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terça-feira, novembro 07, 2023

Die Sonette an Orpheus: Segunda Parte - Rainer Maria Rilke - Trad. Eric Ponty

 I

Respiração, poema invisível!
Troca constante e pura entre o cosmos
e o nosso ser. Contraponto
em que eu me torno rítmico.

Onda única cujo
mar gradual é o mais suave
de todos os mares possíveis -
que ganha o universo.

Quantas regiões do espaço já estiveram
dentro de mim. Muitos ventos
são como meu filho.

Tu, ar, ainda cheio de lugares outrora meus,
conheces-me? Tu, outrora
na esfera, a folha e a casca lisa das minhas palavras.

II

Tal como, por vezes, a folha de papel mais próxima
veloz capta o traço genuíno do mestre
dos espelhos captam muitas vezes
o sorriso sagrado e único das moças.

quando apreciam a manhã sozinhos
Ou no brilho de velas úteis. E mais tarde 
apenas um reflexo cai
nesse sopro das suas verdadeiras feições.

No brilho lento das brasas em lareiras carbonizadas, 
o que é que os olhos fitaram de uma vez: 
vislumbres de uma vida perdida para sempre.

Ah, a terra, quem conhece as suas perdas?
Só quem, ainda a louvar em voz alta,
cantaria o bom da arte no todo.

III

Espelhos: nunca ninguém te descreveu
tu, sabendo o que realmente és.
Nos interstícios do tempo, pareces cheio
com nada além dos buracos dos filtros.

Vós, ainda os esbanjadores do salão vazio quando
o crepúsculo chega, largo como um bosque...
E o lustre, como um ponteiro de dezesseis pontas, 
Abóbadas onde nada pode pôr os pés.

Por vezes, está cheio de pinturas. Algumas
parecem ter-se infiltrado em ti outras
que mandaste embora tímida.

Mas o mais belo ficará
até que o Narciso liberto
penetre ali aos seus castos beijos.

IV

Oh, esta é a criatura que não existe.
Eles não sabiam que, para além
- o seu pescoço, o seu porte e o seu passo,
até à luz do seu olhar calmo - adoravam-no.

De fato, nunca o foi. Mas como eles amavam
uma besta pura. Deixaram sempre
espaço. E nesse espaço, livre e desbloqueado,
ela levantava livrem a cabeça e mal precisava.

ser. Não o alimentavam com milho,
mas sempre com a hipótese de que poderia
ser. E isso dava-lhe tanto poder,

cresceu-lhe em na testa. Uma mãe.
Chegou aqui a uma virgem, toda branca -
e estava no espelho-prata e nela.

V

O músculo floral da anémona, lenta,
lentamente, abrindo-se para a aurora do seu prado
até que a polifonia dos céus altos
de luz se derrama no seu ventre,

músculo de resseção infinita tenso
na estrela imóvel do desabrochar,
às vezes tão completamente cozinhado
que o apelo do afundamento à calma

mal consegue reconstruir
as bordas das tuas pétalas:
tu, vontade e poder de quantos mundos!

Nós somos os violentos, podemos durar mais tempo.
Mas quando, em qual de todas as vidas possíveis
Somos enfim abertos e receptores?

VI

Rosa entronizada, para eles nos tempos antigos
eras um cálice com um simples anel.
Para nós, és a plena, a incontável floração,
a coisa inesgotável.

Na tua riqueza brilhas como uma cortina
sobre um corpo de nada mais que esplendor;
mas a tua única pétala é ao mesmo tempo a fuga
e a negação de qualquer traje.

Há séculos que o teu perfume nos chama
os seus nomes mais doces para nós;
de repente, ele paira no ar como a fama.

Ainda assim, não sabemos o que lhe chamar, 
estamos a adivinhar ...E a memória leva-lhe
o que implorámos em horas cheias de nomes.

