PERSONA DE LUIZ DE CAMÕES
LEONOR
Descalça vai para ao monte
Leonor pela candura;
Leva na cabeça o mote,
do gesto nas mãos que mata,
Pinta de fino escarlate,
Sainha de chamalote;
Traz o mesmo fruto à sorte,
Mais alva que a neve pura.
Formosura, e não atura.
Se despe a roupa a garganta,
Frigida de ouro entrançado
rosto de alvor de encarnado,
tão bela que a gente espanta
trouxe nela bosque canta
Que dá raça à formosura.
Vai formosa, e não atura.
LIRICA
Amor é trama que arde sem se ter,
são sibila que dói, e não faz crente;
são um viciamento que descontente,
são flor que despetala sem roer.
É um não poder mais que traz querer;
são um falar solitário entre a gente;
são nunca surpreender de contente;
são um velar que apanha em se reter.
É poder estar casto sem vontade;
é servir a quem prende, o ganhador;
é ter com quem nos ata, crueldade.
Mas como penar pode seu ardor
nos corações humildes amizade,
se tão diversa a si é a mesma flor.
ERIC PONTY
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