Pesquisar este blog

domingo, setembro 07, 2025

POESIA CHINESA DA ANTIGA DINASTIA - TRAD. ERIC PONTY

 A ANTIGA REUNIÃO da tradição oral chinesa é O Livro dos Cantos (Shih Ching), uma antologia de 305 poemas. Esta coleção foi compilada, segundo a lenda cultural, por ninguém menos que Confúcio (SSI a 479 a.C.), que selecionou os poemas de um total de cerca de 3.000 reunidos nos vários estados da China, cada um dos quais falava seu próprio dialeto. Os poemas são tradicionalmente datados entre os séculos XII e VI a.C., mas qualquer poema na tradição oral evolui ao longo do tempo, e as origens dos primeiros poemas de Shih Ching, sem dúvida, remontam a muito além do século XII. Os Cantos podem ser vistos como uma epopeia do povo chinês, desde as origens da primeira dinastia histórica da China, a Shang (datas tradicionais de 1766 a 1122 a.C.), até o desmoronamento da Dinastia Chou (1122 a 221 a.C.) na era de Confúcio, um período durante o qual a cultura chinesa passou por uma transformação fundamental de uma sociedade teocrática espiritualizada para uma sociedade humanista secular.

A vida religiosa na Dinastia Shang concentrava-se na adoração de ancestrais, e os imperadores Shang governavam em virtude de uma linhagem familiar que os conectava a Shang Ti, lit. "Senhor Supremo" ou "Senhor Celestial", um deus monoteísta muito semelhante ao deus judaico-cristão, pois ele criou o universo e controlou todos os aspectos de seu processo histórico. No sistema mitológico que dominava a cultura Shang, os governantes eram descendentes de Shang Ti e, portanto, podiam influenciar a forma como Shang Ti moldava os eventos por meio de seus ancestrais espirituais, controlando assim todos os aspectos da vida das pessoas: clima, colheita, política, economia, religião e assim por diante.

De fato, o povo chinês não se sentia substancialmente diferente dos espíritos, pois o reino humano era conhecido como uma extensão do reino espiritual — uma situação muito semelhante à do Ocidente judaico-cristão, onde as pessoas se consideravam almas imortais, espíritos apenas temporariamente presentes em um mundo material antes de serem para o céu, seu verdadeiro lar espiritual.

Por fim, os governantes Shang tornaram-se cruéis e tirânicos, muito odiados por seu povo, e foram depostos pelos Chou, um povo que vivia na fronteira com Shang e que havia adotado recentemente a cultura chinesa. Os conquistadores Chou se depararam com um problema óbvio: se a linhagem Shang descendia diretamente de Shang Ti e, portanto, tinha o direito absoluto de governar a sociedade chinesa, como os Chou poderiam justificar sua substituição e como poderiam legitimar seu governo aos olhos do povo Shang? A solução foi reinventar Shang Ti na forma do Céu, um poder divino impessoal do cosmos, encerrando assim a reivindicação dos Shang à legitimidade por linhagem. Os governantes Chou então proclamaram que o direito de governar dependia de um "Mandato do Céu": assim que um governante se tornasse indigno, o Céu retirava seu Mandato e o conferia a outro. Esse conceito foi um evento importante na sociedade chinesa: o primeiro investimento de poder com um imperativo ético.

Os primeiros séculos da Dinastia Chou parecem ter cumprido esse imperativo admiravelmente. Mas a dinastia Chou acabou naufragando porque seus governantes se tornaram cada vez mais tirânicos e careciam da fonte metafísica absoluta de legitimidade dos Shang: se o Mandato pudesse ser transferido a eles, obviamente poderia ser transferido ao mesmo tempo. Os governantes dos estados que compunham o império tornaram-se cada vez mais poderosos, reivindicando cada vez mais soberania sobre suas terras, até que por fim se tornaram nações virtualmente independentes.

O resultado do colapso "metafísico" da dinastia Chou foi, sem surpresa, excessivamente físico: a guerra. Houve lutas implacáveis entre os vários estados e rebeliões frequentes dentro deles. Essa situação interna, tão devastadora para o povo, continuou a se deteriorar após Confúcio compilar o Shih Ching, até que afinal levou ao colapso da dinastia Chou dois séculos e meio depois.

Na época de Confúcio, a antiga ordem social havia ruído totalmente, e os intelectuais chineses começaram a lutar para criar uma nova.

Nas ruínas de um grandioso monoteísmo que dominou a China por mais de um milênio, uma situação nada diferente da do Ocidente moderno, esses pensadores criaram uma cultura humanista terrena: Confúcio e Mêncio elaboraram suas dimensões políticas, Lao Tsé e Chuang Tsé, suas dimensões espirituais.

O Pássaro Preto-Enigma

O céu ordenou que o pássaro Preto-Enigma
descesse e desse à luz Shang,
nosso povo habitando terras sem limites e além,
então nosso Senhor Celestial ordenou que o corajoso e forte T'ang
pusesse limites para os cantos mais longínquas de nossas terras,
e o fez governar essas terras,
essas nove regiões com esplendor.
Assim, T'ang, primeiro imperador de Shang,
recebeu o Mandato. Sempre seguro,
passou agora para os filhos de Wu Ting
filhos de Wu Ting, para seus filhos e netos,
nossos imperadores corajosos e vigorosos,
nada que não consigam superar.
seus senhores com estandartes de dragão
desfilando grãos para o sacrifício,
seu domínio de milhares de quilômetros
oferecendo apoio seguro ao povo.
Ele expandiu as fronteiras de nossa terra 
até os quatro mares, e agora dos quatro mares vem
homenagem, uma homenagem tão farta.
E nossa fronteira mais longínqua é o rio.
O fato de Shang ter ganho o Mandato foi devido, 
certo e carecido, e suas centenas de bênçãos jazem.

Shih Ching

Majestosos, ó ancestrais

Majestosos, ó ancestrais majestosos
em chamas, moldando as bênçãos
generosidade que se estende sem parar
sem limites em suas terras:
nós lhe trazemos vinho cristalino
e vós respondeis com as nossas preces.
Trazemos sopa bem temperada,
nos abordamos atentos e serenos
e nos serenamos em uma homenagem silente,
abandonando todos os conflitos,
e o senhor alivia nossas sobrancelhas doridas,
deixando a velhice arder sem limites.
Cubos velados e arnês embutido,
oito sinos de fênix tilintando,
oferecemos sacrifício e homenagem.
O Mandato que auferimos é vasto e intenso.
É do Firmamento - essa rica facilidade,
esta vida abundante em colheitas.
Oferecemos homenagem e tu aceitas,
Enviando-nos boa sorte sem limites,
honrando o outono e o inverno
são essas ofertas dos filhos de T'ang.