VII

Flores, em última análise irmãs de mãos arranjadoras
(essas mãos de moças de agora e de sempre)
que muitas vezes se estendem de ponta a ponta 
sobre a mesa do jardim, caídas e suave feridas,

à espera da água que o salvaria
mais uma vez dessa morte inicial, e agora
de novo entre os polos fluidos
de dedos solidários que podem fazer

ainda mais bom do que adivinhavam, os leves,
quando se reencontraram no vaso,
arrefecendo lenta, exala o calor das moças como confissões.

de vós mesmos, quais pecados monótonos e cansativos
pecados cometidos ao serdes arrancados, mas qual
um laço de novo com eles, vossos aliados no florescimento.

VIII

falava em silêncio. Quando todos nós estávamos felizes,
não era de ninguém. De quem era?
E como se derreteu naquela multidão esmagadora
e na ansiedade do longo ano.

As carruagens rolavam à nossa volta, estranhas, rígidas
casas à nossa volta, sólidas, mas irreais - e ninguém
nunca nos conheceu. O que é que era real naquele Tudo?

Nada. Só as bolas. Os seus gloriosos arcos.
Nem mesmo as crianças..., mas às vezes uma, qual
um moribundo, passava por baixo da bola que caía.

IX

Juízes, não vos vanglorieis por terdes abolido a tortura
e o pescoço já não está agrilhoado a ferro.
Porque um espasmo planeado de misericórdia vos torce mais
que nenhum coração se alegra, nem um só.

O cadafalso devolverá o que recebeu 
de anos, as crianças oferecem os brinquedos do último ano
brinquedos de aniversário. No coração que é alto, puro,
e aberto como um portão, o deus da verdadeira misericórdia.

entrar de forma diferente. Ele viria agarrado
com poder como os deuses são, e tão radiante.
Mais do que um vento para os grandes navios confiantes.

Não menos do que a subtil compreensão secreta
que nos conquista silenciosa dentro de nós qual
uma criança que brinca tranquila de uma conexão cósmica.

X

Enquanto se atrever a existir como espírito em vez de obedecer,
a máquina ameaça tudo o que ganhámos.
Ela corta a pedra com mais força para uma construção mais determinada
para que não sejamos atraídos pela demora mais bela da mão do mestre.

Em lado nenhum se afasta para que possamos escapar-lhe,
e, lubrificando-se numa fábrica silenciosa, tornar-se a sua própria coisa.
É a vida - acredita que sabe tudo,
e com a mesma mente faz, ordena e destrói.

Mas para nós a existência continua a ser encantada. Continua a ser
em cem sítios. Um jogo de poderes puros que ninguém pode tocar 
e não se ajoelhar e se maravilhar.

Perante o indizível, as palavras ainda se desintegram ...
E sempre nova, das pedras mais trémulas
a música constrói a sua casa divina no espaço inútil.

XI

Homem conquistador avaro, muitas das regras pacatas da morte
foram postas desde a primeira vez que persististe em caçar. 
Eu conheço-te melhor do que um ardil ou uma rede, uma tira de vela
que costumavam pendurar nas cavernas de Karst.

Baixaram-te suaves, como se fosses um sinal
exaltando a paz. Mas então um rapaz torceu a tua borda
- E das grutas a noite atirou um punhado de pombas pálidas a cair na luz.
.
Mas até isso é correto.

Que todo sopro de piedade esteja longe das testemunhas,
não só do caçador que, atento, no momento certo
e cumpre a sua missão.

Matar é uma forma da nossa aflição inquieta...
Para o espírito que é sereno,
o que quer que nos aconteça é correto.

XII

Mudança da vontade. Oh, fica louco pelo fogo
em que algo que se vangloria com a mudança é retirado
de ti; aquele espírito projetante, o mestre do terreno,
não ama nada mais do que o ponto de viragem do símbolo em ascensão.

O que se envolve em resistência já é o rígido;
sente-se seguro nesse despretensioso abrigo cinzento?
Cuidado, de longe o mais duro avisa o mais duro.
E, oh - o balanço de um martelo ausente!

Quem se derrama como uma fonte, é conhecido pelo Saber;
e ela guia-o encantada pela Criação serena
que muitas vezes termina com o começo e começa com o fim.

