Vossa alma é qual uma vista esquisita,
Qual querem subjugar disfarces e das danças,
Tocam teus alaúdes, giram, quase tristes,
Debaixo logram fantásticos disfarces.
E, entretanto, vão cantando, em tom menor,
Do amor vitorioso e vida desta cumprida,
Não tem o aspecto crer em toda tua desgraça,
Tua canção se perdeu no clarão da Lua,
E num claro da lua formoso fez tal paz,
Onde, dentre ramagens, sonham todos pássaros.
E soluçaram em êxtases em todas fontes,
Com frescos jogos d’águas destes mármores.
O AMOR POR SONHOS
No vento noturno derrubou daquele Amor
Nos sorriam mais misteriosos do parque,
Então iam traçando malignamente teu arco,
E cujo aspecto tanto nos intrigara um dia.
O vento, doutra noite, derrubou. E o vento
Dum dia aglomerar pó do mármore. Triste
Resultou o pedestal, donde um nome de artista,
Apenas se decifra à sombra desta tua árvore.
É tristeza ver-te erguida e só do pedestal,
Chegam e vão sombrios em teus pensamentos
E dentre meus sonhos, há um pesar profundo,
Anunciava-se um prevenir ermo dum fatal.
É triste, sim. E tu mesma resultas comovida,
Ante tal quadro, ao do qual teus olhos frívolos
Sigam a mariposa que, ouro e púrpura, voa
E por entre dos resíduos conservam passeio.
EM SORDINA
Tranquilas à penumbra
Proporcionam os ramos,
Encharcam nosso amor
Dum profundo silêncio.
Fundam-se almas, latidos
Sentidos exaltados
Na vaga languidez
Dos arbustos e pinheiros.
Entornam, pois, teu olhar,
Dos braços põem num peito,
Coração fez dormido.
Lançam vagos anéis,
Deixem persuadir,
Sopro avassalador,
Teus pés vêm rezar
Vaivém roxo céspede.
Quando, pompa, à tarde
Baixo negros robes,
Voz em desalento,
Entoam ao teu cantar.
COLÓQUIO SENTIMENTAL
Por daquele velho parque, ermo glacial,
Das sombras vão cruzar faz-se do momento.
Daquele velho parque tão ermo e glacial,
Os Fantasmas lhe evocam este teu passado.
— Recordas, todavia, os êxtases de antes?
— Há vem, agora, careceria recordá-los?
— Bate teu coração só ouvir meu nome?
É minha alma, teu sonho, que vês? — Não.
— Ah, gentil dia indizível alegria,
Nos dois uníamos bocas! —Poderia ser.
— Quando era céu azul, esperança infinita!
— Espera partiu, rumo aos céus nublados.
De Ombro com ombro se iam, da Avena insana,
E tão só noite ouviam entre tuas palavras.
PAUL VERLAINE
TRAD. ERIC PONTY
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