Pesquisar este blog

quinta-feira, novembro 30, 2023

Dois Sonetos de Dante Alighieri e um Hafiz - Trad. Eric Ponty

Dante Alighieri

Pois bem se pode saber de um homem,
por caco, se tiver bom senso, que estar bem ali;
Por isso o louvais sem lhe dar nome,
Forte é a minha língua naquilo que fala.

Amigo (filho certo, para que amado
Por amor eu amo), sabe bem quem ama,
Se não é amado, maior é a dor que suporta;

Porque uma tal dor tem debaixo do seu manto
Todas as outras, e basal de cada uma é chamada:
Daí vem a dor que por meio Amor suporta.

HAFIZ

Sabe que toda a alegria é a casa da graça de Deus;
Não me diga, triste Pregador, que para prezar
A beleza da flor ou da canção ou da bela amante,
é renunciar aos doces do Paraíso dum lugar.

Não diga: "O prazer da vida é um laço mortal:
Evitai-o, assim salvaríeis vossa alma viva;
Cega-te, e no templo sombrio dito e luta'.
Toda a beleza é o rosto do teu amado;

A terra, toda bela, é o alegre jardim do Céu.
Para amar a rosa, a bela, o pássaro alegre,
A bela felicidade da vida, onde quer que se ache.
Pra amar a verdade do amor de quem quer seja ouvido,
Esta é a sua fé, que vê com olhos de ver,
A sua adoração e o seu Paraíso sem fim.

Para cima, Sбkн! - deixai fluir a taça;
Derrube com poeira a cabeça de nossa miséria terrena!

Dá-me a tua taça; que, possuído pela alegria,
Eu possa arrancar este manto azul do meu peito

Os sábios podem considerar-me perdido para a vergonha,
Mas não me interessa a fama ou o nome.

Trazei vinho! - Quantas cabeças sem sentido
Que o vento do orgulho espalhou com pó!

Os vapores do meu peito, os meus suspiros tão quentes,
Inflamaram esse enxame rude e insensível

O segredo deste coração louco, eu sei-o bem,
está para além dos pensamentos dos altos e baixos.

E ainda por essa querida encantada estou,
Que uma vez do meu coração fez voar a doçura.

Quem é que a minha Árvore de Silvas viu,
Olharia o cipreste que enfeita o verde?
A beleza destes versos desconcerta o louvor:
Que guia é necessário para o brilho solar?
Exaltai o artista que com o lápis
A virgem, o Pensamento, tão ricamente vestida.
Não há substituto para ela que a razão possa mostrar,
"O prazer da vida é um laço mortal:
Evitai-o, assim salvaríeis vossa alma viva;
Cega-te, e no templo sombrio dito e luta'.
"Nem outro seu juízo humano venha conhecer
Este verso, um milagre, ou magia branca -
Trazido por alguma voz do Céu, ou Gabriel brilhante?
Por mim, como por mais ninguém, são cantados segredos,
Não há pérolas de poesia como as minhas.
Mais uma vez, ó colina feliz e planície pacífica,
Mais uma vez, ó prado amável, ri com alegria:
Agora toda a velha natural da terra é jovem antes.

Mais uma vez o lírio pode ver o seu amante;
Mais uma vez a tulipa ansiosa levanta
Para a rosa cheia de vinho a sua taça de ouro.

Guardai bem as flores, que pela porta da primavera
Entram no teu jardim: antes que não possas mais
Olhai para elas, amai-as, que só vivem para vós.

Saudai-os, antes que passem pelo portão do outono:
Já que para teu prazer Deus as fez,
Contempla-os com alegria, - a mim também, doce coração,

Que só por ti vive; dá-me um
Bem-vindo, uma vez sorri para mim, antes que eu parta.
Trad. Eric Ponty
Eric Ponty POETA - TRADUTOR-LIBRETISTA

Nenhum comentário: