CATA-VENTOS
Vento do Sul,Moreno, ardente,
Chegas sobre minha carne
Conduzindo-me a semente
De brilhantes
Olhares, admirados
De flores de laranjeira.
Pões vermelha a lua
E soluçantes
Os álamos seduzidos, mas vens
¡Demasiado tarde!
Hei já enrolado à noite do meu canto
Na estante!
Sem nenhum vento
Creia em mim
Reja, coração;
Reja, coração.
Ar do Norte
Urso branco do vento!
Faz-me caso!
Reja, coração;
Reja, coração.
Ar do Norte,
Urso branco vento
Chegas sobre minha carne
Tremente de auroras
Boreais
Com tua capa de espectro
Capitães
E sorrindo aos gritos
De Dante
Ô polidor de estrelas!
Porém chega
Demasiado tarde
Meu armário está musgoso
Hei perdido a chave.
Sem algum vento,
Creia em mim!
Reja, coração;
Reja, coração.
Brisas, gnomos e ventos
De alguma parte.
Moscas de rosa
De pétalas piramidais.
Alísios destetados
Entre as grosseiras árvores
Flautas na tormenta
Abandona-me!
Tem graves cadeias
Minha lembrança
E este prisioneiro pássaro
Que se esboça com trinos
À tarde.
As passagens que partem não retornam jamais
Juntamente o orbe conhece disso,
E entre o fulgente gentio dos ares
É baldado lamentar-se.
Não é veridicidade choupo, senhor da brisa?
É inculto lastimar-se.
Sem algum vento,
Creia em mim!
Reja, coração;
Reja, coração.
Os embates dum caracol aventureiro
Existe candura infantil
No alvorecer sereno.
As árvores alargam
Seus braços ao chão.
Um sopro tremente
Ganga as sementeiras.
E as aranhas ampliam
Suas passagens de seda
- Confins na limpidez do cristal
Da feição.
Na via
Uma fonte lê
Sua canção entre as chelpas
E o caracol, pacifico
Corriqueiro da vereda
Desconhecido e miserável
A vista observa
A nobre quietude
Da Casta
Deu-lhe coragem e fé
Olvidando-se das aflições
De sua morada
Observar o fim da seda.
Colocou-se a marchar e adentrou-se
Em uma brenha de heras
E de urtigas. No meão
Existia duas rãs antigas
Que recebiam sol,
Enfadadas e doentias.
“Esses hinos atuais
- Murmurava uma dentre elas-
“São incultos. ” Juntos
Amigavelmente – lhe responde
A outra rã-das-moitas, que se achava
Com chaga e quase alucinada
“ Quando nova cria
Que se enfim Deus escutasse
A nossa serenata traria
Dó. E minha noção
Pois já existi assaz
Faz com que não ache.
Eu já não faço serenata...”
As duas rãs se lamentarem
Exorando uma pedincha
A uma rã jovem
Que sobrevém convencida
Espaçando as ervas.
Ante brenha triste
O caracol se terrifica
Quer berrar. Não pode
As rãs aproximam-se dele.
“É uma mariposa? ”
- Diz a pouco mais ofuscada
“Tem dois cornichos”
- A outra rã contrapõe
“É caracol que notarás
Caracol, doutros chãos.
“Chego da minha moradia e quero
Bem já retornar para ela. ”
“É uma peste muito inerme
- Exclama a rã ofuscada
“Não seduzes nunca? ” “Não canto”
Diz caracol. “ Nem faz as preces?
“Também não – Jamais estudei
“ Nem acredita na existência eterna?
“Do que se trata disso?
“É existir eterna
Dentro d’água mais amaina
Perto dum chão florejada
Que argentário manjar escora. ”
“ Quando o garoto me falou
Um dia a minha paupérrima avó
Que, ao padecer, eu partiria
Para unidas folhagens mais tenras
Do arvoredo mais alto.
“ Uma irreligiosa foi tua avó.
O fato te contamos
Nós. Fias nela”,
Falam as rãs irritadas.
“ Por que quis observar a senda? ”
- Soluça o caracol. “Sim, acredito
Para sempre uma existência eterna
Que (me) predicais...”
As rãs
Muito contemplativas, arredam
E o caracol, assombrado
Vai-se arrastando no bosque.
As duas rãs pedintes
Como enigmas ficam.
Uma delas se argumenta.
“Acreditas na existência eterna”
“ Não creio! ” Pronunciando muito triste
A rã chaga e alucinada
“ Por que nos pronunciamos
Ante o caracol que cresse?
“Por que... Me indago a razão
- Pronuncia a rã cega.
“Parto-me de emoção
Ao notar a firmeza
Com que avocam os meus filhos
Deus nos concebe acéquia.
As formigas exclamam
Mexendo as suas antenas.
“Trucidar-te-emos; és
Inerte e perversa
Os afazeres são sua lei. ”
“Observei estrelas”,
Diz a formiga com ferimento.
E o caracol sentencia:
“Deixa que parta,
Prossegui os vossos trabalhos.
É crível que muito preciso
Entregue faleça.
Pela feição dulcifico
Atravessou uma abelha.
A formiga, estertorando
Cheira a tarde enorme
E conta: “ É aquela vai conduzir-me
Uma estrela.
As demais formiguinhas
Evadem ao observe-la morta.
O Caracol anseia
E tonto se arreda
Repleto de confusão
Pelo ensejo do eterno. A senda
Não se finda”- exclama.
“ Quiçá às estrelas
Se abeirar-se por aqui.
Mas minha boa covardia.
Me atalhará de abeirar-se.
Não falemos mais nelas. ”
Tudo jazia brumoso
De sol precário e bruma.
Campanários distantes
Evocam pessoas à igreja,
E o caracol, pacifico
Corriqueiro da senda
Tonto e irrequieto
A vista vê.
Federico García Lorca - TRAD. ERIC PONTY
POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA ERIC PONTY
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