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sábado, fevereiro 10, 2018

Luis de Góngora y Argote - SONETOS - TRAD. ERIC PONTY

A Juan Rufo, de sua “Áustria”

Cantastes Rufo, já, tão heroicamente,
Daquele César, novo augusta história,
Que está duvidosa entre os dois glória,
E a qual se devas dar nenhum assento.

E assim Fama, que hoje de gente em gente,
Quer que dos dois a igual da memória,
Do tempo e do olvido haja duma vitória,
Uniu do louro a cada qual à frente.

Deveis com grande razão ser igualados,
Pois fostes cada qual único em sua arte,
Ele só em armas, vós em nas letras só.

E ao fim ambos igualmente ajudados,
Ele à espada do sangramento de Marte,
Vós desta lira do teu sagrado Apolo.

A Córdova

Ô excelso muro, Ô torres consumadas,
Da honra da majestade, da galhardia!
Ô grande rio, grande rei Andaluzia,
De areias nobres, já que não doiradas.

Ô fértil canto, Ô serras levantadas,
Que privilegia o céu e doira teu dia!
Ô da sempre gloriosa pátria minha,
Já tanto de plumas quanto destas espadas.

Se entre aquelas ruinas teu despojo,
Que enriquece Genil e Dauro banha,
Tua memória não foi alimento meu.

Nunca mereçam de meu ausente olhar,
Ver teu muro tuas torres teu rio,
Teu canto e serra, pátria, flor da espada!

Duma enfermidade de Dom Antônio de pazos, bispo de Córdova

Deste mais que a neve, branco touro,
Robusta honra que deste gado meu,
E destas aves dois, que ao novo dia,
Saúdam de havê-lo com o doce choro.

A ti ele mais rubro, Deus do alto coro,
Tuas estranhas faço oferenda pia,
Sobre este fogo, que vencido envia,
Teu fumo de âmbar e tua chama douro.

Porque a tanta saúde foi restituída,
O nosso sacro e douto pastor rico,
Que dum dos que ao nascer que estão em vão.

Já que das três coroas já neste unido
Ao menos do maioral do Tajo, e sejam
A Planta abrigo, arminhos a pelica.

Do Márquez de Santa Cruz

Não em bronzes, caducam, mortal mão,
Ô católico Sol dos gananciosos,
(que já entre gloriosos capitães
És a deidade armada, Marte Humano.)

Esculpirão maduros, senão vãos,
Quando descobrir queira tua fadiga,
E as bem que reportadas bandeiras,
Do Turco, do Inglês, deste Lusitano. 

Em um mar de tuas velas coroado,
Teus remos ao outro escarnecido,
Tábuas serão coisas já tão estranhas.

Da imortalidade ele não cansado,
Pincel os logre, sejam tuas rojadas
D´Alma do tempo, d´espada do olvido.

A Don Luís de Vargas

Teu (cujo ilustre dentre um outro muro,
De imperial cidade, pátrio edifício,
Ao Tajo olha em teu húmido exercício,
Pintar os campos e doirar vos a areia).

Marginaliza aquele Lauro boa hora,
Aqueles dois (já mudas de ofício),
Relíquias doces do gentil Salício,
Heroica lira, pastoral aveia.

Chegadas, Ô claríssimo mancebo,
Ao douto peito, da tua suave boca,
Punindo lei ao mar, do freio aos ventos.

Sucedeu todo castelhano Febo,
(Agora és glória muita terra pouca),
Na pátria, em profissão, em instrumentos.

Na morte de duas senhoras monjas irmãs naturais de Córdoba

Sobre as urnas de cristal tão lavradas
De vidro em pedestais tão sustentadas
Chorando estão ninfas já sem vidas,
O Betis em tuas húmidas moradas.

Tanta tua formosura Dele amá-las
Que ao que as demais ninfas doloridas,
Se mostram de teu terno fim sentidas,
Ele derramado lágrimas de cansadas.

- Almas – lhes disse – vosso voo santo,
Seguir penso até estes sacros ninhos,
Do bem se goza sem tremer contrário.

Que vista esta beleza em meu grão canto,
Pelo céu nós seremos convertidos,
Que de gémeas vós outras, já em Aquário.
TRAD. ERIC PONTY

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