Shih Ching

 天地英雄氣
千秋尚凜然
勢分三足鼎
業復五銖錢
得相能開國
生兒不像賢
淒涼蜀故妓
來舞魏宮前

O templo do primeiro rei de Zhu

Seu espírito heroico ainda permeia
o céu e a terra.
Por mil anos,
ele continuou a inspirar.
Sua ascensão histórica completou
o tripé de poderes na terra.
Sua grande tarefa foi
restaurar a cunhagem de Han.
Com a ajuda de seu primeiro-ministro 
ele fundou um reino.
Mas o filho que ele criou
não era um herdeiro digno.
Como são tristes e lamentáveis
moças cantoras do antigo Shu,
que vieram dançar
em frente aos palácios de Wei!

Liu Yuxi

EM UMA TORRE AO LADO DO LAGO


O mistério silencioso dos dragões ermos é sedutor,
os chamados dos gansos migrantes ecoando nas abscissas,

Encontro o céu, incapaz de voar entre as nuvens,
encaro um rio, todas profundezas além de mim.

Simples demais para aperfeiçoar a Integridade
e fraco demais para arar campos em reclusão,

segui um salário aqui até a beira do mar
e fiquei deitado notando as florestas, lebre e vazias.

Aquela cama de doente me deixou cego para as estações,
mas, ao abrir a casa, de repente estou

olhando para fora, ouvindo o surfe em uma praia
e contemplando os picos das altas montanhas.

Um sol quente está desvendando os ventos do inverno,
o novo yang está se abrindo, demudando o velho yin.

As margens dos lagos se demudam em gramíneas na primavera
e os salgueiros do jardim se demudam em aves cantores:

Neles, as canções antigas me assombram com
bandos e bandos e totalmente vivazes e verdes,

A habitação isolada tão prontamente se torna eterna.
É difícil pôr o pensamento tão distante,

mas não é algo que os antigos dominem sozinhos:
Essa serenidade é evidente em toda parte aqui.

YUNG-CHI A, 422-23


Verde é o véu supino,
Verde com um forro amarelo!
A tristeza do meu coração, -
Como pode cessar?

Verde é o véu supino,
Verde o véu alto e amarelo o raso!
A tristeza do meu coração, -
Como pode ser olvidada?

O verde [tingido] foi a seda; -
Foi tu quem fizeste isso.
[Mas eu penso nos antigos,
Para que eu não atente erros.

Linho, fino ou grosso,
É frio quando usado ao vento.
Penso nos antigos,
E encontro o que está em meu peito.

綠衣 - Lu Yi

 RETORNANDO AO MEU ANTIGO LAR

Nós nos mudamos para a capital em outra época,
parece que só voltamos para casa depois de seis anos

Hoje, nosso primeiro dia de volta,
me entristeço. Coisas tristes estão por toda parte agora.

Os campos com terraços jazem inalterados,
mas na vila, casas inteiras meramente

ofuscar-se. E, ao pisar, encontro antigos
vizinhos, em sua maioria mortos. Demoro meu tempo

procurando o que durou, vestígios
que eu persisto com inveja. Dia após dia,

os cem anos da vida fluem como uma ilusão,
no quente e frio se afastam um do outro.

Abarbando velhos medos, a Grande Transformação
acabará comigo antes que meu hálito do ch'i se ausente,

Eu me solto - me solto e olvido tudo.
Um pouco de vinho ainda me dá vida.

T'ao Ch'ien



 
Lago Oeste

Um dia eu me sento à beira do lago. 
Um dia eu fico de pé perto do lago. 
Um dia eu me deito à beira do lago.

Yuze Hovg-dao

Havia o painço com suas cabeças caídas;
Havia o painço sacrificial que estava 
se transtornando em lâmina.
Eu me movia lento,
Em meu coração, todo comovido.
Aqueles que me conheciam,
Diziam que eu estava triste de peito.
Aqueles que não me aceitavam,
Diziam que eu estava buscando por algo.
Ó céu distante e azul!
Por qual homem isso adveio?

Havia o painço com suas cabeças caídas;
Havia o painço sacrificial na orelha.
Eu me movia lento,
Meu coração estava empeçonhado, 
por assim dizer, [de tristeza].
Aqueles que me aceitavam,
Diziam que eu estava triste de coração.
Aqueles que não me aceitavam,
Diziam que eu estava buscando por algo.
Ó tu, céu distante e azul!
Por qual homem isso adveio?

Havia o painço com suas cabeças caídas;
Havia o painço sacrificial em grãos.
Eu me movia lento,
Como se houvesse uma parada em meu peito.
Aqueles que me aceitavam,
Diziam que eu estava triste de coração.
Aqueles que não me aceitavam,
Diziam que eu estava buscando por algo.
Ó céu distante e azul!
Por qual homem isso adveio?

黍離 - Shu Li


 A LUA SOBRE A MONTANHA EMEI

No outono, observa-se que a lua sobre o Monte Emei 
surge apaixonada cheia.
Teu reflexo invade as águas calmas do rio Qing.
À noite, ela se abrange acima do fluxo vivo em direção às Três Gargantas,
Pensando em te, que não posso ver em Yuzhou.


Li Bai

DESCENDO DO ZHONGNANERG

Ao entardecer, desço da montanha esmeralda,
A lua da montanha me segue em minha passagem para casa.
Mas quando olho para trás e vejo a passagem que percorri,
Verde e vasto ele se desdobra pelas colinas azuis.
Eu ando de mãos dadas com o eremita até sua casa rural,
Crianças abrem o portão coberto de arbustos.
O bambu verde emoldura a passagem isolada,    
E videiras azuis passam por minhas roupas.
Palavras alegres acham um lugar de repouso,
O vinho fino é dividido com alegria.
Longas canções convidadas na brisa com aroma de pinho,
A música completa com apenas algumas estrelas no rio.
Eu fico ébrio, você fica alegre,
Na beleza despreocupada, olvidamos o mundo.

Li Bai

 DIÁLOGO NAS MONTANHAS

Você pergunta por que escolhi viver na montanha verde,
Eu sorrio, mas não respondo; meu coração está em paz.
As flores de pêssego flutuam com a água, ofuscar-se silente,
Existe outro mundo, longe do reino dos homens.

Li Bai

A CANÇÃO DOS CORVOS NA COLINA WU

No terraço de Gusu, os corvos se reúnem à noite,
No palácio do rei Wu, Shu Ocidental está empeçonhado.
As canções de Wu e as danças de Chu ainda não aprontaram,
as montanhas azuis estão prestes a engolir metade do sol.
Flechas de prata e garrafas de ouro, o relógio de água vaza com presença,
ressaltando a lua de outono cair nas ondas do rio,
o horizonte oriental se eleva pouco a pouco em alegria!

 Li Bai

DESPEDIDA NA BALSA DE JINGMEN

Ao cruzar o distante Jingmen, saí da viagem pelo estado de Chu,
As montanhas se estendem até as planícies, 
e o rio flui para vasto deserto.
Sob a luz da lua, o espelho voador reflete o céu,
Nuvens se formam e se juntam ao redor do pavilhão do mar.
Ainda assim, valorizo as águas de minha terra natal,
Eu conduzo o barco em sua jornada de dez mil milhas.

