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quarta-feira, fevereiro 07, 2018

MIGUEL DE UNAMUNO - SONETOS - TRAD. ERIC PONTY

AO TOQUE DA ORAÇÃO

Campainhas do passado que não passam,
Lhe dais língua de bronze, peregrino,
Que uma vida descanso aqui, em minha casa,
Os ouço me chamais; de meu caminho.

Volto a vista ao céu onde incendeia,
Destas nuvens sol ali adivinha,
Antes de ser fui, quando minha massa
Era parte deste ígneo torvelino.

Findar-se oração nada fez sombra,
Ao seu irmão de aliado, dos receios,
Com à luz morrem, morre o cego brio.

Desta cega batalha e na verdura,
De Deus se abrem as flores dos céus,
De que caiu à esperança qual relva.

TODA À VIDA

A manhã deste florido de maio,
Abriu-se as asas úmidas de sonho,
E do nascente sol ao tíbio raio
Ao ar se entregou. E sobre o risonho.

Faz do natal arroio filho o ensaio,
Primeiro de suas asas. Do empenho
Toma já, retorno. Breve desmaio
Apoiando filho pétala tranças.

Dum afunilar. Se empenhou à derrota,
Desta efêmera vida em louco brilho,
Desses voos faltos de intenção alguma.

Para morrer, sem conhecer à noite,
Abatida por pedra dum menino,
Das nativas d´agua em uma cama.

NIHIL NOVUM SUB SOLE

Coloca tua mão, há que disse, sobre meu ombro,
E avança atrás de minha pois fenda se estreita;
Por entre ruinas caminhamos, o escombro,
E pisando do qual foi castelo cuja flecha.

Penetrava nas pardas nuvens eram assombro,
Dos caminhantes. Que avigora nos observa
Desta rubra torre aquela nem alguém chama
Por medo de atrair nossa. De ti que se desenha.

As das vãs ilusões; dum futuro marchamos,
Que foi usado já pelos outros; não me atrevo,
Com engano a guiar tua vida; tropeçamos.

Com passado ao avançar, tudo se renova;
Os brotos e dos secos são os mesmos ramos,
Hão de havido já, nada havendo de novo.
TRAD. ERIC PONTY

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