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sábado, fevereiro 10, 2018

Michelangiolo Buonarroti - SONETOS - TRAD. ERIC PONTY

III

Grato e feliz, dos ferozes males,
Ostentam e vencem foi concebido,
Ou laço, ao peito vou banhar frequente,
Contra minha cobiça, só quando vale.

E se danoso suprimir a fecha,
Signo do meu cerne não foi mais junto,
Saber golpear vingança si mesmo,
Do belo olhar, e fiar todos mortais.

Quantos laços até mesmo quanta redes,
Vaga passarinho por maligna sorte,
Mora mui anos a morrer infeliz.

Tal de mim, dona, Amor, como verás,
Á dar-me nesta época cruel morte,
Sem base meu grão tempo como vejo.

IV

Quanto si goza alegre bem contesta,
Da flor sopra crina doiro guirlanda,
Que um outro prévio há um outro manda
Como se primo vai beijar julgar.

Contenta tudo em torno aquela vesta,
Que cerra peito põe da que si expanda,
E que com fios douro si convida,
Guanche ajusta sonhar não abandonar.

Mas mais de alegre tira que goza,
Doirada ponta com si faz caráter,
Que pressiona e toca peito se liga.

A sincera cintura que se amarra,
Meu igual enxuto que corrente sempre,
Ou que fazeis coroa dos meus braços?

VI

Senhor, vero é dalgum dito antigo,
Isto é bem que pode, mas não queres,
Tu dás ao crédito ao valor tua palavra,
E premiado de ver o teu inimigo.

Eu sendo e fui teu bom servo antigo,
Que a ti são dados como raios sol,
E do meu tempo não aumenta esmola,
E homens gostam mais que fatigados.

Esperava ascender há tua altura,
E gosto peso da potente espada,
Agita precisão não há voz do eco.

Mas céu que certa virtude despreza,
Localiza mundo, se dá que outro vá,
Ao prender fruto da árvore tão seca.

X

Se faz de elmos cálices e espadas,
E sangue de Cristo se vende gamelo,
Cruz de espinhos sejam um lance a roda,
Pureza Cristo paciência cai.

Mas não chegue mais nesta província,
Que nem André sangue seu está estrela,
Depois que Roma vendeste tua pele,
Eis cada bem fechado nesta estrada.

Se haveria querer perder Tesauro,
Por isto que se obra minha partida,
Pode que nem manto Medusa em Mauro.

Mas se alto céu pobreza estimada,
Qual fia de nosso estado grão restauro,
Se outro signo apaga há outra vida?

23


Eu que fui já muitos anos mil voltas,
Ferido e morto não ganho exausto,
De ti minha culpa, de início branco,
Repreendê-lo tua promessa tola.

Quantas vezes ligada e quantas soltas,
Triste membro, sim incitando lado,
Apenas posso retornar meio anco,
Banhando peito com muitas das lágrimas.

Ti dolorido Amor, com triste fala,
Solta teu poder, que necessidade,
Pega arco cruel, tirou-lhe voto?

Lenho incinerado serra angústia,
Dentro dum correndo é grão da vergonha,
Perdeu firme cada destreza gesto.

34

A vida de meu amor não é imo meu,
Que amor de que ti amo sem coração,
Onde a coisa mortal, plena de erros,
Ser não posso, mas nem lhe pensei mau.

Amor nem repartir alma de Deus,
Me fez santo Olho tua luz esplendor,
Nem pode vê-lo naquilo que moras,
De ti por nosso mal, meu grão desejo.

Como do fogo caldo, elas dividem,
Não posso belo eterno cada estima,
Que exaltar, onde ela vem, mas semelha.

E por dentro meu olho tudo paraíso,
Por retornar onde alma fez primeva,
Recorro ardendo sob os teus cílios.

17

Cruel, amargo, impiedoso imo,
Vestido de doçura e de amar pleno
Tua fé ao tempo nasceu, e dura menos,
Ao doce vernal não faz todas flores.

Movendo tempo e repartir-se horas,
Ao viver nosso péssimo veneno;
Como foice e não seja como feno
. . . . . . . . . . . . . . 8

A fé sendo curta e graça não dura,
Mas de par seco par que se consuma,
Como pecado de querer de meu dano.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Sempre de nós fará com todos anos.

42

Fala-me da graça, Amor, se olhos tem,
Chegando ver dela beleza aspiro,
Se eu olho dentro quando me miro.
Vejo esculpido rosto que faz desta.

Tu hás de saber que tu vens com ela,
Tira minha paz onde eu me provoco,
Nem quero pequeno mínimo suspiro.
Nem meus ardentes fogos pedidos.

Beleza que tu vês é bem daquela,
Mas crescendo melhor que um local sal,
Se por que olhos mortais d´alma que corre.

Ali se faz divina honesta e bela,
Como igual duma tal coisa imortal
Nesta não aquela que olhos teus percorre.
TRAD. ERIC PONTY

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