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quarta-feira, janeiro 04, 2023

PEQUENA ANTOLOGIA DE SONNETOS POSTUMOS - TRAD. ERIC PONTY



Miguel de Cervantes Saavedra (Alcalá de Henares, 29 de setembro de 1547 – Madrid, 22 de abril de 1616)[3] foi um romancista, dramaturgo e poeta castelhano. A sua obra-prima, Dom Quixote, muitas vezes considerada o primeiro romance moderno,[4] é um clássico da literatura ocidental e é regularmente considerada um dos melhores romances já escritos.[5] O seu trabalho é considerado entre os mais importantes em toda a literatura,[5] e sua influência sobre a língua castelhana tem sido tão grande que o castelhano é frequentemente chamado de La lengua de Cervantes (A língua de Cervantes)

Soneto

Enquanto desde o jugo sarraceno andou,
Pescoço cativo e o teu pescoço domado,
E aí a tua alma, à de fé abotoada,
Quanto mais rigoroso era, mais firme era.

Céus regozijaram-se; mas a terra estava,
Quase viúva sem si, e, de abandonada,
De nossas musas, dessa real morada,
Da tristeza, choro, solidão mantida.

Mas depois de dar ao solo patriótico,
A Tua alma profícua e a tua garganta solta,
Dentre as confusas forças bárbaras.

Descubra claramente o teu valor o céu,
Mundo regozijar-se com teu feliz regresso,
E cobrou da Espanha às perdidas musas.

Soneto

Saem do mar, e voltam aos seus seios,
Depois de uma corrida rápida e longa,
Qual mãe universal em primeiro lugar,
Dos filhos de estranhos de longa data.

Com partida não faz com que seja menos,
Nem com seu retorno mais brioso e feroz,
Porque ela tem, mantendo-se inteira,
Do seu humor sempre os seus charcos cheios.

Ao mar sois vos, ó Galatea estremada!
Os rios, os elogios, o prémio e os frutos,
Com a qual se exalta a vida mais ilustre.

Por mui que dê, nunca será diminuído,
E menos quando lhe prestam tributo,
Com ele virão pra se verem mais adultos.

Miguel de Cervantes – TRAD. ERIC PONTY
XII

Quando conto às horas do relógio calcula,
E vejo o valente dia cair numa noite ingrata;
Quando vejo a violeta perder tua primavera,
E cachos de jatos de prata branqueada;

Quando árvores perdem as folhas amarelas,
Que do calor nutriam o rebanho na tua rota,
E o cerrado de Verão, já atado em feixes,
É levado no teu caixão com barba em cerdas alvas;

Por causa de vosso encanto, arguo, e, digo a mim,
Que nas ruínas do tempo que vos também irá ainda,
Que dá doçura e da beleza devem ir consigo.

E morrer enquanto de outros cresceram;
Que ninguém contra o tempo pode atalhar olvido,
Exceto um filho para lutar quando se ausenta!

CLIV

Deixou o pequeno deus do amor de lado,
Do dardo que inflama nossos corações,
E algumas ninfas castas encontraram-no,
Ao dormir ali. Sendo há mais bela, então;

Com a mão virginal levou essas chamas,
Que inflamaram tantos nossos corações,
E do geral desde desejo tão fervoroso,
Perdeu, durante o sono, a arma num sopro.

A ninfa mergulhou a chama numa fonte,
E o amor aqueceu as suas águas, de onde vêm,
Para procurar o alívio para os doentes.

Lá fui eu para curar a minha servidão,
E sabia que ainda o amor aqueça a água,
Á água nunca apagará a tua chama.

