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quinta-feira, setembro 17, 2020

LÍRICA PESSOAL – SOR JUANA DE LA CRUZ – TRAD. ERIC PONTY - 2020



Prólogo ao leitor, da mesma autora, que fez e enviou com a pressa que os traslados, obedecendo ao superior mandato de sua singular patrona, a excelentíssima senhora Condessa de Paredes, por si chegassem a luz pública: a que tinha tão negados Sor Juana seus versos, como o estava ela em sua custódia, pois em seu poder apenas se disse corretor algum.

 Esses versos, leitor meu,
que ao teu deleite consagro,
e só os têm dos bons agrados
conhecer eu que são maus,
Nem os desculpar quero
nem quero recomendá-los,
Porque isso fora querer
fazer deles muito caso.
Não ao agradecido te busco:
pois não deves, bem olhados,
estimar o que eu nunca
julguei que foram as tuas mãos.
Em tua liberdade te ponho,
Se quereis censurá-los assim;
Pois de que, ao fim, te estás
Neles, estou mui ao fim,
Não há coisa mais livre que
ao entendimento humano;
Pois o que Deus não violenta,
Por que ei lhes de violentá-los?
De quanto quiseres deles,
que, quando mais inumano
me os mordêreis, contudo
me quer às mais obrigado,
Pois lhes deves a mim Musa
ao mais sazonado pranto,
que és o murmurar, segundo
Um adágio cortesão.
E sempre te sirvo, pois
O te agrado, ou não te agrado:
Se te agrado, te divertis; vários
murmuras, se não te cenários.
Bem pudera eu ia dizer-te
por desculpa, que não há dado
Lugar para corrigir-vos
Com pressa dos traslado;
Que vão de diversas letras,
E que algumas, de homens,
matam de sorte o sentido,
que és cadáver o vocábulo;
E que, quando os hei feito,
Há sido em corto espaço
que feriram ao ócio às
pressões de meu estado;
Que tenho pouca saúde
E contínuos embaraços ,
tais, que há dizendo isto,
Que levo a pluma trotando.
Porém tudo isso não serve,
Pois pensarás que me louvo
de que quiçá foram bons
ao fazer-vos feito despacho;
E não quero que tal creias,
Se não só que és ao dar-nos
ao fulgor, tão só por
obedecer a um mandato.
Isto és, si gostas crê-lo,
que sobre isso não me mato,
Pois ao fim farás o quê
se te puseres nos cascos.
E adeus, que isto não és mais dês
Dar-te a mostra do pano:
Se não te agrada a peça,
não desenvolvas ao fardo.

Sobeja crueldade dissimulada, ao alivio, que à esperança dá.

SONETO TRANSCRITO DA EDIÇÃO FACSIMILAR INUNDACIÓN CASTÁLIDA DE DO ANO DE 1689 – FRENTE DE AFIRMACIÓN HISPANISTA, A.C MÉXICO, 1995 DE NOSSO ACERVO.  OBSERVAÇÃO: (RECOMPUS EM MAIÚSCULAS O SONETO PARA QUE TIVESSE A MESMA FORMA DA FONTE.)

(QUE) Diurna enfermidade da esperança,
Que assim entreteres meus cantados anos,
E nos fiéis (QUE FAZEM) dos bens, e os danos,
(FOSTE QUE) Tens um equilíbrio a valança

Que sempre fulpendida na tardança,
De inclinar-te, não deixam teus enganos,
Que cheguem a exceder-te nos tamanhos,
A desesperançarão, (DÁ) Ó confiança:

Quem te há quitado o nobre do homicida?
Pois o éreis mais fibra, se a fé adverti,
Que tanto a pesar na alma divertida;

E entre da inflauta, ó a feliz (DA) sorte
Não o fazes tu, por conservar a vida,
(ASSIM) Fim por dar mais dilatada morte?

Aos vossos olhos se ofereceis
este livro, por ficares
ilustrado a tanto sol,
digno de tanta deidade.
Diverti-los só um instante
És quando aspirar poderás,
que fora mui empreender
atravessá-lo a ocupar-vos.
Como ousar para servir-vos
És cortes temeridade,
defendido em seu escopo
se consagrar ao vosso altar.
Reverente as vossas plantas,
solicita, em seus disfarces,
Não dareis que discorrer,
Sim só o que lhes explicar.
Tão feliz será lido,
que, ufano, dilatará
os instantes de atenção
aos séculos de vanidade.
Fazer-se imortal procura,
que favor tão celestial
se mede na estimação
aos preços da eternidade.
Todo quanto inclusive em si
por decifrados os dá,
porque não és ferro na fé
apresentar, senão duvidar.
A atenção com que se expõe
Não espera que agradeçais;
que, em Vosso culto, ao crer
impeça-vos por não esperar.
Tão resignado o respeito
aos vossos altares vá,
que a primeira oblação
És não ter mais desejo.
A ousadia de atrever-se
Não pretende desculpar,
Que aos busca-los, sua razão
Se elevou sua indignidade.
Um descuido vosso pede,
por que, sendo o livro tal,
não prendeste à atenção
Com ferros da ociosidade.
Muito quer, pois não ignora
que, por natural piedade,
mais cuidado deve ao céu
Ao descuido que é afã.
Mas nem olvidos nem atenções
Poderá este livro lograr,
porque és daqueles indignos
E sóis de desses incapazes.
Como deidades os crer;
Porém, ao ver vossa beldade,
Como fala mais que crer,
se escusa do ignorar.
Tanto infere que, crendo
mais do o possível já,
Há um presume que és sua fé
Menos que sua necessidade.
E sim, por natura,
quanto oculta penetrais,
Tudo o que és conhecer
Já não será adivinhar.

ERIC PONTY

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