AS FLORES DO MAL - TRAD. ERIC PONTY - FARIA E SILVA (SP) NO PRELO 2023
I. DO PÔR DE UM SOL ROMÂNTICO
Que sol está belo quando tudo se fez leve,
Qual explosão que nós somos lançadas bom dia,
Feliz quem desta poderá com esse amor,
Valorosa teu acaso mais glorioso que um sonho!
Recomendar-me! Vi Tudo, Flor, sulco, regos,
Latejar sobre quem ocultou ganso qual cerne palpita...
- Ide vermes horizontais, não tardemos, ide pra cima,
Para traçar ao outro num obliquo dum raio.
Ainda que eu possa em Deus abjurar amado;
A irresistível Noite criou teu acaso agravar,
Negra, Humilde, funesta e plena destas friagens.
Um odor de Tumbas nestas trevas deste nado,
Ao meu pé assusta traçado na margem do pântano,
Dos sapos imprevistos, e, das frias lemas gordos.
IV. LÉTE
Venha ao meu coração, é um tigre, do qual adoro,
Sendo alma anormal, cruel e sem palavras;
Nesta espessura da tua pesada gula
Quero imergir o aperto meus dedos trêmulos.
Quero ocultar o palpitar minha cabeça.
No teu perfume, sob daquelas tuas anáguas,
E respirar o aroma almíscar nosso velho amor,
A fragrância varrida rosa moribunda.
Quero dormir! Dormir e não mais viver sem ti!
E em um sono tão doce como a morte, a sonhar
De espalhar-me meus beijos sem vergonha
Em teu corpo liso, vivo brilho de teu cobre.
Se eu engolisse meus soluços suavizados
Deve ser no abismo profundo da tua cama -
O olvido está umedecendo este teu hálito,
Léte mesmo correndo suave em teu beijo.
Meu destino, de agora em diante que serás
Ti obedeceres como alguém que foi enviado
Ao martírio culpado, quando o tempo todo
Tua paixão atraindo as chamas de teu tormento.
Meus lábios sugaram a cura de amargura:
Olvidar, nepente que tiveste teu início
Nas tetinas enfeitiçastes dos teus seios duros,
Isso nunca foi um porto de teu coração.
V. ÀQUELA QUE É MUITO FELIZ
Sua fronte, seu gesto e seu disfarce,
São como uma bela paisagem;
O rir jogando sobre o seu rosto
Como um vento fresco em céu limpo.
O pássaro mal-humorado
É tonto por seu bem-estar
Declarado com um fulgor
De ombros e braços erguidos.
As cores vivas e cintilantes
Com o qual polvilhe suas toaletes
Implante na mente dos poetas
A efígie de um desfile de flores.
Suas vestes ferinas simbolizam
O humor de muitas cores da sua mente;
Mulher louca com quem estou bravo,
Quem eu amo e ainda desprezo!
Às vezes, em uma feira de jardim
Onde tirei minha apatia,
Eu senti, como ironia,
O sol que meu peito começa a rasgar,
E a primavera e a sua verdura
Tanto o meu coração trouxe mais baixo,
Que puni com uma flor
Toda a audácia da Natureza.
Assim, noite, gostaria de ser, hora voluptuosa,
Aos seus tesouros, ansiada amante,
Um covarde rastejando silencioso,
Para castigar sua carne alegre,
Para ferir seu cerne perdoado,
E surpreenda sua parte mais íntima
Com uma ferida larga, profunda e fresca,
E, o arroubo vertiginoso!
Por meio destes lábios recém obtidos,
Mais formoso e mais apetecido,
Infunda em ti o meu veneno, acatada irmã!
VI. AS JOIAS
Julgando meu coração, minha ansiada nudez,
Sua joia ressonante era tudo o que usava,
Qual rica variedade dei-te a tua atitude
De valioso no harém que vivias de um moro.
Ao dançar, raiando de tuas zombarias,
Este mundo radiante de ouro e pedras
Raptando me aos êxtases destes amantes
Sobre a interação de luzes e dos tons.
Admitido o amor, dúvida fascinante
E do alto divã sorriu em sua facilidade
Na alegria profunda do meu amor como oceano
Montando-lhe como as marés desenham mares.
Um tigre domado, olhos estavam fixos no meu,
Com o ar ausente, se pôs maneiras jovens,
De quem a lisura e a lubrificação acertaram
Fazer charme todas as suas metamorfoses;
Os ombros e os braços, as pernas, as coxas,
Polidas com óleo, sinuosos como um cisne,
Passado pelos meus olhos pacatos e argutos;
Então barriga, peitos, cachos na minha videira,
Vieram, tentando mais do que diabos poderia
Quebrar a paz minha alma reivindicou como própria,
E a perturbares minha morada de cristal
Onde distante, alívio, assumirias o teu trono.
VII. AS METAMORFOSES DO VAMPIRO
Mulher, contudo, tua boca tão macia,
Torce qual uma serpente posta em brasa quente,
E aperta seios contra o teu carrinho de ferro,
Deixa cair expressões saturadas almíscar: -
“Meus lábios ensopados, eu julgo a ciência
De afogo em camas fundas nosso acordo velho.
Eu seco cada fúcsia meus peitos triunfos,
Fazer homens velhos rir riso da criança.
Eu supro, daqueles me veem despir,
A lua, o sol, o céu e as estrelas, e o resto!
Sou asseado erudito, versado dotes do amor,
Quando sofro um homem meus braços repulsos,
Ou quando cedo tuas mordidas meu busto,
Frouxo e libertino, frágil e robusto,
Que sobre colchões desfalecem volúpia,
Os anjos fracos se dariam por mim mesmo! “
Quando meus ossos lhe sugaram na espinha afastada,
E quando então revolvi com tua lentidão
Eu vi, tentando fazer teu beijo amor,
Essa pele cabra lados viscosos, todos cheios pus!
Fechei esses dois olhos, meu ameaçador arrepio,
E quando eu me reabri as luzes vivas,
Ao meu lado, em vez manequim intenso
Quem semelhava ser fornido com sangue,
Havia grãos confusos a alguns pedaços de osso,
Isso chiou ao som do gemido duma gaiteira
Ou o dum sinal de rua em um cabide de ferro
Isso soar na ventania durante essas noites de inverno.
CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY
POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA ERIC PONTY
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