William Shakespeare – TRAD. ERIC PONTY



(1475-1564) foi um pintor, escultor e arquiteto italiano. É considerado um dos maiores representantes do Renascimento Italiano. "Pietá", "O Juízo Final", "Moisés" e "A Criação de Adão", O "Teto da Capela Sistina" são algumas das obras que eternizaram o artista. É considerado junto com Leonardo da Vinci, um dos artistas mais geniais da história do ocidente.
Michelangelo (1475-1564) nasceu em Caprese, nas vizinhanças de Florença, Itália, no dia 6 de março de 1475. Na escola interessava-se apenas em desenhar. Aos 13 anos torna-se aprendiz no estúdio de Domenico Ghirlandaio, em Florença. Em 1489 ingressa na escola de escultura de Lourenço de Medici, que o hospeda em seu palácio. Convivendo com a elite nobre e intelectual, se empolga pelas ideias do Renascimento italiano.
Escultor, pintor, arquiteto e poeta, o conjunto de sua obra revela um forte apego ao ideal do homem perfeito: "Belo, Bom e Verdadeiro". Teve grande paixão pela escultura, em 1501, iniciou a escultura de "David", o jovem herói bíblico que venceu o gigante Golias, onde tentou expressar seu ideal de beleza física na plena exuberância de suas formas. Foi chamado, juntamente com Leonardo da Vinci, para decorar a "Sala Grande do Conselho, em Florença".
Em 1505, foi para Roma, chamado pelo Papa Júlio II, para reconstruir a Catedral de São Pedro e a edificação de seu mausoléu. Michelangelo foi a Carrara escolher pessoalmente os mármores para seu trabalho. Tão logo começou a obra, desentendeu-se com o Papa e fugiu para Florença. Feita a reconciliação, voltou a trabalhar no sepulcro de Júlio II e realizou uma das suas maiores obras: "Moisés", em cujos traços ele procurou expressar a fisionomia do Papa. Para o mesmo mausoléu esculpiu os "Escravos". A obra ficou inacabada e sobre ela o escultor disse aos 67 anos: "Acho que perdi toda a minha juventude ligado a ela".
Durante o pontificado do papa Paulo III, entre 1534 e 1541, Michelangelo pintou o afresco na parede do altar da Capela Sistina, o "Juízo Final", onde Cristo aparece como um juiz inflexível e a Virgem assustada, não contempla a cena. Nesse afresco, só aparece nus, o que causou grande tumulto e o Papa Paulo IV pretendia destruir a obra, mas contentou-se em mandar o pintor Daniel de Volterra velar os nus mais ousados.
Michelangelo mostrava paixão pela grandiosidade, principalmente na arquitetura. Em 1520 planejou o edifício e o interior da "Capela de São Lourenço". Em 1535, no pontificado de Paulo III, foi arquiteto, pintor e escultor do "Palácio Apostólico" e replanejou a "Colina do Capitólio em Roma", obra que não foi terminada. Em 1552 iniciou a reconstrução da "Catedral de São Pedro", mas só completou sua enorme cúpula. O artista também se dedicou à poesia, escreveu o livro "Rimas". Próximo da sua morte desabafou em um poema "Na verdade, nunca houve um só dia que tenha sido totalmente meu".
Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, morreu em Roma, no dia 18 de fevereiro de 1564. Seu corpo foi enterrado na Basílica de Santa Cruz, em Florença.


17

Tronco cruel, imaturo e impiedoso,
Vestidos com doçura e cheios de amor,
Nasceu a tua fé no tempo, e dura menos,
C'al dolce verno non fa ogni fiore.

O tempo move-se, e divide as horas,
Ao viver nostr’un péssimo veneno;
U' como foice e não' siàn como feno,
..................................

A fé é curta e a beleza não dura,
Mas parece estar a ser consumida,
Como teu pecado quer do meu dano.

..................................
..................................
Sempre entre nós" com todos os anos.

34

A vida do meu amor não é o meu peito,
Quem eu te amo é ser sem coração;
Onde é algo mortal, cheio de erros,
Já não pode ser "ma", nem pensier rio.

Amor em separar a alma de Deus,
Fez-me um olho sagrado e a ti intenso;
Nem pode deixar de o ver no que lê,
De ti, pra nosso mal, meu grande desejo.

Como por fogo a quente, dividir-se,
Não pode da bela eterna toda minha estima,
Quem exalta, de onde vem, quem mais se igualar.

Então aos teus olhos tem todo o paraíso,
Pra regressar ao lugar onde te amei antes,
Eu caio a arder debaixo dos teus cílios.

Michelangelo Buonarroti – TRAD. ERIC PONTY





(1523 - 23 de Abril de 1554) foi uma poeta italiana. Ela é considerada como tendo sido a maior mulher poeta do Renascimento italiano, e ela é considerada por muitos como o maior poeta italiana de qualquer idade. 

