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quarta-feira, fevereiro 07, 2018

MISSAS HEREGES - Pela alma de Don Quijote – 1908 - Evaristo Carriego – TRAD. ERIC PONTY


Com o mais repousado e humilde continente,
De contrição mui sincera, suave, discretamente,
Por não incorrer em enganos de engenhosos normais,
Sem deboches enjoados nem atitudes teatrais
De cómico rebelde, que, encenando na comparsa,
Ensaiando o canto trágico que chorará na farsa,
Dedico estes sermões, porque assim, porque quero,
Ao único, ao Supremo Famoso Cavaleiro,
Há quem eu peço que sempre me tenha de sua mão,
Ao santo dos Santos Don Alonso Quijano
Que agora está na Gloria, e na destra do Bom:
Seu dulcíssimo irmão Jesus O Nazareno,
Com as desilusões de suas cavaleiras
Renegando de todas nossas picardias.
Porém estou há temer que venha algum mentiroso
Com suas sátiras amáveis de enganador maldoso,
Ou com mordacidades de socorram daninho,
E se descubram, tão grave como ironicamente,
Da sandice de Sancho se chama ironia,
Que meu amor ao Mestre se converta em mania.
Porque assim vão as coisas, as mais simples crenças
Requerendo o visto bom e o favor da Ciência:
Se a ela não se acolhe não se prospera e, acaso,
Seu próprio nome se perde para tornar-se caso.
E não vale a pena (Não sendo um pretexto fútil
Com o qual se pretenda rechaçar algo útil)
De que se tome há sério o vago, o ilusório,
Os credos que não tenham odor ao sanatório.
As frases de anfiteatro, são estigmas e motes
São propícias às raças de Cristos e Quixotes
Não sendo mui os dignos de sofrer o desprezo,
Do aplauso tonante do abdômen do neceio
Nestes bravos tempos em que os hospitais
Da higiénica moda que dão soros doutorais
Sapientes catedráticos, até os dentistas práticos
Consagram infalíveis cenáculos e escolas
De graves professores, em cujos dicionários
Não hão de ler seus sonhos os pobres visionários
Dos dois grandes loucos se hei cansado a gente:
Assim, santo Mestre, eu hei visto ao reluzente
Pardo de teu escudeiro passar irrisoriamente,
Levando os despojos que houveste conquistado,
Em tanto que na bola, e que é nada reluzente,
Andando há um sem cavalo em teu triste Rocinante!
TRAD.ERIC PONTY

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