Li Bai

OUTONO EM JINGZHOU

A geada cai sobre as árvores ao longo das margens do rio Jingzhou, 
deixando-as vazias, e, maltratadas,
As velas conservar-se intocadas, penduradas na brisa do outono.
Essa viagem não é por causa dos peixes e mariscos,
mas sim porque eu amo as famosas montanhas da região de Jian.

Li Bai

ADEUS À MISTURA HAORAN NAS CRIAÇÕES AMARELEJAS

Meu velho amigo está deixando a Torre da Garça Amarela,
No nebuloso mês de março, ele desce para Yangzhou.
Uma vela solitária, distante e pálida, ofuscar-se ao longo do vasto rio,
Apenas o Yangtze flui, para sempre fluindo.

Li Bai

DIÁLOGO NAS MONTANHAS

Você pergunta por que escolhi viver na montanha verde,
Eu sorrio, mas não respondo; meu coração está em paz.
As flores de pêssego flutuam com a água, ofuscar-se silente,
Existe outro mundo, bem longe do reino dos homens.

Li Bai

A CANÇÃO DO CORVOS NA COLINA WU

No terraço de Gusu, os corvos se reúnem à noite,
No palácio do rei Wu, Shu Ocidental está empeçonhado.
As canções de Wu e as danças de Chu ainda não concluíram,
as montanhas azuis estão prestes a engolir metade do sol.
Flechas de prata e garrafas de ouro, o relógio de água vaza com frequência,
observando a lua de outono cair nas ondas do rio,
o horizonte oriental se chega pouco a pouco em alegria!

Li Bai

Difícil é o caminho do mundo

O vinho puro custa, para a taça de ouro, dez mil copeques por jarro,
E um prato de jade com comida delicada exige um milhão de moedas.
Deixo de lado meus pauzinhos e minha xícara, 
não posso comer nem beber....
Com a espada em punho, 
eu olho para os quatro lados em vão.
Gostaria de cruzar o Rio Amarelo, 
mas o gelo sufoca a balsa;
Eu escalaria as montanhas Taihang, 
mas o céu está cego de neve....
Eu me sentaria e botaria uma vara de pescar, 
preguiçoso em um riacho.
Mas de repente sonho em andar de barco, 
navegando em direção ao sol....
Viajar é intricado,
Viajar é intricada.
Há muitas curvas.
Qual devo seguir?....
Um dia, vou enfrentar um longo vento e quebrar as ondas densas
Com velas içadas bem alto, por meio do vasto oceano.

Li Bai 朝代: 唐


Canção no fim da vida

O grande roc voou, sacudindo todas as oito terras,
No entanto, no meio do céu, ele caiu - sua força se consumiu.
Os ventos restantes se agitam pelo meio das eras,
Deslocando-se para Fusang, onde as vestes roçam a pedra.
Se as gerações posteriores herdarem essas palavras,
Com Confúcio morto, quem pranteará por ele?

Li Bai 朝代: 唐


O papagaio na parede da primeira Golden Gate

Vou sair do templo dourado e vou cantar "Tcha"
e bordar minhas roupas.
Posso dizer que enfim desisti 
e que ainda estarei no oeste do país.
Vou voar para Longxi.

Li Bai 朝代: 唐

Hospedagem na casa da Velha Xun

Abaixo da montanha Wusong

Solitário, não me sinto muito à vontade.
Os fazendeiros lutaram com o trabalho árduo do outono;
Uma moça da vizinhança moía grãos na noite fria.
Ela se ajoelhou oferecer o perfumado arroz selvagem,
A luz da lua fulgurando o prato simples.
Senti-me vexado, como a lavadeira,
Agradeci-lhe três vezes, mas não consegui comer.

白詩

Flutua, esse barco de madeira de cipreste;
Sim, ele flutua na correnteza.
Estou perturbado e sem dormir,
Como se estivesse sofrendo duma ferida dorida.
Não é porque eu não tenha vinho,
E para que eu não vagueie e me afaste.

Meu pensar não é um espelho; -
Ela não pode [mais] receber 
[todas as impressões].
Eu, de fato, tenho irmãos,
Mas não posso pender deles,
Eu me deparo com a cólera deles.

Meu pensar não é uma pedra; -
Não pode ser jorrada.
Meu pensar não é um tapete; 
Não pode ser envolvida.
Minha conduta tem sido digna e boa,
Sem nada de errado que possa ser registrado.

Meu coração ansioso está cheio de problemas;
Sou odiado pelo rebanho de criaturas más;
Enfrento muitas aflições;
Não são poucos os insultos que recebo.
Em silêncio, penso em meu caso,
E, se estivesse dormindo, bato em meu peito.

Existem o sol e a lua, -
Como é possível que o primeiro tenha 
se tornado pequeno, e não o segundo?
A tristeza se agarra ao meu coração,
Que nem um vestido não lavado.
Em silêncio, penso em meu caso,
Mas não posso abrir minhas asas e voar para bem longe.

柏舟 - Bo Zhou


Lamento pelo velho Ji, mestre Cervejeiro de Xuancheng

O Velho Ji, agora no reino dos mortos,

Ainda deve estar aprontando sua ilustre "Velha Primavera".
Nenhum alvorecer surge naquela casa nobre sombria -
Para quem agora seu vinho fino será vendido?

白詩

Yuzhang line

As andorinhas voam por aí,
Com ombros e braços expostos de forma desigual.
A senhora estava regressando [ao seu estado natal],
E eu a escoltei até o interior do país.
Olhei até não poder mais vê-la,
E minhas lágrimas caíram qual chuva.

As andorinhas voam por aí,
ora para cima, ora para baixo.
A senhora estava regressando [ao seu estado natal],
E eu a escoltei de longe.
Olhei até não poder mais vê-la,
E por muito tempo fiquei de pé e chorei.

As andorinhas voam por aí;
De baixo para cima, de cima para baixo, vem seu gorjeio.
A senhora estava regressando [ao seu estado natal],
E eu a escoltei até o sul.
Olhei até não poder mais vê-la,
E grande foi a dor de meu coração.

A senhora Zhong estava confiante e amorosa;
Seu sentimento era realmente profundo.
Ela era gentil e dócil,
Honrada cuidadosa com sua pessoa.
Ao pensar em nosso falecido senhor,
Ela me estimulou a ser vã.

燕燕 - Yan Yan

Ó sol; ó lua,

 Que fulguram esta terra inferior!
Aqui está o homem,
Que não me trata de acordo com a velha regra.
Como ele pode ter seu pensamento tranquilo?
Então ele não me ponderaria?

Ó sol; ó lua,

Que acobertam esta terra inferior!
Aqui está este homem,
Que não quer ser amigável comigo.
Como ele pode ter sua meditação tranquila?
Será que então ele não me rebateria?

Ó sol, ó lua,

Que saem do Leste!
Aqui está o homem,
Com letras virtuosas, mas que de fato não são boas.
Como ele pode ter sua meditação serena?
Será que ele permitiria que eu fosse olvidado?

Ó sol; ó lua,
Do oriente, que saem!
Ó pai, ó mãe,
Não há continuação para seu alimento de mim.
Como ele pode ter sua meditação serena?
Será que então ele me responderia, 
contrariando toda essa razão?