Nascida em Pádua, Stampa seu pai, Bartolomeu, originalmente de Milão, foi um comerciante com joias e ouro em Pádua. Quando a Stampa tinha oito anos, seu pai morreu e sua mãe, Cecília, movida a Veneza com seus filhos Pascoli Giovanni, o Cassandra, e Baldassarre, a quem ela educara para a literatura, a música, a história e a pintura. Pascoli Giovanni e Cassandra se destacou ao cantar e tocar o alaúde, possivelmente, dois para a formação pela Tuttovale Menon. No início, os Stampa das famílias se tornou um clube literário, visitada por muitos bem-conhecido Venezianos escritores, pintores e músicos. Quando seu irmão morreu em 1544, a fez sofrer muito, e teve à intenção de se tornar uma freira. No entanto, depois de um longo período de crise, ela veio para "la dolce vita" (a doce vida), em Veneza, e se acreditava ter sido envolvido em um caso de amor com Collaltino di Collalto. Era a ele que ela eventualmente dedicou a maior parte dos 311 poemas ela é conhecida por ter escrito. A relação terminou em 1551, aparentemente resultante do arrefecimento do interesse, e, talvez, em parte devido às suas muitas viagens para fora de Veneza. Stampa ficou devastada. Stampa entrou em uma prostração física e a depressão, mas o resultado deste período é uma coleção de belas, inteligentes e assertivos poemas em que ela vence a Collaltino, criando para si uma reputação duradoura. Pode-se notar, de passagem, que Collaltino só é lembrado por causa da Stampa. Ela deixa claro em seus poemas, que ela usa o sofrimento para inspirar a poesia, daí a sua sobrevivência e a fome. Depois Collaltino, Stampa teve outro amante e pode não ter sido uma cortesã ousada e como alguns acreditam. Há evidências de que ela era uma musicista que realizou madrigais de sua própria composição. Em 1550 Stampa tornou-se membro da Academia de céticos sob o nome de "Anaxilla." Para o final do ano Collaltino retornou a Veneza, e Stampa durante ficou um tempo com ele no seu verão, mas até o final do ano, profundamente deprimida, ela retornou à Veneza, marcando o final de seu relacionamento com Collaltino e o início de um novo relacionamento com Bartolomeu. Entre 1551 e 1552, a Stampa teve um período de relativa tranquilidade. Mas no ano seguinte a sua saúde piorou, e ela passou alguns meses em Florença na esperança de que o clima mais ameno pode cura-la. Então, ela retornou a Veneza, ficou doente, com febre alta, e depois de quinze dias, faleceu em 23 de Abril de 1554. O registo da sua paróquia nota que ela morreu de febre e cólica, e do mal de mare (Veneziana para "doença do mar”). Em outubro de 1554, Pietrasanta publicou a primeira edição de Stampa à poesia, editado pela sua irmã Cassandra. Seus poemas foram publicados postumamente como Rimas. 

III

O caso vulgar pastor gado e apático,
Do garfo férreo da fé eis que Poeta,
Ele, então, virtude é louvado meado,
De quase todos outros fama tolhe.

Que maravilha fia se alça e fracassa,
Basta na vida escrever tanta piedade
Pode ser mais estudo, nosso planeta,
O meu verde, valioso e outeiro alto?

Cuja sagrada, honrada e sombra fatal
Minha dor, quase sofreu tempestade,
Cada estupidez, pouca altura clara.

Lugar baixo é elevado, questão minha
Renova o silêncio, da veia ofusca.
Tanta virtude na alma imporá eu viva!

IV

Quando senhor entrou meu conceito todo,
Planetas em céu, todas às estrelas
Lhes der à graça, talentos daqueles
Pois que foi entre nós apenas perfeito.

De Saturno dessa altura do intelecto.
Júpiter a buscar coisas dignas e belas.
Marte certo ele fez aceso outro homem
Febo o ímpio estilo e astúcia que peito.

Vem e diz que beleza é legendária,
Eloquência Mercúrio; mas que a lua
Que fé mais gelada que não veria.

Desta muita rara à graça toda mim,
A chama de apagar o meu fogo,   
E para relaxar-lhe meu descanso.
Gaspara Stampa – TRAD. ERIC PONTY


Ludovico Ariosto (Régio da Emília, 8 de setembro de 1474 — Ferrara, 6 de julho de 1533) foi um poeta italiano.

Filho de Niccolò, membro do tribunal de Ferrara, e Daria Malaguzzi Valeri. É o maior poeta italiano do romance de cavalaria. Em 1516, publicou a primeira edição do Orlando furioso, poema em oitavas de grande e imediato sucesso. O poema foi apresentado como continuação do poema Orlando apaixonado de Matteo Maria Boiardo. Inicialmente composto por 40 cantos, na edição de 1532 se transformaram em 46. Durante a escrita da obra, Ariosto escreveu também as Sátiras (entre 1517 e 1524 e publicadas postumamente em 1534) e algumas comédias. A característica principal do Orlando Furioso, primeira obra de um autor não toscano na qual é usado o toscano como língua literária nacional, é a trama rica de reviravoltas, na qual os episódios principais se dividem em episódios secundários.

