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quinta-feira, fevereiro 08, 2018

Insônia - Dámaso Alonso - TRAD. ERIC PONTY

Madrid é uma cidade de mais de um milhão de cadáveres (segundo as últimas estadísticas).
Às vezes na noite eu me remexo e me incorporo neste ninho no que faz 45 anos que me apodreço,
E passo largas horas ouvindo gemer do furacão, o ladrar dos cachorros, o fluir brandamente à luz da lua.
E passo largas horas gemendo como o furacão, ladrando como um cão enfurecido, fluindo como o leite do úbere quente duma grande vaca amarela.
E passo largas horas perguntando à Deus, perguntando por que se apodrece lentamente em minha alma,
Por quê se apodrecem mais dum milhão de cadáveres nesta cidade de Madrid.
Por quê mil milhões de cadáveres se apodrecem lentamente no mundo.
Diga-me, em que horto quer abonar com nossa podridão?
Temendo que se te sigam os grandes rosais do dia,
As tristes açucenas letais de tuas noites?
TRAD. ERIC PONTY

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