(INSPIRADO EM BIBLIOTECA DE BABEL DE JORGE LUÍZ BORGES, GRAMÁTICAS DA CRIAÇÃO, O LEITOR INCOMUM E ARQUIVOS DO ÉDEN DE GEORGE STEINER)
[[Arquivo gigantesco se descortina. Toda a ação transcorre neste pavimento.]].
Arquivista: (solene)
A natureza é código de fonte indefinida, talvez interminável. Em outras dimensões nas possíveis inter-relações do intelecto denomina este Arquivo do Éden. Arquivos do Éden tem a distribuição em pavimentos. Essa distribuição é invariável. Os Arquivos do Éden tem a formação de arquipélago de cujo centro exato é inexato na fronteira. Inacessível sem saber o signo fonte. 0s Arquivistas puros acreditam que os arquipélagos têm a configurações forçosas dos espaços do Éden. Segundo estes arquivistas os pavimentos teriam a divisão de vinte e seis pavimentos, sendo número exato dos esboços anteriores cá criação. Neste pavimento há uma câmera duplicadora de aparências, quando se está no presente instante, no futuro ausente. Colocando-o no aqui aquilo e no agora neste instante que está sendo projetado e captado nas dimensões variáveis do espaço tempo redimensionados ao infinito. Entretanto os arquivistas do Éden...
[Arquivista nota o outro arquivista apressado.].
2 Arquivista: (Interpelar)
Divergências conceitos ilustrativos!
Nietzsche cita Lutero, da imprecisão
de que a divindade criou o universo
num instante de inadvertência
imprecisão.
Divergências conceitos ilustrativos!
Arquivista:
A hipótese por ser afirmada,
na divergência é a propagação.
Lembre-se o Éden por falta de
atenção surgiu instante da criação.
Arquivista e 2 arquivista:
Divergências existem: A hipótese
é sonoridade jorrando a cada temporada,
uma boca a outra boca no gracejo sinistro!
2 Arquivista:
Livro X do Rig-Veda nos adverte:
”Quem pode afirmar de onde nasceu
e de onde surgiu?
Arquivista:
Pretiro acreditar na ilusão da criação
em outro pavimento. A criação simularia
certificaria o ilimitado. Acreditar nas imagens
captadas se duplicariam aos olhos extasiados
é hipótese na dimensão do não-definido.
[2 Arquivista: saí de cena. Arquivista compenetrado]
Arquivista: (solene)
Em todas discussões exigem um leitor.
Todas vozes ecoam num só ouvinte:
Quem Deus comanda? Deus comanda
preenchendo Sua própria solidão? E o homem
esta solidão? Se o homem é imagem exata
teria condições de sanar Sua dimensão
enquanto criatura?
Há também letras secretas do nome de Deus,
essas letras não indicam ou mostram quais
do significado do texto exato da criação.
Toda criação é imperfeita na Sua natureza:
Pássaros poderiam ter quatro asas em vez de duas,
quatro asas estes pássaros atingiriam o absoluto,
o acaso quis da criação, o desleixo do criador,
não percebesse estes pares de asas extras
a determinar o modelo atual não poderia ser
variado.
Tenho comigo os primeiros esboços da criação,
Do Livro dos destinos, do qual se poderia vislumbrar
o nome primevo de Prospéro, e do último Ser a Ser
criado. Esse nome foi riscado do livro. Esse último
Ser é a sintaxe da criação a quem saberá
pronunciar a silaba secreta da inspiração.
A hipótese existir um livro dos livros,
voz de um eco, a fala humana declara
Suas origens no diálogo.
Último Ser ao pronunciar exata silaba
irá nominar um a um os Seres criados
do espaço existido ao espaço
recém enunciado. Antítese será o vórtice
mostrando todos os desígnios, todo Shoah,
depositando omissão do acento diacrítico.
(O terceiro Arquivista: O cético.).
3 Arquivista: (Irônico)
Explicação enuncia modelo sem conclusões,
modelo infinito, detendo-se na justificativa
hipotética acadêmica continuam
por serem desvendados.
Quantos sentidos o intelecto contem
secretos desvelados o presente?
Os intrincáveis signos modelares
somente o sentido das linhas,
o pronunciado a revelar.
Os significados são esboços,
dos vinte e cinco símbolos naturais,
forças dos mares do vulcão,
intrincados mecanismos os modelos revelam.