III

O sicuro, secreto que fiel dum porto,
Onde, de grande pélago, duas estrelas,
O mais claro do céu e o mais belo,
Após duma longa e cega porta me seguiram;

Cá eu perdoo o vento e o mar o erro,
Quem me tem com mais graves apegos,
Feito até cá, se não para aqueles,
Não poderia desfrutar de tal conforto.

O querido albergue, O querido quarto,
Que nesta doce sombra me servem,
Para desfrutar de cada noite mais clara.

Olvide erros e desdouros amargos e pertinazes:
Por tal dó, meu peito, está armado pra ti,
Que satisfarão todos os criados e servos.

IV

Que possam ser iguais, são de tuas garras,
E da cabeça e do peito e penas,
Se a nitidez da luz ainda não está lá,
Não reconhecem crianças da águia.

Apenas uma parte, não se iguala a ela,
Que não se espremam os outros:
Natura magnânima, alto costume,
Digno amante sábio pra tomar quão exemplo.

E se pra tua mulher, teu credo deve ser,
Não deve, se ao seu prazer, se ao teu desejo,
Se a todos teus desejos não se conformou.

Não se deforme um desfigurado por mim,
Para que eu seja o mais achegado de vós:
Pois nada há de ser ou tudo deve ser meu.

Ludovico Ariosto – TRAD. ERIC PONTY

Francesco Petrarca[1] (em italiano: Francesco Petrarca; Arezzo, 20 de julho de 1304 — Arquà, 19 de julho de 1374) foi um intelectual, poeta e humanista italiano, famoso, principalmente, devido ao seu romanceiro. Aperfeiçoou o soneto, um tipo de poema composto de 14 versos cuja invenção é atribuída a Jacopo da Lentini. Foi baseado no trabalho de Petrarca (e também de Dante e Boccaccio) que Pietro Bembo, no século XVI, criou o modelo para o italiano moderno, mais tarde adotado pela Accademia della Crusca.

Pesquisador e filólogo, divulgador e escritor, é tido como o "pai do Humanismo".[2] Mas esse grande latinista deve sua fama principalmente a seus poemas, redigidos em língua italiana. 

131

Amaria de cantar o amor de forma tão díspar,
Que eu poderia tirar à força do seu lado duro,
De mil suspiros por dia, e poderia acender,
Na tua mente fria mil desejos profundos;

Amaria de ver teu lindo rosto mudar com presença,
Teus olhos se molhando, e com mais pena,
Virar-me como quem se arrepende tarde demais,
Da amargura de outro e de teu próprio erro;

Para ver essas rosas rubras profundas na neve,
Movida pela brisa, o marfim descoberto,
Que transforma em mármore, que observa de perto,

E tudo o que fez nesta vida muito curta,
Não é um fardo mui pesado, mas glorioso,
Em manter essa duma estação mais madura.

133

Amor me fez quão um alvo para tuas setas,
Quão neve ao sol, quão cera dentro duma fogueira,
E quão a névoa do vento; e cá estou rouco,
Senhora, mendigar misericórdia - e tu não se importa.

De teus olhos surgiu esse golpe mortal,
Contra os quais o tempo e o lugar não são úteis;
Só de vós vem (Tu o tomas de tão leve)
Sol, o fogo e o vento que me fazem tal.

Teus pensamentos são setas e teu rosto um sol,
Desejo, fogo: com estas armas de uma só vez,
Amor me fura, me deslumbra e me derrete;

Em teus cantos angélicos e de tuas palavras,
E com seu doce hálito que não posso resistir,
Ao compor a aura antes da qual minha vida foge.

Francesco Petrarca - TRAD. ERIC PONTY
Dante Alighieri (Florença, entre 21 de maio e 20 de junho de 1265 d.C. – Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321 d.C.)[1] foi um escritor, poeta e político florentino, nascido na atual Itália. É considerado o primeiro e maior poeta da língua italiana, definido como il sommo poeta ("o sumo poeta"). Disse o escritor e poeta francês Victor Hugo (1802-1885) que o pensamento humano atinge em certos homens a sua completa intensidade, e cita Dante como um dos que "marcam os cem graus de gênio". E tal é a sua grandeza que a literatura ocidental está impregnada de sua poderosa influência, sendo extraordinário o verdadeiro culto que lhe dedica a consciência literária ocidental.

