por esta temeridade.
Ontem à noite, quando o jardim mágico de irem dormia,
Agitando as tranças roxas do jacinto enrolado,
O vento da manhã através dos becos pisou.
"Onde está a tua taça, o espelho do mundo?
Ah, onde está o Amor, trono de Djem?" Eu gritei.
As brisas não sabiam; mas "Ai de mim", suspiravam,
"Que a felicidade durma tanto tempo!" e choraram.
Não são nos lábios dos homens que se encontra o segredo do amor,
Remota e não revelada a sua morada.
Oh Saki, vem! o riso ocioso morre
Quando tu o banquete com vinho celestial agracias.
Paciência e sabedoria, Hafiz, num mar
Das tuas próprias fúcsias se afogam; a tua miséria
Não puderam calar nem esconder de olhos curiosos.
HAFIZ II - TRAD. ERIC PONTY
Eric Ponty-Poeta-Tradutor-Libretista
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