Arquivista:
Rir de algo tão abstruso meu concidadão,
é o deboche que sentimos todos na alma;
não acreditar nos signos traz alegorias,
sofismar é debruçar sob tão hipotético
símbolos, talvez a razão,
ao aniquilar a hipótese,
É algo terrível.
3 Arquivista:
São vozes comuns sobre o ilógico,
tiro escuro ecoando no neologismo
Se pudesse enxergar, notaria verem
outro concidadão!
Arquivista:
Por que sinto tua partida?
3 Arquivista:
Procuro objetividade. Na objetividade naufraguei a alma.
(0 Terceiro Arquivista sai. Arquivista deve permanecer só)
Arquivista: (Solene)
No arquivo do Éden não há dois esboços idênticos. Partindo das premissas incontestáveis, deduziu-se só existir um modelo ideal. Tudo: A criação é único molde. A obra da criação é acossada por uma sombra dupla: a da própria inexistência, possível ou preferível da desaparição.
Dos desvanecimentos das criações,
há único esboço será de todos conceitos,
meu axioma é a sintaxe da inexistência,
improvável o meu esboço após a mim.
Arquivista catalogador dos esboços,
tento dar algum sentido na ordenação,
tento partir do arcabouço contribuído
da aproximação do sentido último.
Em algum lugar infinitos sofismas,
há esboço da criação diz o exato
conteúdo da vivência do duro
desejo de se perpetuar obra.
(Diversos arquivistas aparecem. Cabalista.).
Coro dos Cabalistas:
Antes de qualquer molde mundano,
encontrava-se ele sozinho, sem forma,
sem assemelhar-se a coisa nenhuma.
Quem pode compreendê-lo antes da
criação? Antes o verbo se fizesse ato?
É por isso é proibido Lhe expressar
o Nome qualquer Imagem ou Esboço
ainda por Uma Única Letra ou Ponto.
Arquivista:
A areia através do vidro fala-nos igualmente desta natureza desafiadora do tempo. É a da palavra escrita, da brevidade do tempo disponível ao lê-la. Até leitores mais obsessivos só conseguem ler a fração minúscula dessa totalidade textual existentes.
(O Tipógrafo mundano entra.).
Tipógrafo Mundano: (Altivo)
Estou exausto em fiar intertextualidades.
Olhos vasculham signo por signo
na infinda angustiante procura
palavras-cadáver que possibilitem
desfigurar-se o significado proposto.
Arquivista:
A escuridão poderia originar-se não
de Sua falta, mas de Sua falta
de atenção.
Tipógrafo Mundano:
O lapso do segundo de concentração
do escriba a quem Deus ditou a Tora
resultou omissão do acento diacrítico.
Arquivista:
Graças a este erratum,
O mal se infiltrou no mundo.
Tipógrafo Mundano:
Niilista profano suprimiria qualquer testemunha
pré-consciente a atividade infinita in absentia
do abismo de Deus, do qual irradiou
a fértil turbulência caótica.
(Tipógrafo mundano sai. Arquivista solene.)
Arquivista: (Solene)
Chardin completou Le Philosophe lisant no dia 4 de dezembro de 1734. A qualidade fundamental deste ato — do leitor investindo-se ao assumir-se de maneira solene, antes de se pôr a ler — tem a ver na qualidade da cortesia. A leitura não é ação casual, impremeditada. Trata-se de encontro cortês, quase nobre, entre a pessoa e uma daquelas "visitas importantes" cuja entrada na casa de simples mortais é evocada por Hölderlin em seu hino "Como num dia festivo" e por Coleridge em uma das glosas mais enigmáticas de A Canção do Antigo Marinheiro.
( Arquivista numa mesa transcreve o texto de Kubla Khan. Toda ação se concentra neste foco. O coro vai entoando a última estrofe desse poema como se fosse à leitura do próprio Arquivista.).
Coro:
Pudessem tocar em mim
tal tom, tal verso,
que eu, adjudico-se
naquele deleite infinito,
melodia levantaria logo
daqueles círculos solares,
com versos aprofundaria
aquelas grutas de neve
que todos olhariam aqui
que todos olhariam lá
gritando: Zelo! Cuidado!
Perspectivo a visão!
Delírio. E os cabelos teus!
Lacrem o anel
o anel
o anel.
Cerrem olhos sacros do temor:
perdeu juízo ao corroborar
Ambrósia bebido o néctar
do Paradiso.
(Entra pessoa de Porlock em silêncio e dirige-se ao Arquivista. Em cena o palco vazio como se a ação
tivesse sido suprimida.)
[[Fim da ação e do simulacro]]
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