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sexta-feira, abril 13, 2018

Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni - TRAD. ERIC PONTY



RIME
MIQUEL ÂNGELO

Michelangelo (1475-1564) nasceu em Caprese, nas vizinhanças de Florença, Itália, no dia 6 de março de 1475. Na escola interessava-se apenas em desenhar. Aos 13 anos torna-se aprendiz no estúdio de Domenico Ghirlandaio, em Florença. Em 1489 ingressa na escola de escultura de Lourenço de Medici, que o hospeda em seu palácio. Convivendo com a elite nobre e intelectual, se empolgando pelas ideias do Renascimento italiano.

Escultor, pintor, arquiteto e poeta, o conjunto da obra revela forte apego ao ideal do homem perfeito: "Belo, Bom e Verdadeiro". Teve grande paixão pela escultura, em 1501, iniciou a escultura de "David", o jovem herói bíblico que venceu o gigante Golias, onde tentou expressar-se no ideal de beleza física em plena exuberância das formas. Chamado, juntamente com Leonardo da Vinci, a decorar a "Sala Grande do Conselho, em Florença".

Michelangelo demostrava paixão à grandiosidade, principalmente na arquitetura. Em 1520 planejou o edifício e no interior da "Capela de São Lourenço". Em 1535, no pontificado de Paulo III, foi arquiteto, pintor e escultor do "Palácio Apostólico" e replanejou a "Colina do Capitólio em Roma", obra que acabou não sendo terminada. Em 1552 iniciou a reconstrução da "Catedral de São Pedro", mas só completou enorme cúpula.


O artista também foi dedicado à poesia, escreveu o livro "Rimas". Próximo da morte desabafou num poema "Na verdade, nunca houve um só dia que tenha sido totalmente meu".



Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni, morreu em Roma, no dia 18 de fevereiro de 1564. O corpo está enterrado na Basílica de Santa Cruz, em Florença.


Esses Sonetos Michelangelo di Lodovico Buonarroti, são o maior conjunto traduzido em língua portuguesa. Optei por linguagem moderna não arcaica.

  3

Tão grato e feliz, ao teu feroz mal,
Ostentam e vencem lhe é concebido,
Ou laço, ao peito vou banhar frequente,
Contra vontade, só quando ti vale.

E se danoso suprimir à fecha
Ao signo meu cerne não foi mais junto
Ou saber golpear vingança si mesmo
De que belo olhar, fiar todos mortais.

Quantos laços até mesmo quão redes
Vagando passarinho maligna sorte,
Mora mui anos a morrer infeliz.

Tal qual mim, dona, Amor, como verás,
Para dar-me nesta época cruel morte,
Sem base de meu grão tempo qual vejo.

4

Quanto se goza alegre bem contesta,
Da flor sopra crina doiro guirlanda
Que um outro prévio há outro manda
Tendo qual primo foi beijar julgar.

Contenta tudo em torno aquela vesta,
Que cerra peito põe ao que se expanda,
Mas mais alegre que tira a que goza
Doirada ponta com si faz caráter.

Mas mais alegre que tira a que goza
Doirada ponta com si faz caráter
Que pressionar toca peito se liga.

Á sincera cintura que se amarra,
Meu igual enxuto da corrente sempre
Ou que fazeis coroa dos meus braços?

6

Senhor, vero é algum provérbio antigo,
Isto é bem que pode, mas não queres,
Tu dás crédito ao valor sua palavra
E premiado de ver o seu inimigo.

Eu sou e fui teu bom e servo antigo,
Que a ti são dados como os raios sol,
E do meu tempo não aumenta esmola
E homens gostam mais que fatigados.

Já esperava ascender para tua altura,
E gosto peso desta potente espada,
Pulsa necessidade e não voz do eco.

Mas o céu certa virtude despreza,
Localiza mundo, se dá que outro vá,
Ao prender fruto da árvore tão seca.

10

Fazer elmos dos cálices das espadas,
Ao sangue deste Cristo vende gamelo,
Cruz de espinhos seja um lance à roda,
Pureza de Cristo paciência ao cair.

Mas não chegue mais nesta província,
Que nem André sangue seu está estrela,
Depois que Roma vendeu a sua pele
E eis cada bem fechado nesta estrada.

Se eu haveria querer a perder Tesauro,
Por isto que essa obra minha partida,
Pudesse nem manto Medusa em Mauro.

Mas se alto céu pobreza estimada,
Qual fia nosso estado grão restauro,
Se outro signo apaga há outra vida?

