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segunda-feira, novembro 06, 2023

E carinhoso suave é o som das ondas do sul - Alexander Pushkin - Ttad: Eric Ponty

 

Alexander Pushkin (1799-1837) é, de comum acordo dos seus compatriotas o maior escritor da Rússia. Ele é para a Rússia o que Shakespeare é para a Inglaterra, Goethe para a Alemanha, Dante para a Itália. Viveu na primavera da literatura russa que tinha adquirido a sua língua independente apenas uns quarenta anos antes do seu nascimento. Não existia uma língua, língua antes de Mikhail Lomonosov a ter formulado na sua famosa gramática de 1755. Antes disso, o eslavo eclesiástico coexistia com os dialetos díspares da função pública e da comunidade empresarial. Com o crescimento de um Estado centralizado surgiu uma língua nacional. Neste novo período, os escritores russos apoiaram-se fortemente nos modelos ocidentais, e a nobreza, à qual Pushkin falava francês antes de falar russo.

A fraseologia francesa, muitas vezes na sua forma mais líricas, deixou a sua marca de dramaturgos, romancistas e poetas durante o reinado da imperatriz alemã Catarina, a Grande (1762-96), que gostava de tudo o que era francês, correspondia-se com Voltaire e convidou Diderot para São Petersburgo. Libertou a nobreza do serviço que lhes era imposto por Pedro, o Grande (1672-1725) e encoraja-os a dedicar os seus tempos livres à literatura e nas artes, desde que não pusessem em causa os fundamentos do Estado russo, em particular a servidão. As figuras do Iluminismo no seu país eram presas ou enviadas para Sibéria.

Embora seja incorreto dizer que Pushkin foi o primeiro escritor autentico russo, uma vez que antecessores como o como o fabulista Ivan Krylov e o dramaturgo Denis Fonvizin já incorporavam o vernáculo nas suas obras, no entanto, foi o primeiro a tratar os grandes acontecimentos da história e da sociedade russa de uma forma acessível. Ele emprestou temas e estilos da literatura ocidental apenas para lhes dar novos contornos a partir de uma perspectiva russa. Embora tenha experimentado a maioria dos géneros, era essencialmente um poeta como vemos nesta Elegia em nossa tradução;

Ai de mim! Dizei, porque é que ela brilha tanto 
De terna beleza breve, que logo 
Tão visível se desvanece, declinando 
No viço, assim como mais floresce? 
Ofuscar-se! A vida que a teu viço possui 
Não será dela por muito tempo. 
Não por muito tempo ela estará a chover bênçãos, 
A maior alegria do seu círculo familiar, 
Com uma sagacidade despreocupada, cativante, 
As nossas conversas vão-se alegrando doces, 
E com a sua alma tão calma, tudo cura, 
Alivia a minha alma que está a sofrer. 
A minha melancolia, ocultando 
Com pensamentos nervosos, eu, sobrecarregado, corro 
Para ouvir e escutar tuas frases que animam 
E não me canso de olhar para ela! 
Observo cada movimento que ela inicia, 
Cada som que ela pronuncia, tomo-o por inteiro: 
O mais pequeno momento de separação 
É o maior tormento para a minha alma.

As nuvens esvoaçantes estão a diminuir, 
espalhando-se para longe. Ó estrela da melancolia, 
ó brilhante estrela da noite! O teu raio ensombra 
as planícies, a vasta estepe que se desvanece a passo, 
Da baía que dorme silente, os negros penhascos trajados de prata, 
Eu amo a tua luz fraca na altura do céu cintilando, 
Desperta em mim pensamentos que há muito estavam dormidos, 
A vossa ascensão agarra-se a mim, esfera viva caseira, 
Acima dessa terra pacífica, onde tudo é prezado para o meu coração, 
Onde choupos graciosos brotam altos em vales íngremes, 
Onde murtas tenras e ciprestes escuros dormem, 
E carinhoso suave é o som das ondas do sul, 
Lá, naquelas montanhas, eu, envolto no bater do meu coração, 
"fiquei pensativo, e olhei para o mar, 
E vi a suave sombra da noite a dormir as cabanas, 
E por meio das brumas, ó estrela, para ti, buscando o éter, 
Com o teu próprio nome, uma moça chamou-te às namoradas ansiosas.

Alexander Pushkin - Ttad: Eric Ponty
Eric Ponty-POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA

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