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terça-feira, dezembro 13, 2022

Sonnets from the Portuguese - Elizabeth Barrett Browning - TRAD. ERIC PONTY

 

O POETA-TRADUTOR

De vez em quando aparece alguém que me diz: “Por que você não escreve conto, novela, romance?”. Costumo responder: A vida me levou a me especializar na poesia e, para isso, li muita crítica e comecei a gostar da crítica. Não sobrou mais tempo para nada. Sou o Poeta-Crítico, como escreveu Alceu Amoroso Lima, num belo ensaio publicado em O Jornal do Brasil (22.06.78). Mas não tem faltado também quem me cobra: “Por que você não faz tradução? É coisa da moda. Veja o Haroldo de Campos”. Respondo sempre: Já tentei traduzir Apollinaire, não gostei dos poemas que traduzi: prefiro lê-los no original. Para o livro Defesa da poesia, no prelo, fiz pequenas traduções, mas, como se dizia em Goiás: Fiz para o gasto. Nunca fui tocado por aquele enthusiasmós de que fala Demócrito e que encontro na grande atividade intelectual de alguns amigos, que leio e admiro.  

É o caso de ÉRIC PONTY (1968), o Poeta-Tradutor que reside em São João del Rei, e que, para o seu pseudônimo literário, soube combinar o nome próprio, tirado de algum ancestral escandinavo com o sobrenome de um dos fílósofos da fenomenologia, Merleau-Ponty que, no livro inacabado Le visible et l’invisible (1964), tenta escapar da visão tradicional de sujeito-objeto para mostrar que “o visível se dobra sempre no invisível”, paradoxo que lhe permitia evitar só um tipo de subjetividade. Apesar da possível herança francesa, penso eu que a pronúncia do sobrenome do Éric é mesmo Pônty (paroxítona) e não Pontý, à maneira francesa. Pelo menos eu o trato assim, e nunca me corrigiram.

Esse exercício incansável o leva a estar continuamente às voltas com problemas de métrica, tentando dar ao texto em português o sentido retórico do poema estrangeiro, assunto na imensa maioria das vezes “esquecido” pelos tradutores de poesia que só pensam transpor a forma do conteúdo.  Gente tida como importante, mas que não “ligam” para o ritmo do poema na língua original, como já demonstrei certa vez em O Jornal do Brasil ou em O Globo, já não me lembro bem. 

Não é certamente o caso do poeta-tradutor (e músico) de São João del Rei que se esforça para recompor em português a harmonia rítmica dos Sonnets from the Portuguese, publicados em 1850, com quarenta e quatro poemas, ao contrário da primeira edição, de 1847, Sonnets of E.B.B., com quarenta e três. No soneto XLIII, a poetisa da Inglaterra, que terminou os seus dias na Itália, expressa no mais sublime lirismo a plenitude do sentimento amoroso pelo seu marido poeta. Leia-se os sonetos da série original, na tradução de Eric Ponty: 
Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 2016.

* Professor Titular Emérito da PUC do Rio de Janeiro e da Universidade Federal de Goiás. Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará e da PUC de Goiás. Foi professor de literatura nos seguintes países: Uruguai (Instituto de Cultura Uruguaio-Brasileiro), Portugal (Universidade Clássica de Lisboa), França (Universidade de Rennes e de Nantes), Estados Unidos (Universidade de Chicago) e Espanha (Universidade de Salamanca).  Conferencista em várias universidades, nacionais e estrangeiras. /  É poeta e crítico, Prêmio “Machado de Assis” da Academia Brasileira de Letras; e Prêmio “Juca Pato” (Intelectual do Ano) da União Brasileira dos Escritores de São Paulo. Seus Poemas se encontram reunidos em Hora aberta (Editora Vozes, 2003, 5ª edição). Entre seus livros de ensaios e de crítica se destacam Drummond: A estilística da repetição (4ª. ed.) e Vanguarda europeia e modernismo brasileiro (20ª ed.). /  


Á presente tradução respeitou o contexto dos sonetos da Portuguesa (Sonnets from the Portuguese) onde foram consultadas três edições. Nós optamos pela versão da Complete Works of Elizabeth Barrett Browning (Delphi Classics). Sonnets from the Portuguese publicados em 1850 onde todos versos aparecem em maiúscula  em decassílabos com rima, mas nós deferimos da rima do original para o verso branco como ela fez em Aurora Leigh para não apagar às brilhantes metáforas de Elizabeth Barrett Browning que estavam no conjunto original seguindo um passo diferente dos outros tradutores que traduziram em decassílabos com rima, mas às metáforas originais foram apagadas ficando somente uma linha de trechos da poesia, coisa que não fazia jus à memória e grandiosidade destes sonetos.

Traduzir à sintaxe de Elizabeth Barrett em português é impossível. Ela compôs os Sonetos da Portuguesa em decassílabos, mas ao vertê-los para nossa língua, pedir-se-iam muitas metáforas que são o estilo pessoal da Poeta. O Tradutor optou pela recriação desta sintaxe só se valendo de transposições ou reescritas quando a literalidade se choca com a índole de nosso idioma, e vale à pena lembrar que a Poeta era fã de Luiz Vaz de Camões duma tradução em francês dele.

