São Versos louvor, conceitos esparsos,
Engendrados d´alma em meus zelosos,
Parte de meus doídos abrasados,
Com mais flores liberdade surgida;
Expostos ao mundo em que vão perdidos,
Tão certos olvidaste são trocados
Que só donde fossem já engendrados
Foram-se ao sangue versados pelo mundo:
Pois lhes furtais ao labirinto à Creta,
Ao Dédalo dos altos chamamentos,
Á fúria ao mar, às flamas ao abismo!
Se daquela áspide formosa aceita,
Deixa à terra, entreter os fortes ventos,
Descansareis em vosso centro mesmo.
II
Quando imagino meus breves dias,
Aos mui que ao tirano Amor me atreve,
E em meu cabelo antecipar à neve,
Mais que os anos, às tristezas minhas.
Vejo que são suas falsas alegrias
O Veneno no cristal razão bebeu,
Por quem o apetite voraz se atreve
Vestido em mil doces fantasias.
Que ervas do olvido há dado gosto
À razão, que, sem fazer seu artificio
Quer contrarrazão satisfazer-te?
Mas consolar-lhe pode meu desgosto,
Que és desejo do remédio indicio,
O Remédio de amor querer vender-lhe.
III
Musa se te aborreço, hei que há condeno
O que estes desta sorte em meu sentido:
Que infama ao ferro ao escorpião ferido,
E há quem o fora, mancha imundas cinzas.
Sois feita agulha mortíferos veneno
Que dana há quem o verte inadvertido;
É no fim, és tão mal e destemido
Que há um para aborrecido não sois bons.
Teu aspecto à minha memória ofereço,
Ao que com susto contradizer peço,
Por dar-me eu uma pena que mereço:
Pois quando ti considero o que disse,
Não só a ti, corrida, te aborreço,
Porém foste mim tempo que te quis.
IV
Em minha dor tão mortal tal ferida,
Dum agravo de amor me lamentava;
É por ver si minha morte se chegava,
Procurava que fosse mais crescida.
Dum agravo de amor me lamentava;
É por ver si minha morte se chegava,
Procurava que fosse mais crescida.
Tudo que no mal n´alma fez divertida,
Pena por pena em sua dor me somava,
Cada circunstância ponderava
Que sobravam mil mortes há uma vida.
Pena por pena em sua dor me somava,
Cada circunstância ponderava
Que sobravam mil mortes há uma vida.
E quando, ao golpe dum e outro me firo,
Rendido ao coração dava, penoso,
Senhas darem-se o último do suspiro.
Rendido ao coração dava, penoso,
Senhas darem-se o último do suspiro.
Não sei com que destino prodigioso
Volvi em meu acordo e dizendo: Me admiro?
Quem louvar-te há sido mais que ditoso?
Volvi em meu acordo e dizendo: Me admiro?
Quem louvar-te há sido mais que ditoso?
ERIC PONTY
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