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quarta-feira, abril 11, 2018

ROMANCE SONÁMBULO - Federico García Lorca - TRAD. ERIC PONTY

À GLORIA GINER E A FERNANDO DOS RÍOS

Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramos.
O barco sobre o mar
O cavalo na montanha.

Com sua sombra na cintura
Ela sonha em sua varanda,
Verde carne, pelo verde,
Com olhos de fria prata.

Verde que te quero verde.
Embaixo da lua Gitana,
As coisas estão nos observando
E ela não pode olhá-las.

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha,
Chega com o pez de sombra
Que abre o caminho de alba.

A figueira afronta-se seu vento
Com a lixa de seus ramos,
E o monte, do gato noturno,
Ergueu suas pitas agrais
Porém quem verá? E por onde…?

Ela segue em sua varanda,
Verde carne, pelo verde,
Sonhando no mar amargo.

Irmão, quero mudar
Meu cavalo a sua casa,
Minha sela está no seu espelho,
Minha faca por sua manta.
Irmão, venho sangrando,
Desde os portos de Cabra.

Se eu pudesse, mocinho,
Esse trato se encerrava.
Porém eu já não sou eu,
Nem minha casa é minha casa.

Irmão, quero morrer
Decentemente em minha cama.
De certo, se pode ser,
Com lençóis de Holanda.
Não olhas a ferida que eu trago
Desde o peito na garganta?
Trezentas rosas morenas
Leva em tua peixeira branca.

Teu sangue resume em cheirar
Ao arredor de tua franja.
Porém eu já não sou eu,
Nem minha casa é já minha casa.

Deixa-me então subir ao menos
Até as altas varandas,
Deixa-me subir! Deixa-me
Até as verdes varandas.
Até aos trilhos da Lua
Por onde retumba sua água.

Já sobem ante os irmãos
Até suas altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.

Tremulam-se nos telhados
As Lanternas de lata.
Mil pandeiros de cristais,
Machucaram à madrugada.

Verde que te quero verde,
Verde vento, verdes ramos
Os dois irmãos subiram.
O largo vento, deixava
Na boca um raro gosto
De fel, de menta e de manjericão.

Irmão! Onde estás, diga-me?
Onde está tua menina amarga?
Quantas vezes te aguardo!
Quantas vezes te esperara
Cara fresca, negro pelo,
Nesta esverdeada varanda!

Sobre o rosto de cisterna,
Se mexia na gitana.
Verde cama, pelo verde,
Com olhares de fria prata.
Um sincelo de Lua
Á sustenta sobre água.
A noite se possuo íntima
Como uma pequena praça.
Guardas civis machos
Na porta nos golpeavam.

Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramos.
O barco está sobre o mar.
E o cavalo na montanha.

Federico García Lorca
TRAD. ERIC PONTY

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