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terça-feira, março 06, 2018

PAUL VERLAINE - Poemas - TRAD. ERIC PONTY

NA CLAREZA DA LUA

Vossa alma é qual uma vista esquisita,
Qual querem subjugar disfarces e das danças,
Tocam teus alaúdes, giram, quase tristes,
Debaixo logram fantásticos disfarces.

E, entretanto, vão cantando, em tom menor,
Do amor vitorioso e vida desta cumprida,
Não tem o aspecto crer em toda tua desgraça,

Tua canção se perdeu no clarão da Lua,
E num claro da lua formoso fez tal paz,
Onde, dentre ramagens, sonham todos pássaros.

E soluçaram em êxtases em todas fontes,
Com frescos jogos d’águas destes mármores.

O AMOR POR SONHOS

No vento noturno derrubou daquele Amor
Nos sorriam mais misteriosos do parque,
Então iam traçando malignamente teu arco,
E cujo aspecto tanto nos intrigara um dia.

O vento, doutra noite, derrubou. E o vento
Dum dia aglomerar pó do mármore. Triste
Resultou o pedestal, donde um nome de artista,
Apenas se decifra à sombra desta tua árvore.

É tristeza ver-te erguida e só do pedestal,
Chegam e vão sombrios em teus pensamentos
E dentre meus sonhos, há um pesar profundo,

Anunciava-se um prevenir ermo dum fatal.
É triste, sim. E tu mesma resultas comovida,
Ante tal quadro, ao do qual teus olhos frívolos
Sigam a mariposa que, ouro e púrpura, voa
E por entre dos resíduos conservam passeio.

EM SORDINA

Tranquilas à penumbra
Proporcionam os ramos,
Encharcam nosso amor
Dum profundo silêncio.

Fundam-se almas, latidos
Sentidos exaltados
Na vaga languidez
Dos arbustos e pinheiros.

Entornam, pois, teu olhar,
Dos braços põem num peito,
Coração fez dormido.

Lançam vagos anéis,
Deixem persuadir,
Sopro avassalador,
Teus pés vêm rezar
Vaivém roxo céspede.

Quando, pompa, à tarde
Baixo negros robes,
Voz em desalento,
Entoam ao teu cantar.

COLÓQUIO SENTIMENTAL

Por daquele velho parque, ermo glacial,
Das sombras vão cruzar faz-se do momento.
Daquele velho parque tão ermo e glacial,
Os Fantasmas lhe evocam este teu passado.

— Recordas, todavia, os êxtases de antes?
— Há vem, agora, careceria recordá-los?
— Bate teu coração só ouvir meu nome?
É minha alma, teu sonho, que vês? — Não.

— Ah, gentil dia indizível alegria,
Nos dois uníamos bocas! —Poderia ser.
— Quando era céu azul, esperança infinita!
— Espera partiu, rumo aos céus nublados.

De Ombro com ombro se iam, da Avena insana,
E tão só noite ouviam entre tuas palavras.

PAUL VERLAINE
TRAD. ERIC PONTY

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