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quinta-feira, outubro 26, 2023

A uma jovem beleza que tomou rapé - PUSHKIN - Trad. Eric Ponty

Como é que isto pode ser? Não são rosas,
É a fantasia do Cupido,
Tulipas no seu melhor,
jasmim perfumado, ou lírio do vale,
Sobre o teu peito de mármore -
Oh Moema, como és perversa...

Costumavas cheirar o aroma da flor da manhã -
Agora é a erva verde
Que a inquieta precisão da moda
Transformou artístico em pó cinzento fino!

Que seja um professor de Marburgo 
com o cabelo pintado de neve,
curvado na sua velha cadeira alta,
a sua espantosa mente aplicada à prosa latina,

Pega, num acesso de tosse, na sua panaceia
E enfia-a no seu venerável nariz;
Que algum jovem dragão de bigode
Vendo a aurora carmesim,
Ainda a sonhar, encha o seu quarto
Com o espesso fumo cinzento do seu amado;

Que alguma velha beleza que perdeu a sua flor,
aposentada do amor, abandonada pelas graças,
O seu corpo sem lugares sem rugas -
Tudo o que lhe resta, sustentado por esteios e armações –

Que ela reze, boceje e bufe
E depare, numa boa pitada, infalível descanso; -
Mas se, minha beleza! ... que tanto gostais dela ...
Se eu - o poder da fantasia! - fosse o material,
E a tua caixa de rapé se fechasse sobre mim...

Então - tu me tomaste uma pitada
Naqueles dedos macios - êxtase! 
Para baixo eu derramava o pó
Dentro do teu vestido de seda,
Sobre o teu peito branco e macio,
Eu derramaria e derramaria até ...
Mas não, um sonho vazio. Essa felicidade
Não é para mim. O destino é cruel. Chega!
Oh, se eu pudesse ser esse rapé!
PUSHKIN - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY-POETA-MESTRE-TRADUTOR-LIBRETISTA

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