Diálogo de Rosie e do capitão
ROSTE PROBERT (SUAVE)
Que mares, pudeste ver então,Tom Cat, meu capitão,
Nos teus dias de marujo
Em tempos cujos lá se vão?
Que monstros marinhos moram
No oscilar das verdes ondas
Onde é foste meu patrão?
Quando Padre Vieira faz sermão,
Convidou peixes pra jazer então.
CAPITÃO CAT
Pois em verdade te digo:
Locas latindo qual focas,
Ondas verdes por desatino,
Mares índigo de velejar poucos,
Águas prenhes de lampreias,
De tritões e de baleias em
Em mares da esquizofrenia!
ROSTE PROBERT
Por que mares amaraste,
Velho Baleeiro que em velas,
Em onda inchada de males
Entre S. Francisco e Gales!
Quando ainda eras meu mestre?
CAPITÃO CAT
Tão certo quanto estou cá,
Teu Tom Cat minha amada,
Minha Rosie porto certo,
Meu conforto sendo afeto,
Ó minha fiel namorada,
Mares tão verdes como vagens
Deslizando como tal cisnes
Ao luar de focas latindo.
ROSTE PROBERT
Que mares te embalaram,
Meu grumete de convés
Em marido preferido com
Essas tuas botas nos pés,
Nestas ânsias na tua fome,
Meu bebé em adorno baleeiro,
Meu formoso marinheiro,
Tendo meu nome na pança,
Quando eras quase criança
Num tempo que lá se vai?
No ninho eras passarinho,
Do qual navegou mundo todo.
CAPITÃO CAT
Não direi palavras chochas:
O único mar que eu via bem
Era o que havia no Vai-e-Vem
Que vai nas tuas coxas.
Quero que deites devagar
Deixes nele eu naufragar.
Canção de MR. Waldo
Quando era moço, em Pembroke City,
Do Castle Keep morava ao pé.
Por seis vinténs eu ajudava
O Limpador de chaminé.
Magros vinténs que me dava,
Nem mais nem menos que um tostão;
Com aquele cobre só comprava
Gin de cenoura com agrião.
Não carecia faca ou garfo
Nem guardanapo no pescoço
Para então comer meu agrião
E beber meu gin no almoço.
Você conhece algum moço
Que andasse assim tão mal de vida,
Sem carne ou osso na comida
E um gin de se chorar até?
Quem quer o limpa-chaminé,
Velava eu pela cidade, em Pembroke City,
Pobre e descalço em plena neve
Que uma mulher teve a dó.
Pobre limpa-chaminé,
Mais sujo e negro do que o breu.
Ninguém me limpa a chaminé
Des que o meu marido me morreu,
Disse corada de emoção,
Venha limpar-me a chaminé
E traga consigo seu escovão.
No Meu Ofício ou Arte Amarga
No Meu Ofício ou Arte Amarga,
Que à noite tarda é exercido
Quando lassos repousam a lua
E lassos são esses amantes
Com dores todas entre os braços,
É que trabalho à luz cantante
Não pela glória ou pelo pão,
Desfile ou feira de prestígios
Por sobre palcos de marfim,
Mas pela paga mais afim
De seus secretos corações!
Não para alguém altivo à parte
Da lua irada é que eu escrevo,
Os salpicados destas páginas
Nem pelos mortos presumidos
Cheios de salmo e rouxinóis,
Mas para amantes, cujos braços
Têm os amargos das idades,
Que não me pagam, nem mais prezam
Nem amam meu ofício ou arte.
DYLAN THOMAS-TRAD. IVO BARROSO & ERIC PONTY



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