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domingo, fevereiro 11, 2018

De Atlas - Jorge Luis Borges - TRAD. ERIC PONTY

A deusa gálica
Quando Roma chegou a estas terras últimas e ao seu mar d´aguas doces indefinido e sendo interminável, quando César e Roma, esses deuses claros e altos nomes, chegaram, a deusa de madeira queimada já estavam aqui. A chamariam Diana o Minerva, de maneira indiferente dos impérios que não são missionários e que preferem reconhecer e anexar as divindades vencidas. Antes ocuparia seu lugar numa hierarquia precisa e seria a filha dum deus e a mãe de outro e a vinculariam aos dons da primavera ao horror da guerra. Agora a cobiça se exibe dessa curiosa coisa, dum punhado. Nos chegando sem mitologia, sem a palavra que foi sua, porém com o olvidado clamor de gerações hoje sepultadas. É uma coisa direita e sagrada que nossa ociosa imaginação possa enriquecer irresponsavelmente. Não oraremos nunca as pregarias de seus adoradores, não saberíamos nunca os ritos.
Jorge  Luis Borges
César


Aqui, o que deixaram os punhais.
Aqui essa pobre coisa, um homem morto,
Que se chamava César. Lhe hão aberto,
Chagas na carne os metais.
Aqui a atroz, aqui a destemida
A máquina usada fazer a glória,
A escrever e executar a história
E que para se goze pleno da vida.
Aqui também outro, daquele prudente
O imperador que se recusou lauréis,
Que comandou batalhas e navios
E foi horror e foi inveja da gente.
Aqui também o outro, o sucessor
Cuja grande sombra será a orbe inteira.

Jorge  Luis Borges

TRAD. ERIC PONTY

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