Cada espaço feliz que eles percorrem, espantados,
são um filho ou um neto da Partida. E a transformada
Daphne, sentindo-se louro, deseja que te transformes em vento.

XIII

Antecipa-te à partida, como se ela estivesse estar
atrás de ti como o inverno que acaba de passar.
Porque entre os invernos há um tão infinito invernal
que, invernando, o teu coração durará real.

Morre para sempre em Eurídice - ressuscita, cantando
mais, louvando mais, ressuscita na pura harmonia.
Estar aqui entre os que desaparecem no reino da entropia,
sê um copo que toca e se estilhaça ao tocar.

Ser - e ao mesmo tempo conhecer a implicação
do não-ser, a base infinita da sua vibração interior,
para que a possas realizar plenamente só desta vez.

A toda a oferta da natureza de coisas mudas, sem palavras,
e também de coisas usadas, as somas indizíveis,
regozijando-se, somam-se e anulam a contagem.


XIV

Olhai as flores, fiéis aos caminhos da terra,
nós emprestamos-lhes o fadário da borda do destino -
mas quem sabe se elas deploram a sua decadência,
cabe-nos a nós ser o seu pranto.

Todos querem flutuar. Mas nós arrastamo-nos como pesos.
Em êxtase com a seriedade, colocamo-nos sobre tudo.
Oh, que professores cansativos somos para as coisas,
enquanto elas prosperam no seu estado sempre infantil.

Se as levássemos para um sono íntimo e dormíssemos
intimamente com as coisas - oh, como ele voltaria
mudado com a mudança do dia, de uma profundidade mútua.

Ou talvez ele ficasse; e eles floresceriam e o louvariam,
o convertido que agora é como um deles,
todas as irmãs e irmãos calmos no vento do prado.

XV

Oh boca-fonte, tu bocas, tu doador,
que falas o inesgotável, o Puro, o Único -
tu, máscara de mármore em frente 
ao rosto que flui da água. E ao fundo

a origem dos aquedutos. De muito longe,
dos túmulos, das encostas dos Apeninos,
trazem-vos o que dizeis, o que, então, 
para além do teu queixo negro e envelhecido,

afinal cai na bacia
antes dele. Esta é a orelha deitada a dormir,
o ouvido de mármore com que sempre falas.

Um ouvido de terra. Ela só está a falar
só com ela mesma. Mete um jarro lá dentro,
parece-lhe que está a interromper.

XVI

Rasgado por nós uma e outra vez,
o deus é o lugar que cura.
Somos afiados porque saberemos
saber; mas ele está disperso e sereno.

Mesmo o puro, a oferenda sagrada
ele não aceita outra forma de entrar 
no seu mundo: imóvel, ele se confronta 
com o objetivo incondicional.

Do poço ouvido por nós aqui, 
só o morto bebe quando o deus 
lhe faz um sinal silencioso, o morto.

Para nós, apenas o ruído é oferecido.
E por um instinto mais calmo,
o cordeiro pede o seu sino.

XVII

Onde, em que jardins regados pelo céu, em que árvores,
de que caleiras amorosas desfolhadas amadurecem os estranhos 
frutos da consolação? Esses preciosos frutos, um dos quais 
encontras talvez no campo pisoteado.

dá vossa pobreza? Vez após vez, maravilha-se
o tamanho do fruto, a sua solidez,
a sua casca tenra, e que um pássaro
ou um verme invejoso lá em baixo não tenha roubado

antes. Haverá então árvores que são reunidas por anjos,
e tão estranhamente criadas por mãos lentas e clandestinas
que nos produzem sem serem nossas?

Sombras e sombras, porque amadurecemos demasiado cedo
e murchamos de novo, será que nunca tivemos o poder
de desordenar a serenidade destes verões serenos?

XVIII

Donzela dançante: oh sua tradução
de uma supressão em ato: como o tornaste claro.
E aquele floreio final, aquela árvore de movimento,
não possuía inteiramente o ano duro?

Não terá ela brotado para que o vosso turbilhão de há pouco
em torno dele, de repente um cume de quietude? Também,
não era verão lá no alto, "não era a luz do sol,
o calor, esse calor incomensurável fora de ti?