日月 - Ri Yue

Os ventos de Hu sopraram para substituir os cavalos
e o Norte abraçou a passagem de Luyang.
Quando a campanha ocidental retornará?
No meio do caminho, abarcando o rio até o Khitan, 
as nuvens amarelas estavam tão ruins 
que eu não conseguia ver meu rosto.
A velha mãe e seu filho se separaram, 
Estão chamando o céu e a grama.
Os cavalos alvos estão cercados pelas bandeiras
 e se perseguem uns aos outros com tristeza,
sob lua de outono de Bai Yang tão amarga, 
Fazendo a montanha Yuzhang cair cedo,
Este é o povo Huiming, que ao matar o ladrão não é ocioso.

Como podemos não estar dispostos a morrer em batalha? 
Estou aqui para varrer os ferozes.

É crível que uma pedra sem penas possa ser desgovernada 
pelas charadas do mundo?

O navio de edificação é qual uma baleia voando, 
e as ondas oscilam no Golfo das Estrelas.
Essa música não deve ser tocada, 
e os três exércitos foram vistos.

白詩


Guan-guan vai para as águias-pescadoras na ilhota do rio.

A jovem modesta, reservada, virtuosa:
Para nosso príncipe é uma boa companheira.
Aqui, longa, ali, curta, está a lentilha d'água,
Para a esquerda, para a direita, trazida pela torrente.
A jovem modesta, aposentada, virtuosa:
Acordado e dormindo, ele a buscava.
Ele a esquadrinhava e não a descobria,
E, acordado e dormindo, pensava nela.
Muito tempo pensou; oh! muito e inquieta;
De lado, de costas, ele se virava, e voltava.

Aqui, extensa, ali, enrijeça, está a lentilha d'água;
À esquerda, à direita, nós a colhemos.
A jovem acanhada, reservada, virtuosa:
Com alaúdes, pequenos e grandes, 
vamos lhe dar boas-vindas amigáveis.
Aqui longa, ali curta, está a lentilha;
À esquerda, à direita, nós a cozemos e oferecemos.
A jovem senhora modesta, recatada e virtuosa:
Com sinos e tambores, 
vamos mostrar nosso prazer por ela.

Guan Ju


Fonte Nuvem Alva

As fontes de nuvens alvas emergem do Monte Tianping;
As nuvens estão sem rumo, 
enquanto a água está fluindo eventual,
Por que a pressa em cair?
Apenas para fazer barulho entre aqueles 
que estão ocupados em ganhar a vida.

Bai, Juyi (772-846)


Templo do Legado do Amor

Sentar-se à beira do riacho para brincar 
com as pedras embaixo dele;
Caminhando pelo templo em busca de algo 
que esteja florescendo.
Sempre ouço o chilrear dos pássaros
Aqui e ali, noto nascentes fluindo.

Bai, Juyi (772-846)


Hospedagem à beira do rio Jiande

移舟泊煙渚
Movendo o barco em direção à margem do rio enevoado,
Sinto uma nova tristeza igual a um estrangeiro.
O céu sobre o vasto campo é menor do que as árvores;
Sendo a lua sobre o rio límpido se aborda do viajante.

Meng, Haoran (689 or 691 – 740)


Saindo da cidade de Baidi no início da manhã

Eu me despedi da cidade de Baidi 
em meio a nuvens caiadas pela manhã;
千里江陵一日還
Em um dia, viajarei mil milhas
Enquanto os macacos ao longo do rio 
não conseguem parar de gritar,
Meu barco leve passou por milhares de montanhas 
e continua prosseguindo.

Na primavera, a pessoa dorme
ausente até a manhã
Então, em toda parte
ouve-se o canto das aves:

Depois de toda a noite
a voz da tempestade
E as pétalas caíram -
quem sabe quantas?

Meng Hao-jan, 689–740


Pensamentos durante a leitura

O espelho da lagoa brilha,
 Com meio acre de tamanho. 
O esplendor do céu, E a brancura das nuvens 
São refletidos sobre si mesmos.
Pergunto ao lago onde posso achar algo tão puro. 
"Somente nas fontes da água da vida."

Zhu Xi


O Pescador


O vento sopra o matiz de sua vara de pescar. 
Com um chapéu de palha e uma capa de grama, 
o pescador é invisível entre os longos juncos. 
Com a chuva fina da primavera,
 é impossível enxergar muito longe 
E a névoa que se ergue da água oculta as colinas.

Oiiymig Xtu


(Uma despedida em cinco letras), 

Wang Wei

 Descendo do meu cavalo e beber vinho do banco do rei,
Eu lhe pergunto onde está?
Desça de seu cavalo, beba seu vinho e 
pergunte para onde está indo.
Voltei para as montanhas do sul.
mas não volte atrás
As nuvens alvas são infinitas.

 JORNADA DA FLOR DE PÊSSEGO

Um barco de pesca carrega a água para dentro das colinas de concreto,
Ambos os bancos foram cobertos com flores de pêssego velho,
 Ele não sabia até onde havia navegado, olhando para o vermelho do mar. 
 Ele viajou até o final do riacho claro, sem ver ninguém na passagem,
Ele encontrou uma lacuna nas rochas e se esgueirou por ela de pesca,
Além da montanha, vista aberta e planície ao redor
À distância, ele viu nuvens e árvores brilharem para se acostar-se
Em quase todos os tipos de casas, carros peculiares
Um guerreiro de guerra foi o primeiro a quebrar um nome da era Han
A vestimenta dos habitantes conservar-se serena desde a época de Qin
A pessoa viveu para se juntar a ela nas terras altas, 
perto de Wu Ling Ri
Além do mundo exterior, eles colocaram seus campos e ou brincadeiras,
Entre os pinheiros e a lua brilhante, tudo estava tranquilo na casa,
Quando o sol saiu por entre as nuvens, as galinhas e os cães,
Surpreso ao achar um estranho entre eles, o poeta 
 se agitaram em torno deles o convidaram para entrar 
e perguntaram sobre sua casa tais quais brigadas podem, 
as pistas tinham sido qualificadas quais flutuantes,
Ao anoitecer, ao longo da água, os pescadores e as mulheres 
retornaram, para escapar do mundo conturbado,
primeiro deixaram a casa dos homens da sociedade,
Eles vivem como se fossem imortais, sem motivo para voltar,
Naquele vale, eles não sabem nada sobre a maneira de vivemos,
De dentro do nosso mundo, olhamos de longe para as cidades bonitas e 
 colinas.
Quem não duvidaria desse lugar mágico tão difícil de achar?
O coração mundano do pescador não poderia parar de pensar em sua 
Ele deixou aquela terra, mas suas colinas e rios nunca o deixaram 
 Coração,
contingente, ele voltou a sair e planejou se juntar ao meu banco,
segundo minha memória, ele passou ao longo da passagem que havia tomado,
Quem poderia saber que as colinas e os barrancos não tinham nada? 
Quando chegou a hora, ele só foi chamado para entrar nas profundezas da montanha, 
A cada vez que ele se livra da corda da orelha, ele só se livra de nuvem,
E da primavera chegada, e tudo de novo é flor e água
Porém, ninguém sabe como chegar a esse lugar imortal.