Seu nome, segundo o testemunho do filho Jacopo Alighieri, era um hipocorístico de "Durante".[2] Nos documentos, era seguido do patronímico "Alagherii" ou do gentílico "de Alagheriis", enquanto a variante "Alighieri" afirmou-se com o advento de Boccaccio.

Foi muito mais do que literato: numa época onde apenas os escritos em latim eram valorizados, redigiu um poema, de viés épico e teológico, La Divina Commedia ("A Divina Comédia"), o grande poema de Dante, que é uma das obras-primas da literatura universal. A Commedia se tornou a base da língua italiana moderna e culmina a afirmação do modo medieval de entender o mundo.

Essa obra foi originalmente intitulada Comédia e mais tarde foi rebatizada com o adjetivo "Divina" por Giovanni Boccaccio. A primeira edição que adicionou o novo título foi a publicação do humanista veneziano Lodovicco Dolce,[3] publicado em 1555 por Gabriele Giolito de Ferrari.

Nasceu em Florença, onde viveu a primeira parte da sua vida até ser exilado. O exílio foi ainda maior do que uma simples separação física de sua terra natal: foi abandonado por seus parentes. Apesar dessa condição, seu amor incondicional e capacidade visionária o transformaram no mais importante pensador de sua época. 

VIII

Amantes, gemem, próprio amor cá chora,
Ao que escutar do que o faz chorar,
Senhoras do amor lamentam profunda dor,
Mostrando teu luto amargo pelos olhos;

Porque Morte desdenhosa, em peito gentil,
Trabalhando modos cruéis e incansáveis,
Todos despojados, no mundo ganha louvor,
Pra a dama gentil, exceto a parte da honra.

Escutem do que o amor lhe pagou;
Para ele em forma real vi os lamentos,
Acima dessa imagem adorável dos mortos;

Muitas vezes ao céu, ele ergueu a cabeça,
De onde a alma gentil tinha subido,
Tinha sido amante de uma forma tão alegre.

XIII

Todos meus pensamentos sobre fala do Amor,
E têm neles uma grande abundância,
Aquele que deseja teu balanço me obrigue,
Que outro defendeu-se do mal de tua força;

Uma doçura, esperançosa, que me é dada,
Que outra me faz lamentar muitas vezes;
Somente com a ânsia de ter dó é que atendem,
Tremendo de medo que está no meu peito.

Assim, não sei de qual tema devo tratar;
Eu desmaio pois não sei o que vou dizer;
Em tantas perplexidades de amor eu vivo:

Com todos esforços, esforçarei por fazer acordo,
Preciso que do meu inimigo reze,
Minha Senhora Dó, a minha defesa a fazer.

DANTE ALIGHIERI - TRAD. ERIC PONTY



Era filho de Francisco de Argote, jurista e corregedor em Córdoba, e de sua esposa, Leonora de Argote, pertencendo assim a uma das famílias privilegiadas da cidade.

Aos 15 anos foi para Salamanca para cursar os estudos jurídicos e filosóficos na sua Universidade. Cursou a Universidade destacada, e decidindo-se enveredar pela carreira eclesiástica, tomou ordens menores em 1585. Por essa altura já era conhecido como poeta, sendo os seus dotes líricos louvados por Miguel de Cervantes na sua La Galatea.

Iniciou a sua carreira eclesiástica com um emprego na catedral de Córdova, mas a sua vida boémia e a mordacidade de algumas das suas poesias trouxeram-lhe a reprovação dos seus superiores na igreja, sendo-lhe negada a ordenação sacerdotal.

Nesta fase da sua vida viajou consideravelmente por terras de Castela, Navarra e Bahia, tendo vivido em Madrid e Valladolid, granjeando crescente fama como poeta inspirado.

Em 1605 foi-lhe finalmente concedida ordenação sacerdotal e por influência do duque de Sandoval foi nomeado em 1617 para um dos postos de capelão honorário do rei Filipe III de Espanha, fixando-se então em Madrid e passando a frequentar a corte. Diz-se que se arruinou financeiramente com o seu estilo de vida, amante de luxos e de divertimentos, e por ter procurado conseguir cargos e prebendas para quase todos os seus familiares.