23

Eu que fui já há muitos anos mil voltas
Ferido e morto não ganho exausto
De ti é minha culpa, do início alva,
Repreendê-lo a tua promessa tola.  

Quantas vezes ligada e quantas soltas,
Ao triste membro, sim incitando lado,
Que apenas posso retornar meio anco,
Banhando peito com mui dos choros.

De ti dolorido Amor, com triste fala,
Soltando teu poder, qual necessidade,
Pega-lhe Arco cruel, tirou-lhe voto?

Ao lenho incinerado da serra angústia,
Dentro dum correndo é grão vergonha,
Se perdeu firme cada destreza gesto.

34

Á vida de meu amor não é imo meu,
Que amor de que ti amo sem coração,
Onde a coisa mortal, plena dos erros,
Ser não posso, mas nem lhe pensei mau.

Amor nem repartir alma de Deus,
Me fez santo Olho e tua luz esplendor,
Nem pode vê-lo naquilo que moras,
De ti por nosso mal, meu grão desejo.

Amor nem repartir alma de Deus,
Me fez santo Olho e tua luz esplendor,
Nem pode vê-lo naquilo que moras,
De ti por nosso mal, meu grão desejo.

Como do fogo do caldo, eu divido,
Não posso dum belo eterno minha estima,
Que exalta, onde ela vem, mas semelha.

Por dentro meu olho tudo é Paradiso,
Por retornar onde alma fez Primeva,
Recorro ardendo sob os teus cílios.

17

Cruel, amargo, impiedoso imo
Vestido de doçura e de amar pleno
Tua fé ao tempo nasce, e dura menos
Ao doce vernal não fez todas flores.

Movendo o tempo e repartir-se às horas,
Ao viver de nosso péssimo veneno;
Como foice e não sejas como feno
. . . . . . . . . . . . . . 8

A fé é curta e graça não durável,
Mas de par seco par que se consuma,
Sendo pecado querer de meu dano.

. . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . .
Sempre fazer nós faremos todos anos.

42

Fala-me graça, Amor, se olhos os tens,
Chegando a ver dela beleza aspiro,
Se eu olho dentro quando eu me miro,
Vejo esculpido o rosto que faz desta.

Tu hás de saber que tu vens como dela
Tira cada minha paz onde eu me provoco
Nem quero pequeno um mínimo suspiro,
E nem meus ardentes fogos pedidos.

Beleza que tu vês é bem daquela,
Mas cresce melhor que um local sal,
Se por que olhos mortais d´alma corridos.

Ali se faz divina honesta e bela
Como igual duma tal coisa imortal
Nesta e não àquela que olhos teus percorre.

43

Razão comigo lamenta na dor,
Parte que espero amando essa feliz,
Com forte exemplo e com veras palavras
Minha vergonha fez recordar e diz.

Como nem reportar ao vivo sol,
Outro que morte? E não como feliz,
Mas pouca vantagem esta carece
Não basta outro apoio jaz vitória.

Conhecendo e dano e vero intendo,
Doutra banda refúgio outro coração
Isso me acidenta onde mais que rendo.

No meio das duas mortes, meu senhor:
Nesta não vou e nesta não compreendo
Coisa suspensa ao corpo alma morre.

47

Qual ministro suspirou meus tantos
Ao mundo aos olhos meus há se tirou,
Natura que faz dignar-se volver,
Resta-me vergonha e que vi em pranto.

Mas não como dos outros hoje honram,
Sol a Sol aos morreram e tiraram,
Morte com amor ganhou e tomou tirou,
Na terra viver no céu faz outro santo.

É coisa cria em morte iniqua e real,
Acabar ao som da virtude guarda
N´alma homens belos apures poderão.

Contrário d´efeito iluminam carta
Á vida dos que na vida não se aquecem
Mortal há céu destina não lauda parte.

58

Se imortal desejo alça e corrige,
Que de outros pensem tirar minha força
Talvez, todavia na casa do Amor
Farás pio desumano da guarda.

Mas porquê d´alma divina por lei,
Há longa vida corpo em breve morre,
Não posso sentir louvor ou valor,
É Todo descrever que todo não lê.

Coroa olear-me! E como será ouvida,
Casto desejo que imo dentro incende
Dal que sempre mesmos outros veem?

Á minha cara jornada está impedida,
Meu senhor, está mentindo eu aguardo
Dizer vero, mentiroso é que não crê.

59

Se um casto amor, da piedade elevada,
Se dita entre dois amantes iguais,
Se uma amarga sorte ao doutro cala,
Se uma alma anseio dois imos governam.