Wang Wei

UM CONVIDADO CHEGA 

Ao sul de minha cabana, ao norte de minha cabana, 
tudo é água de nascente, 
Um bando de gaivotas visitantes é tudo o que vejo diário.  
A passagem florida não foi varrida por um hóspede, 
O portão de palha hoje se abre para um hóspede. 
Minha comida tem pouco sabor, pois estou longe do mercado. 
Pobre sou, só posso oferecer vinho velho. 
Se estiver disposto a beber com meu vizinho idoso, 
eu o chamarei por cima da cerca para despejar nossos copos.

Du Fu

O vento sopra e é forte,
Ele olha para mim e sorri,
Com termos fatuidades e extintas, - o sorriso do orgulho.
Estou abatido até o centro de meu coração.

O vento sopra, com nuvens de poeira.
Com gentileza, ele semelha estar disposto a vir até mim;
[Mas não vai nem vem.
Por muito, muito tempo penso nele.

O vento soprava e o céu estava nublado;
Antes que passe um dia, está nublado antes.
Eu acordo e não consigo dormir;
Penso nele e fico ofegante.

A escuridão é toda nublada,
E o trovão jaz murmurando.
Estou acordado e não consigo dormir;
Penso nele, e meu peito está cheio de dor.

終風 - Zhong Feng

Ouçam o rufar de nossos bombos!
Vejam como saltamos, usando nossas armas!
Esses fazem os afazeres de campo no Estado ou fortificam Cao,
Enquanto nós marchamos sozinhos para o sul.

Seguimos Sun Zizhong,
A paz havia sido feita com Chen e Song;
[Mas ele não nos conduziu de fronteira,
E nossos corações infelizes estão muito tristes.

Aqui nós ficamos, aqui nós paramos;
Aqui perdemos nossos cavalos;
E buscamos por eles,
Entre as árvores da floresta.

Pela vida ou pela morte, embora separados,
A nossas esposas certificamos nossa palavra.
Seguramos suas mãos; -
Envelheceríamos junto com elas.

Ai de nós por nossa separação!
Não temos perspectiva de vida.
Ai de nossa estipulação!
Não podemos cumpri-la.

擊鼓 - Ji Gu


Olhando para o Pico Sagrado

Como é essa Montanha Exaltada dos Ancestrais?
Verdes infinitos do Norte e do Sul se acham

onde o Agente de mutação destila o encanto divino,
onde o yin e o yang dividem o crepúsculo e o alvorecer.

O peito arfante exala nuvens e os olhos
abrem-se no crepúsculo, o pássaro voa para casa. Um dia, em breve,

no cume, os picos mais distantes serão
pequenos o regular para segurar, tudo em um único olhar.

TU FU



Passeando no Mosteiro de Devoção aos Ancestrais de Portão do dragão

No mosteiro das quatro direções, eu me afasto,
passo a noite na fronteira de quatro direções.

Nascido do yin-escuro do vale, a música vazia
na floresta lunar se espalha em sombras pelúcidas.

Planetas e estrelas da fenda do céu reunidos
aqui, eu durmo com nuvens de névoa e vestes frias,

então, abrindo a me mexer, ouço o sino da manhã
chamando, acendendo tais profundezas do despertar

TU FU


 CREPÚSCULO DE OUTONO, MORANDO ENTRE MONTANHAS 

Montanha Vazia após a nova chuva
O clima de outono chega tarde
pinheiros de lua brilhante brilham por meio de 
afresco ar transparente rio acima 
farfalhar do bambu: a lavadeira vai para casa
o mundo inteiro está se reavendo
Mudança de lótus o barco do pescador desce flutuando. 
não importa com as festividades da primavera,
pois, as flores da primavera murcham por vontade própria, 
Mas um recluso distante pode ficar sem parar.

Wang Wei

Pensamentos durante a noite silenciosa

A luz da lua em frente à cama,
Suspeito que haja geada no chão.
Olho para a lua qual réu
E não posso deixar de me rebaixar.
dobro a cabeça em sua leveza no céu.

Li Bai (701-762 AD)

Amanhecer de Primavera

Meng Haoran (689 a 740), poeta da dinastia Tang


O sono da primavera não conhece o amanhecer
Antes que eu perceba, já está amanhecendo,
"Estou chorando por toda parte.
A noite chega, o vento e a chuva.
O quanto sabes quando as flores caem?

Posso ouvir o chilrear das aves por toda parte.
Lembro-me do som do vento e da chuva na noite passada.
Não sei quantas flores foram derrubadas.


 杜审言 Du Shenyan
u Shenyan ( 杜 审 言 , 648-708CE)

 Um passeio de primavera com o primeiro-ministro de Jinling e Lu
Sou o único eunuco que se admira com a nova do clima.
Nuvens e neblina saem do mar ao alvorecer, 
ameixas e salgueiros cruzam o rio na primavera.
O hálito da senhora excita a ave amarela, 
e a luz do sol se torna verde.
De repente, ouvi a antiga melodia da canção 
e quis manchar meu coração com a ideia de regressar.

 Pintura


Wang Wei (701-761), poeta da dinastia Tang

As montanhas parecem coloridas de longe.
Perto dali a água está silente.
As flores ainda estão lá depois da primavera.
As aves não se assustam com as pessoas.

 Na lagoa

Bai Juyi (772-846), poeta da dinastia Tang


Uma criança em um bote
Colhendo o lótus branco.
Não sei como esconder meus rastros.
A lentilha flutuante se abre junto.

 lit. procurar um eremita, mas não o achar

Bai Juyi (772-846), poeta da dinastia Tang


Perguntei ao menino embaixo do pinheiro.
Eu lhe disse que tinha ido buscar remédios.
Ele está apenas nesta montanha.
Não sei onde as nuvens são profundas.

Pensamentos de uma noite silenciosa, 

Li Bai (701-762), poeta da dinastia Tang


A luz da lua em frente à cama.
Suspeita-se que seja a geada no chão.
Levanto minha cabeça para olhar a lua brilhante
Penso em minha cidade natal com a cabeça baixa.

Li Bai estava prestes a viajar em seu barco. 

 Li Bai (767-720), poeta da dinastia Tang

 

Li Bai estava prestes a viajar em seu barco.
De repente, ele ouviu o som de um canto na margem.
O lago das flores de pêssego tem mil pés de espessura.
Não tão profundo quanto o convite de Wang Lun. 

 Estadia noturna no Templo da Montanha

Li Bai (701-762), poeta da dinastia Tang


O perigoso edifício tem 30 metros de altura.
Posso pegar as estrelas com minhas mãos.
Não me atrevo a levantar minha voz
Tenho medo de assustar as pessoas no céu.