Pelos pleitos, documentos e sátiras do seu grande rival, Francisco de Quevedo, sabemos que era jovial e falador, muito sociável e amante do luxo e das diversões profanas, como por exemplo os jogos de cartas e os toiros, a ponto de ter sido muito frequentemente censurado pelo pouco que dignificava os hábitos eclesiásticos. Na época foi tido por mestre da sátira, embora não tenha usado os extremos expressionistas de Quevedo nem as negríssimas tintas de Juan de Tassis y Peralta, o segundo conde de Villamediana, um dos seus melhores discípulos poéticos e de quem foi amigo.

Em 1626, uma grave doença, que lhe prejudicou gravemente a memória, levou-o a regressar a Córdova, cidade onde, sem nunca recuperar a saúde, faleceu. 

A Juan Rufo, de sua “Áustria”

Cantastes Rufo, já, tão heroicamente,
Daquele César, nova augusta história,
Que está duvidosa entre os dois glória,
E a qual se deva dar nenhum assento.

E assim Fama, que hoje de gente em gente,
Quer que dos dois a igual da memória,
Do tempo e do olvido haja duma vitória,
Une do louro a cada qual à frente.

Deveis com grande razão ser igualados,
Pois fostes cada qual único em sua arte,
Ele só em armas, vós em nas letras só.

E ao fim ambos igualmente ajudados,
Ele à espada do sangramento de Marte,
Vós da lira do seu sagrado Apolo.

A Córdova

Oh excelso muro, oh torres consumadas,
Da honra da majestade, da galhardia!
Oh grande rio, grande rei Andaluzia,
De areias nobres, já que não doiradas.

Oh fértil canto, oh serras levantadas,
Que privilegia o céu e doira o dia!
Oh sempre gloriosa pátria minha,
Tanto de plumas quanto de espadas.

Se entre aquelas ruínas e seus despojos,
Que enriquece Genil e Dauro banha,
Tua memória não foi alimento meu.

Nunca mereçam meus ausentes olhos,
Ver teu muro tuas torres e teu rio,
Teu canto e serra, oh pátria, oh flor da espada!

Luis de Góngora y Argote - - TRAD. ERIC PONTY

Charles Pierre Baudelaire (Paris, 9 de abril de 1821 — Paris, 31 de agosto de 1867) foi um poeta boémio, dandy, flâneur[1] e teórico da arte francesa. É considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia,[2] juntamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX. 
Charles Baudelaire - TRAD. ERIC PONTY & IVO BARROSO

Torquato Tasso (Sorrento, 11 de março de 1544 — Roma, 25 de abril de 1595) foi um poeta italiano, contemporâneo de Ariosto, do século XVI, conhecido pelo poema La Gerusalemme Liberata (A Jerusalém libertada), de 1580, no qual descreve os combates imaginários entre cristãos e muçulmanos, no fim da Primeira Cruzada, durante o Cerco de Jerusalém de 1099. Ele sofria de uma doença mental e morreu poucos dias antes de ser prevista sua coroação como o rei dos poetas pelo Papa. Até o início do século XIX, Tasso continua sendo um dos poetas mais lidos na Europa.

A la serenissima signora Margherita Gonzaga, duchessa di Ferrara

Ó noiva real, ao Vosso justo nome,
Nos iluminaria bem a voz e o canto,
Som que antigo Manto ouviu antes,
Pra que tuas grandes virtudes soem veras;

Mas língua, que é seguida pelo pensamento,
Teve algum tempo de doçura a gabar-se,
Cá torna todas tuas notas amargas lágrimas,
Que nem forma toda a forma de alegria.

Pur, se Progne tra’ boschi e Filomena,
Ouvem-se lamentos afetuosos e doces,
Desse teu cisne cantante da morte.

Fortuna ou que azar amargo e maligno,
Que proíbe-me aliviar da minha dor,
Não podes a harmonia do vosso louvor?

[Alla santissinsa Croce, nel Venerdì santo.]

Cruz do Filho, na qual ela jazeu extinta,
Ira do Pai, e a nossa sujeira impura pecaminosa;
Dessa cruz, que sustentou a digna Lagoa,
De sangue precioso aspergido e tingido;

Pra ti foi aberto e raso o palácio profano,
E almas tiradas do horror mais profundo,
Quando triunfou sobre o mundo,
Tem a tua nobre forma em si mesma marcada.

Troféu de gloriosos e belos restos mortais,
Sinal de alta vitória, os sinais tão supinos,
Cedendo mesmo quando fazem céu faceirado:

Para o Rei dos Reis, que criou as estrelas,
Em vós, que escolhi alterar comigo,
Que vida a morte faz, a glória o escárnio.

Torquato Tasso - TRAD. ERIC PONTY


POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA ERIC PONTY

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