Se uma anima em dois corpos faz eterna,
Ambos alçando céu, sendo, com par asas,
Se amor dum golpe dum doiro da fecha
Vices de dois peitos ardem e discernem.

Se amar um outro, e não só há si mesmo
Dum gosto e dum deleite tal pagamento
Com um fim querer dum outro se põe.

Se mil e mil não seriam quatrocentos,
Ao tal nó deste amor e de tanta fé,
E Sol abjeto pode romper e escolher.

61

Se tivesse lhe crido em prima vista,
De que desta alma Fênix ao sol quente
Renovaria fogo meu costumava
Numa última d´era onde tudo ardia.

E mais veloz cervo lince do pardo,
Segue só bem e foge qual que dor,
Em ato, ao riso, as honestas palavras
Terás presa antes onde som já e tardo.

Mas porquê mais causar porquê vejo,
Aos olhos deste anjo alegre e tão só,
Á minha paz, meu repouso, minha saúde.

Talvez que prima este estado perigo,
Vê-lo, ouvi-lo, se será igual ao voo
Cansa me empenha à seguir tua virtude.

62

O Sol puro com ardor caçote ferro arde,
Ao conceito seu caro e bela aflição,
Nem sem fogo algum artista do doiro
Ao sumo grado seu refino e renda.

Nem há única Fênix se repreendeu,
Se não prima ardida onde ardendo moro,
Confio mais próprio ressurgir traz cores  
Que morte acresce ao tempo não se ofende.

Do fogo de que falo eu grão ventura,
Ainda por renovar haver in meu lugar,
Sendo já quase no número de mortes.

Ao ver se alça ao céu ascende por natura,
Ao teu elemento que eu converso in fogo,
Como vergonha cansada não me dou?

63

Sim amigo, pedra fria flama interna,
De que ao trato de que circunscrevê-la
Que arda e quebre em qualquer modo viva,
Prendendo com seu doutro loco eterno.

E se na fornalha dura, estais em verno,
Vencer não é mais valor que prima dá,
Como expurgada entre outra alta e deusa,
Alma nem céu transformasse inferno.

Á coisa trato de mim, se mim dissolve,
Em fogo que mim dentro oculto jogo,
Ardendo extinto haver mais vida posso.

Na Coroa viver, fez fumo e poeira,
Eterno bem ser anunciar o fogo,
De tal ouro e não ferro sem percurso.

66

Por que talvez doutra pena me venha,
Porquê dum outro golpe mais não ria,
Meu próprio valor sem outro guia,
Caduca é alma que se faz já digna.

Nem sei qual militar doutras insígnias,
Não hei de vencer ganhar mais confiança,
Se o tumulto de adverso dum grito
Não pela sobre possa teu não sustenha.

Por que talvez doutra pena me venha,
Porquê dum outro golpe mais não ria,
Meu próprio valor sem outro guia,
Caduca é alma que se faz já digna.

Á carne, o sangue, à lenha, dor extrema,
Justo a vós façais ao meu pecado,
De tal quando nasci e tal foste pai meu.

Teu Sol Bom à tua piedade suprema,
Socorra meu predito iniquo estado,
Ser preso à morte e distante de Deus.

72


Se não volto por olhos no imo olhar,
Outro sinal não eu mais manifesto,
Da minha flama, encurva basta isto,
Senhor meu caro, demandar piedade.


Força o espírito teu com maior fé,
Que não creio, se guarda em fogo honesto,
Que me arde, fé de meu piedoso e cedo,
Como graça abunda há que bem quer.


Ô feliz aquele dia se faz tão certo!
Medido em um momento em tempo e hora,
O dia e sol nessa sua antiga marca.


Acho tu sabes, não é por meu mérito,
Ao desatar, sendo meu doce senhor,
Por sempre que no indigno e pronto braço.


76

Não sei se é desta desatada da luz,
Do seu primo fator que d´alma sente,
Ou se desta memória que desta gente,
Alguma outra graça coração transluz.


Ou fama ou se sinal algum produz,
Aqui olho manifesto coração presente
De que se lancinando um não consente
Que é talvez ou que ranger me conduz.


Daquilo que sinto e que cerco e me guia,
Meco não é, nem só bem um tipo donde,
Falar mal possa, e, por um doutro mostre.


Isto senhor, me ocorre que vi viver,
Que um doce amaro um si e não me comove,
Tão claros serão que estado olhares Vossos.  

Michelangelo  Buonarroti

TRAD. ERIC PONTY

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