 Cataratas do Monte Lushan

Li Bai (701-762), poeta da dinastia Tang


O sol brilha sobre o queimador de incenso e produz fumaça roxa.
A cachoeira está suspensa em frente ao rio.
A cachoeira está caindo três mil pés.
Suspeita-se que a Via Láctea esteja caindo para os nove céus.

 Canção da Antiga Lua Longa

Li Bai (701-762), poeta da dinastia Tang 

Quando eu era jovem, não conhecia a lua.
Eu a chamava de disco de jade alvo.
Suspeito que seja um espelho no Yao Tai
Acho que está voando sobre as nuvens verdes.

DESCENDO A MONTANHA ZHONGNAN
PARA O AMÁVEL TRAVESSEIRO E A TIGELA DE HUSI


À noite, eu desço da montanha azul 
e a lua me segue até minha casa;
A lua e as montanhas voltam para nós; 
mas olhamos para a passagem de onde viemos, 
e o céu cinza cruza o verde-esmeralda.

Eles se juntam nos campos, 
e as crianças abrem suas portas;
Os bambus verdes estão na passagem, 
os abacaxis verdes escovam suas roupas.

O bambu verde está na passagem, 
o abacaxi verde escova nossas roupas. 
Temos um lugar para descansar 
e um bom vinho para beber;
Cantamos uma longa canção para os ventos 
dos pinheiros e das estrelas.

BEBENDO SOZINHO COM A LUA

Uma garrafa de vinho na sala de flores, bebendo só, 
sem um parente;
Um copo é erguido para convidar a lua a brilhar, 
e as sombras se tornam três.

A lua não sabe como beber, e a sombra me segue;
suas sombras estão em minha companhia 
por enquanto, e devemos nos divertir até a primavera.

Eu canto para a lua, danço para as sombras;
Quando acordo, nós nos divertimos juntos, 
mas quando estamos ébrios, nos dispersamos.

EM ESPUMA


A grama da andorinha é tão azul quanto a seda, 
e a amoreira do Qin é tão baixa quanto um galho verde;
O dia de seu retorno é o dia de meu coração partido.

Li Bai

Noite iluminada pela lua

Hoje é noite de lua em Shaanxi
Estou olhando para ela sozinho em meu quarto.
Sinto pena de minha filha
Não sei como me lembrar de Chang'an
O cabelo enevoado e nublado está molhado
A luz do braço de jade é fria.
Quando vou me apoiar na falsa fachada?
As lágrimas estão secas.

Hoje à noite a lua em Shaanxi
Estou olhando para ela sozinha em meu quarto
Sinto pena de minha filhinha
Não sei como me lembrar de Chang'an
A névoa e o cabelo nublado estão úmidos
A luz do braço de jade é fria.
Quando vou me apoiar na falsa fachada?
As lágrimas estão secas.

Esperança para a primavera

O país está arruinado, as montanhas e os rios estão intactos.
Quando a cidade está na primavera, 
a grama é profunda e as árvores são profundas.
Lágrimas em meus olhos quando sinto pena de você.
Odeio ter que me separar dos pássaros.
O fogo da guerra dura três 
Uma carta de casa vale dez mil moedas de ouro.
A cabeça branca está ficando mais curta
Quero perder meu grampo de cabelo.

O campo está aberto, as montanhas e os rios estão parados.
A grama é profunda na primavera
Lágrimas são derramadas nas flores quando me sinto triste
Os pássaros me assustam quando odeio me separar
O fogo de março
Uma carta de casa vale dez mil peças de ouro
Minha cabeça grisalha está ficando cada vez mais curta
Eu gostaria de não poder usar um grampo de cabelo.

Café da manhã de primavera na província de Zuo, Yunnan


As flores estão asiladas sob o muro
O chilrear dos pássaros passa
As estrelas estão no céu
A lua está no céu
Ouço a chave de ouro antes de ir para a cama
O vento me faz pensar em Jade Ko
Amanhã haverá um anúncio
Eu tenho perguntado como está sendo a noite

As flores estão escondidas sob a parede
O chilrear dos pássaros empoleirados passa
As estrelas estão se movendo em todas as casas
A lua está no céu
Eu não durmo para ouvir a chave dourada
O vento me faz pensar em Jade Ko
Amanhã haverá um anúncio
Eu lhe pergunto como está sendo a noite


 UMA VISTA DE TAISHAN

E quanto a Dai Zong Fu? Qi Lu ainda é jovem.
Os deuses criaram o mundo, e o sol, 
o yin e o yang cortaram o alvorecer e o entardecer.
As nuvens se erguem no peito e os templos 
se erguem nos templos.


PARA MEU AMIGO APOSENTADO WEI

Não nos vemos na vida, é como estar em um negócio.
O que é esta noite? Compartilhamos esta luz de vela.
Por quanto tempo podemos ser jovens e fortes? 
O cabelo de sua cabeça já está grisalho.
O velho é meio fantasma e grita 
com medo do calor em seu coração.
Como posso saber se serei capaz de retornar 
ao Salão dos Cavalheiros depois de vinte anos?
Eu já fui separada do casamento de meu marido, 
mas agora meus filhos cresceram;
Fiquei feliz em honrar meu pai e 
me perguntei de onde eu vinha.
A pergunta e a resposta ainda não foram respondidas, 
então levei meu filho para fazer vinho e xarope.
A chuva da noite corta os alhos-porós da primavera, 
e a nova cozinha o sorgo amarelo.
O Senhor disse que era difícil encontrá-lo, 
então ele preparou dez taças de vinho de uma só vez;
Não estou ébrio mesmo com dez copos, 
mas sinto que a intenção de meu filho é longa.
O amanhã está muito longe, e o mundo está muito longe.


SOZINHA EM SUA BELEZA

Há uma bela mulher que vive em um vale vazio;
Ela era uma boa moça, mas foi espalhada pelas árvores.
No passado, Guanzhong estava em uma situação tumultuada 
e seus irmãos foram mortos;
Qual é a vantagem de ter uma posição oficial elevada? 
Não posso aceitar minha carne e meu sangue.
O mundo está em um terrível estado de decadência, 
e tudo segue o rumo da vela.
O genro do meu marido é uma criança, 
mas o recém-chegado é tão formoso quanto jade.
Quando o sol se põe, eles ainda sabem quando é hora, 
e os patos mandarins não dormem sozinhos;
Mas quando vemos o recém-chegado rindo, 
o que ouvimos do velho chorando?
A água da fonte é clara nas montanhas, 
e a água da fonte é turva nas montanhas.
A serva vende pérolas, e o abacaxi conserta a casa de campo.
Colho flores sem prender o cabelo nelas 
e colho ciprestes com as mãos.
O céu está frio, as mangas são finas 
e o pôr do sol está apoiado no bambu.

Vendo Li Bai em um sonho I

A morte engoliu o som da dispensada, 
e a vida está sempre em um estado de comoção.
No miasma de Jiangnan, não tem notícias.
O velho está em meu sonho, e eu me lembro dele;
Agora que está na rede, como pode ter asas?
Lhe receio que não seja a alma da minha vida, 
Mas, está passagem está longe.