Mas também deu, a tua árvore de arrebatamento.
Não são estes os seus frutos tranquilos: o jarro
e o vaso ainda mais maduro?

E nas imagens: o desenho não
perdurava, esse traço escuro que a tua sobrancelha
veloz rabiscada na parede da sua própria viragem?

XIX

O ouro vive algures num banco indulgente
e é íntimo de milhares. Mas até
para um tostão de cobre, desse o cego,
é qual um lugar perdido, um canto 
há mui empoeirado debaixo de um baú.

O dinheiro sente-se sempre à vontade nas lojas
e aparece enfeitado com seda, cravos, peles.
Ele, o silencioso, fica nas paragens de respiração
de todo essa verba que respira enquanto dorme ou se move.

Oh, como é que essa mão sempre aberta se fecha à noite?
Amanhã, o destino puxa-a de novo e mantém-na aberta todos 
os dias: sempre destrutível, miserável, intensa.

Se ao menos alguém, vidente, atónito, abrangesse afinal
o seu valor duradouro e o louvasse. Isso é cantado
apenas pelo cantor. Ouvido apenas pelo deus.

XX

Quão longe entre as estrelas; e, no entanto, quão mais longe
ainda o que aprendemos com o presente.
Alguém, uma criança por exemplo... e outro, um vizinho -
oh, que distância inconcebível.

Talvez o destino nos meça com o tempo
do ser, de modo que para nós parece estranho;
pensa, quantos espaços só de um homem
a uma mulher, quando ela o evita e anseia...

Tudo está longe - e o anel não se fecha em lado nenhum.
Vejam, na mesa bem posta, no prato,
como são estranhos os rostos dos peixes.

Os peixes são estúpidos... pensava-se. Quem sabe?
Mas não haverá afinal um recinto onde talvez o seu discurso
se fale - sem peixes?

XXI

Meu coração, canta os jardins que não conheces,
como jardins claros e inacessíveis em vidro.
Extasiado, canta as rosas incomparáveis
e as fontes de Ispahan ou Shiraz, louva-as.

Meu coração, prova que podes passar sem eles.
Que é em ti que os figos que amadurecem estão a pensar.
Que a tua amizade com as suas brisas entre
entre ramos todos floridos se eleva à altura da visão.

Evite o erro de pensar que está a ser
que estás a ser privado da decisão que um dia tomaste: ser!
Fio de seda, fizeste parte da tecelagem.

Qualquer que seja o padrão de que faz parte mais intrínseco
(mesmo que apenas por um momento na vida da dor),
sente que o todo está destinado, a gloriosa tapeçaria.

XXII

Oh, apesar do destino: o glorioso excedente
da nossa existência a espumar nos parques ou
como homens de pedra escorados sob bakonies
a amontoar as pedras angulares de arcos altos.

Oh, o bronzeado ben erguendo seu cassetete
diariamente contra o monótono.
Ou aquela, em Karnak, a coluna, a coluna
que sobrevive aos templos quase eternos.

Hoje as abundâncias, as mesmas, correm
mas apenas como uma corrida do dia horizontal
de hoje para a noite deslumbrante mais ampliada.

Mas o frenesim passa e não deixa rasto.
Arcos de voo no ar, e aqueles que os controlavam
talvez nada tenha sentido. Mas apenas como pensamento.

XXIII

Pode-me a essa uma das vossas horas
que resiste incessantemente
te resiste: perto como o rosto de um cão
mas virada para trás como sempre,

quando se pensa que foi finalmente apanhado.
O que é levado assim é mais vosso.
Somos livres. Onde pensávamos
que éramos bem-vindos - fomos enviados de lá.

Com medo, agarramo-nos apenas a um ponto de apoio,
nós, por vezes demasiado jovens para o que é velho
e demasiado velhos para o que nunca foi.

Estamos apenas onde elogiamos, no entanto.
Porque, oh, nós somos o ramo e o machado
e a doçura do risco de amadurecimento.