A recriação é como se à Poeta estivesse escrevendo em português. Isso nos fez usar o metro em dodecassílabo que recuperou estas metáforas preciosas, pois o inglês e monolítico, e haviam versos que em português que transpostos chegavam há 17 silabas métricas, que não poderiam ser apagados de seu jardim poético, por isso a opção de um metro maior que dessa conta dessas metáforas destas silabas métricas. 

 Éric Ponty 2016   
I

Falei uma vez como Téocrito havia nos atraído,
De seus meigos anos, caro e mirado dos anos,
Cada um deles duma airosa mão me aparece
haver um dom dos mortais, quais velhos ou jovens.

E, como eu sopesei que na Tua anosa língua,
Vi, à visão gradual em meio destes meus prantos
Meigo, dos tristes anos, magoados dos anos,
Pessoas minha azada vida, voltas tinham culta.

Logo tinha me cuidado, uma alma em mim
Soluçando, mística à forma eu fiz movê-la
Por trás de mim e ao meu cabelo se avocou.

Voz disse-me com mestria, enquanto eu lutava –
"Acho cá quem detém-te?" - "A morte", diz. Mas, não há
Suave prata em reposta- "Não há morte, mas o amor."

II

Mas tão-só os três em todos Deus que deste universo
Ouvimos termo tu disseste: - ele próprio, ao Teu lado
Falar-te-ia, e a mim escutaria! E me rebateu
Dum de nós... É o que era Deus... Era do opróbrio.

Tão lustres sobre minhas pálpebras punidas,
Meus olhos vertei-a, - se eu tivesse morrido,
Da morte os pesos, postos ali, teriam sidos
Menos há absoluta exclusão. "Não", que é pior.

De Deus do que todos os outros, ó meu amigo!
Homens não podiam ir vida sensual da discussão,
Nem mares nos mudem, nem cheias nos dobrem;

Nossas mãos raiem todas serras ou será apenas:
Céus sejam esmagados dentre nós no final,
São débitos, mas votem mais veloz destino.

III

Ao oposto, nós, ao oposto, Ó principesco imo!
Ao oposto dos nossos usos, de nossos acasos.
Nossos provendo dois anjos olham-se admirados
Em uma doutra, são, por molde, bater-se contra.

As tuas asas passagem. Tu, te oraras, da arte
Dum hóspede de rainhas nos rituais sociais,
São códigos duma centena dos olhos vivos
Prantos podem ser meus, há tua parte à visão.

Deste mestre músico. De que tu tens de que não
Guina à partir do piso das luzes em mim,
Pobre, exausto, errante cantor, tu cantares lado.

No escuro, do encostado ramo dum cipreste?
Missa crismal estás em tua nuca, - meu, orvalho, -
Morte deve arraigar-se nível donde acordaram. 

IV

Tu tens tua aptidão de alguns palácios falidos,
Mais airoso poeta de altos poemas! Onde 
Dançarinos irão rescindir às bases, cuidadas
Verão dos teus mais grávidos lábios maiores. 

Sabes tu ergueres à casa do belho muito pobre,
Na mão de teus? Poderás tu pensar em teres,
Tua música faças daqui ser duma noção
Em dobras doiro à perfeição à minha porta?

Olhe alto e olhe do pivotante partido dos
Morcegos e corujinhas aninham no teto!
Um grilo morrendo contra o teu bandolim.

Silente clamando nenhum eco em meu juízo,
Em desolação! Não há duma voz de que dentro
Gemendo ... como tu saibas cantares ... só, só.

V

Erguido meu coração azarado de solene,
Duma Electra que duma sepulcral Urna,
Olhando em teus olhos, já eu já me quedei
As cinzas destes teus pés. Eis que ei de me ver.

Amplo monte lutos leigos oculto em mim,
São destruição vermelha hão de se exaltares,
Meio gris medial. Se do teu pé desprezado,
Podias pisar fora ao teu crepúsculo total.

Ele pode ser bom quiçá. Mas se em vez disso,
Tu esperavas além mim ao vento quererás soprar-me,
Pó cinzas ao alto…. Os louros de tua cabeça.

Ó meu amado, não irás me abrigar assim,
Nenhum de todas ustões devereis arder
Velo cá abaixo. Erga-se outra voz então. Parta.

VI

Vá por mim. Porém, sinto que irei acudir-me,
Doravante da tua sombra. Jamais deste mais
Sozinha sobre o limite desta minha porta
É a vida particular, da qual eu só governo.

Usos de minha alma, nem erguerei à mão,
São quietudes do sol era como fosse de antes,
Sem da compaixão da qual vós me calardes –
Teu toque na palma da tua mão. Foi maior terra.

Morte tem parte em nós, deixas teu peito ao meu,
Ungidos ao baterem duas vezes. O que faço
E o que eu enleio te incluir, como se dum vinho.

Que têm sabor próprias uvas. Quando eu orar,
Deus pôr mim, Tu escutarás o nome da tua
Verás dentro meus olhos prantos de nós dois.

Elizabeth Barrett Browning - TRAD. ERIC PONTY

POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA ERIC PONTY

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