Minha alma veio para a floresta de bordo 
e voltou para a escuridão da fronteira;
A lua que cai preenche as vigas da casa, e 
eu ainda me pergunto se as cores são visíveis.

Vendo Li Bai em um sonho II

As nuvens viajaram o dia inteiro, 
e o filho de um viajante não surgiu por muito tempo;
Sonhei contigo tantas vezes que sinto vontade de vê-lo.
Nem sempre é fácil voltar para sua casa, 
e não é fácil dizer isso.
Os rios e lagos estão cheios de tempestades, 
e os remos têm medo de se perder.
Tenho medo de perder meus remos 
e não tenho certeza se conseguirei realizar 
minha ambição de minha vida.
As coroas estão por toda a capital, 
mas o homem está sozinho e vexado.
Quem disse que a rede está inteiramente aberta? 
O corpo do velho ficará exausto!

Du Fu

PENSAMENTOS I

Um dragão ermo vem do mar, e 
não me atrevo a olhar para água;
Vejo dois pássaros fazendo ninho em árvore de três pérolas.
A madeira preciosa da árvore é tão reta 
que não tem medo das pílulas douro.
A beleza do vestido é uma questão de apontar o dedo, 
e a alta noção dos deuses é uma questão de maldade.

ORQUÍDEA E LARANJA I


As folhas da orquídea são vivazes na primavera, 
e o louro é brilhante no outono;
Estou feliz com esse negócio, 
e esta é uma época festiva para mim.
Quem conhece o morador da floresta? 

PENSAMENTOS III

Um homem fantasmal jaz só, 
e suas inquietações são lavadas.
Sou grato às aves por isso, 
pois me transmite um sentimento distante.

Quem sentirá o vazio do dia e da noite?


ORQUÍDEA E LARANJA II


Há tangerinas no sul do rio Yangtze, e 
elas jazem verdes durante o inverno;
Não é o calor da terra? Ele tem seu próprio coração frio.
Posso recomendá-lo aos meus convidados, 
mas os obstáculos são muito grandes.
O destino é apenas uma questão de chance, 
e o ciclo não pode ser achado.

Zhang Jiuling

 

    ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

sábado, setembro 06, 2025

SONNETS - Amy Lowell – Trad. Eric Ponty

 


Leisure

Então o Lazer, deusa de uma época passada.
Quando as horas eram longas e os dias eram suficientes
Delícias e prazeres sem controle
Por eras mais curtas, quando nenhum presságio sombrio.

De deveres não cumpridos, herança moderna,
Assombrava nossas refletirão felizes; deves de reter
Tua presença neste mundo supero upado,
E, levando o silêncio consigo, desvincular.

Nossas fortunas complexas? Os imos dos bosques inexplorados
Só podes te acalentar, só podes possuir
Teu vigor calmo e fervilhante. Esse é o nosso crime:

Não ter adorado, manchado por humores estranhos
Essa única condição de toda beleza,
O lapso sonhador do tempo lento e desmedido.

On Carpaccio’s Picture: The Dream of St. Ursula


Varrido, limpo e imóvel, pelo piso polido
De alguma janela não fechada, oculta da vista,
A luz do sol se inclina, sua luz maior
Apagando a pequena lâmpada, pálida e pobre,

Cintilante, sem reposição, na porta
Lutou contra a escuridão durante a longa noite.
O alvorecer enche a sala, penetrante e brilhante,
Os silenciosos raios de sol entram pela janela.

E ela dorme, ignorando o destino,
Enredada em sonhos apáticos, sua alma ainda não
Crescida para suportar o significado deste dia.

A brisa da manhã mal agita o cobertor,
Uma sombra cai sobre a luz do sol; espere!
Uma cotovia está cantando enquanto voa!

The Matrix

Instigados e assediados na fábrica
Que divide nossa vida em pedaços de dias
Em um relógio que nunca pára,
Destruindo nossa porção de eternidade,

Por fim, escapamos e roubamos a chave
Que esconde um mundo vazio de horas; caminhos
Do espaço se desenrolam, e o céu se sobrepõe
A terra frondosa e acesa pelo sol da Fantasia.

Além da sombra do ilex, o sol brilha,
Escaldante contra a chama azul do céu.
Lírios marrons jazem pesados e supinados

Em uma bacia de granito, sob uma
O brilho bronze-dourado de uma carpa; e eu
Estendo minha mão e arranco uma nectarina.

Monadnock in Early Spring

Com topo das nuvens e majestoso, dominando tudo
Das pequenas colinas menores que o cercam,
Está de pé, brilhante com a alegria de abril,
Mas mantendo o inverno em alguma parede sombreada.

De rocha severa e íngreme; e assustadas com o chamado
Da primavera, suas árvores se enchem de expectativa
E lançam uma nuvem de carmesim, silente,
Acima de suas fendas nevadas, onde caem

Pálidas folhas murchas de carvalho, enquanto a neve por baixo
Derrete ao seu toque fantasmagórico. Outro ano
É rápido e importante. Assim tem sido cada ano.

Inalterado, observa tudo, e tudo legou
Alguma joia para seu diadema de poder,
Você é o penhor de uma maior majestade invisível.

The Little Garden


Um pequeno jardim em uma encosta desolada
Onde a neve pesada e deslumbrante da montanha
se estende até a primavera. O brilho pálido do sol
Mal é capaz de derreter as manchas.

Em torno de uma única roseira. Tudo negado
Dos ternos ministérios da natureza. Mas não, -
Pois a fé que opera maravilhas a fez soprar
Com flores de muitos tons e olhos estrelados.

Aqui o sol dorme longas e ociosas horas de verão;
Aqui as borboletas e as abelhas vão longe para vagar
Em meio às folhas amassadas das flores de papoula;

Aqui, às quatro horas, para a noite apaixonada
Lançam baforadas de perfume, pálidas chuvas de incenso.
Um pequeno jardim, amado com um grande amor!

To an Early Daffodil

Seu trompetista amareleço da pataquinha arcaica!
Arauto da miríade de flores do rico verão!
O sol que sobe com novos poderes recuperados
Te aquece até a existência, por meio do anel.

Da terra rica e marrom, te atrai e te faz lançar
Brotos verdes para cima, herdando os doer
Do céu torto e das chuvas bruscas e delirantes,
Até amadurecer e florescer, você é uma coisa

Para alegrar toda a natureza, você é tão alegre;
Para encher os solitários de uma alegria indescritível;
Acenando com a cabeça a cada rajada de vento hoje,

E amanhã, enfeitada com gotas de chuva. Sempre ousado
Para ficar ereto, pleno no jogo deslumbrante
Do sol de abril, pois pegaste teu douro.

Listening

É você que é a música, não sua canção.
A música é apenas uma porta que, ao se abrir,
deixa sair a melodia reprimida em seu interior,
A harmonia de seu espírito, que é clara e forte

Só canta de você. Durante toda a sua vida
Canções, pensamentos, seus atos, cada um divide
Essa beleza perfeita; ondas em uma maré,
Ou notas únicas em meio a uma multidão gloriosa.

