XLV. CONFISSÃO
Uma vez, uma só, amável e doce mulher,
Em meu braço teu braço gentil
Se apoiou (sobre o fundo tenebroso da minha alma
Esta lembrança que não se apagou);
É tarde; como uma medalha nova
A lua cheia fulgia,
E a solenidade da noite, como um rio,
Sobre Paris, silenciosa fluía.
E ao longo das casas, sob os porta-cocheiros,
Os gatos passavam furtivos,
De ouvidos alertas, ou melhor, como caros fantasmas,
Nos acompanhavam devagar.
De repente, em meio à livre intimidade
Sob a pálida claridade,
De ti, rico e sonoro instrumento que vibra
A radiante felicidade,
De ti, clara e feliz como uma fanfarra
Que soa dentro da manhã,
Uma nota triste, uma nota bizarra
Escapou, e tudo calou,
Como uma criança suja, horrível, sombria, imunda,
Que a família despreza,
E que, há muito, para escondê-la do mundo,
Esconderam-na em um porão.
Pobre anjo, ela cantava, um canto triste:
“Aqui embaixo nada é certo,
E, sempre, com um gesto qualquer,
Trai o egoísmo humano;
“É duro ser uma bela mulher,
E o trabalho é banal
Da dançarina louca e fria que agita
Com um sorriso maquinal;
“Construir sobre os corações é tolice;
Pois tudo se perde, o amor e a beleza,
Até o Esquecimento colocá-los em seu capuz
E devolvê-los à Eternidade!”
Já evoquei muitas vezes essa lua encantada,
Esse silêncio e esse langor,
E essa horrível confiança sussurrada
No confessionário do amor.
Eric Ponty e Thereza Christina Rocque da Motta
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