XXIV

Oh, o prazer sempre fresco de um dia solto!
Praticamente ninguém ajudou os primeiros ousados.
No entanto, as cidades ergueram-se de baías felizes,
água e óleo, no entanto, encheram os jarros.

Deuses: primeiro desenhamo-los em modelos ousados
que o destino descontente nos destrói de novo.
Mas eles são os imortais. Escutem, temos de
ouvir aquele que nos ouvirá no final.

Nós, uma geração através dos milénios: mãe e pai
sempre mais cheios da criança do futuro que mais tarde, 
quando nos tiver ultrapassado, se estilhaçará.

Nós, os infinita arriscados, quanto tempo nos pertence!
E só a morte de boca fechada sabe o que somos
e, quando nos empresta, o que sempre ganha.

XXV

Escutem: já se ouve o trabalho
das primeiras enxadas; de novo o ritmo humano
na quietude da terra dura da buganvília
da terra. O que está a chegar não parece

não é fácil para si. O que já veio ao vosso encontro
parece muitas vezes aproximar-se de ti
como se fosse algo novo. Sempre esperaste
mas nunca o agarraste. Capturou-o.

Até as folhas dos carvalhos invernantes
à noite irradiam um futuro castanho.
Por vezes, as brisas trocam sinais.

Os arbustos são negros. Mas os montes de estrume
jazem nos campos, um preto ainda mais rico.
Cada hora que passa torna-se mais jovem.

XXVI

Como o choro de um pássaro pode nos comover ...
Qualquer choro outrora criado.
Mas até as crianças que brincam
ao ar livre choram para além do choro real. . . .,

Acidente de choro. Eles enfiam as cunhas dos seus gritos
gritos nos interstícios do espaço cósmico (em que os 
gritos dos pássaros passam incólumes, como 
os homens passam em sonhos).

Oh, onde é que estamos? Cada vez mais livres,
como papagaios soltos, esfarrapados pelo vento,
corremos em pleno ar, com o riso.

Deus cantor, ordena os gritos,
para que despertem ressoando como uma corrente
carregando a cabeça e a lira.


XXVII

Será que o tempo, o destruidor, existe mesmo?
Quando é que ele vai destruir a torre da montanha pacífica?
Quando é que o demiurgo vai dominar
este coração que sempre pertenceu aos deuses?

Somos realmente tão ansiosamente frágeis
como o destino nos quer provar?
Será que a infância, tão profunda, tão cheia de promessas
nas suas raízes - mais tarde - ainda se faz?

Ah, a aparição da impenitência;
desliza através do inocente
inocente como se fosse vapor.

Como estes que somos, os condutores,
entre os poderes duradouros
nós ainda importamos como um meio divino.

XXVIII

Oh, vai e vem. Tu, ainda mal uma criança,
por um piscar de olhos aperfeiçoa o símbolo da dança
numa pura constelação de dança,
uma delas em que momentâneo nos destacamos

A ordem primitiva da natureza. Pois ela só alcançou
audição divertida apenas quando Orfeu cantava.
Eras tu que, no passado, ainda estavas entusiasmado
surpreendido quando uma árvore demorava tanto tempo.

decidindo se ia entrar no teu ouvido.
Ainda conhecias aquele lugar onde a lira
liras - aquele centro inaudito.

Então experimentou os seus belos passos, esperando
de seguir o olhar e a direção do seu amigo
um dia, em direção a essa celebração restauradora

XXIX

Amigo silencioso de muitas distâncias,
sente como a tua respiração continua a expandir o espaço.
Deixa-te balançar entre as vigas dos campanários escuros. 
O que quer que seja que te ataque

em que crescerás forte com este alimento.
Conhece a transformação por completo.
Que experiência foi mais dolorosa para ti?
Se a bebida é amarga, recorre ao vinho.

Nesta vasta noite, sê o poder mágico
na intersecção dos teus sentidos,
o significado do seu estranho encontro.

E se o terreno se esqueceu de ti
diz à terra parada: Eu fluo.
À água que corre, fala: Eu sou.
Rainer Maria Rilke - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY-POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA

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