A canção da terra tem muitos acordes diferentes;
O oceano tem muitos humores e muitos tons
Mas sempre o oceano. Nos bosques úmidos da pataquinha

O trillium pintado sorri, enquanto as pinhas crocantes
Só o outono pode amadurecer. Assim é esta
Uma música com mil cadências.


To John Keats

Grande mestre! Homem simpático e infantil!
Cujo gênio orbitado e amadurado pendia leve,
Da fina e retorcida gavinha da vida, e ali balançava
Em sua completude carmesim-esférica; guardião.

Dos portais de cristal, por cujas aberturas se abrem
nos ventos temperados ateavam quando a Terra era jovem,
Lavrando coroas de estrelas, qual Jovi uma vez lançou
Duma chuva de ouro das alturas cerúleas.

Diante de sua majestade, nós nos curvamos.
Esqueça seu estado de orgulho, sua panóplia
De grandeza, e seja misericordioso e próximo;

Um jovem que percorreu a estrada que agora trilhamos
Cantando os quilômetros atrás dele; assim podemos nós
Ouvir as fracas batidas de sua música.

Amy Lowell – Trad. Eric Ponty

 

   ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

SONNETS ON ENGLISH - Sir Philip Sidney - Trad. Eric Ponty

 Porque, evitando a dor, jamais encontrarei alívio


Porque, evitando a dor, jamais encontrarei alívio;
Já que o temor tímido busca onde sabe estou ferido;
Já que a anseio é invadida, e orelhas oclusas são enlevados;
Já que a força se esvai, e a visão me torna cego;

Já que quanto mais me solto, mais célere me prendo; 
Já que o sentido nu pode vencer a razão armada;
Já que o coração, com medo frio, é arrefecido com gelo;
Em suma, uma vez luta de pensamentos apenas estraga pensar:

Eu me rendo, ó AMOR! ao teu odioso jugo.
Mas, desejando a lei das armas, cuja regra ensina; 
Que mal-usado, quem prisão quebrou –

Em justiça, não se quebra a honra:
Mas se eu tiver um guardião agradecido;
Vós sois, meu senhor, e eu, vosso servo ajuramentado.

QUANDO o Amor, lavado de raiva e dum grande desdém


QUANDO o Amor, lavado de raiva e dum grande desdém,
Resolveu fazer de mim o modelo de teu poder;
Qual um inimigo, cuja argúcia se dobrava ao rancor mortal,
Mataria muitas vezes, para gerar mais dor;

Ele não iria, armado de beleza, para reinar apenas 
Sobre aqueles afetos, que fácil cedem à visão;
Mas a virtude bota tão alto, que a luz da razão,
Por toda sua luta, só pode ganhar a escravidão.

Assim, vivo para pagar um preço mortal.
A paralisia morta em todas minhas partes mais admiráveis: 
São aqueles a quem dos sonhos fazem ver monstros feios,

E que não podem gritar "Ajuda!" senão gemidos e espantos.
Anseio por ter, mas não tenho inteligência para desejar:
Para pensar famintas, esse é o prato do deus CUPIDO!

"DORME, bebê meu, ANSEIO!" A samaritana BEAUTY canta.

To the tune of Basciami vita mia


"DORME, bebê meu, ANSEIO!" A samaritana BEAUTY canta.
"Teus gritos, ó bebê, fazem minha cabeça doer."
O bebê chora: "Passagem! Teu amor me mantém acordado."
"Lully, lully, meu bebê! O berço da esperança traz;

Para meus filhos sempre um bom descanso." 
Bebê chora: "Passagem! Teu amor me faz seguir alerta."
"Desde então, meu bebê, de mim brota tua cautela,
Dorme, pois, um pouco! Papai, o TEOR está fazendo:"

O bebê gritar: "Não! Por isso jazo acordado."

Tu, Dor! o único convidado da odiada Restrição 

Tu, Dor! o único convidado da odiada Restrição
Do filho da PRAGA, o filho adotivo do TEMOR DO HOMEM,
Irmão do pesar, e pai de RECLAMAÇÃO:
Tu, DOR! tu, DOR odiada! do céu exilada.

Como a reténs, cujos olhos a constrangem a temer? 
A quem a praga abençoa; a quem a temor arma as virtudes;
Que as dores e queixas alheias podem casta suportar;
Em cujo doce céu pulula anjos de pensamentos supinos.

Que coragem, estranha, arrebatou teu coração caquético?
Não teme um rosto que muitas vezes devora corações inteiros?
Ou você, do alto, foi convidado a desempenhar esse papel,

E, assim, não tem ajuda contra a inveja desses poderes?
Se assim for, infelizmente, enquanto essas partes ficarem tristes,
Então, refreie tua língua, para que ela não mais diga: "Não!"

Sir Philip Sidney - Trad. Eric Ponty

 

  ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

terça-feira, setembro 02, 2025

LES FLEURS DU MAL (FRAGMENTS INEMPLOYÉS). - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

 LES FLEURS DU MAL
(FRAGMENTS INEMPLOYÉS).

 
I
BRIBES.

Anjos vestidos de ouro, púrpura e jacinto.
O gênio e o amor são tarefas fáceis.
Amassei lama e a transformei em ouro.
Teus olhos mostravam a força de teu peito.
Em Paris, teu deserto vivia sem fogo ou lugar,
Forte qual uma fera, livre qual um Deus.

O GOINFRE.
Enquanto eu moía, ria dos transeuntes famintos.
Eu morreria como uma concha,
Se não me absorvesse como um cancro.
Teu olhar não era indiferente ou tímido,
mas sim exalava algo ganancioso,
E, como tua narina, expressava as emoções
dos artistas diante das obras de teus dedos.

Teu viço será mais rico em tempestades
Do que esta canícula de olhos brilhantes
Que em nossas testas pálidas torcem teus braços em suor,
E sopra teu hálito febril na noite,
Faz com moças se arrebatem por teus corpos frágeis,
E os transforma em estéreis espelhos lascivos,
Contemplar os frutos maduros de tua virgindade.

Mas posso ver por esse olhar tempestuoso
Que teu coração não foi feito para festejos pacíficos,
E que essa beleza, escura tal que o ferro,
É uma daquelas forjadas e polidas pelo Inferno
Para realizar um dia terríveis luxúrias 
E atormentar os corações de humildes criaturas.

Um enorme travesseiro enfraqueceu sob teu peso,
Um belo corpo jazia ali, doce de se ver dormido,
E teu sono adornado com um sorriso soberbo.

O sulco em costas era efeito dum desejo atônito.

O ar estava impregnado de uma fúria amorosa;
Insetos voavam pela lâmpada e nenhum vento
Não agitava a cortina ou o toldo.
Era uma noite quente, um correto banho de viço.

Grande anjo que usa em teu rosto orgulhoso,
A escuridão do inferno de onde ascendeu-se;
Domador feroz e gentil que me botou em uma jaula
Para fazer uma contemplação de tua crueldade,

Pesadelo de minhas noites, sereia sem corpete,
Que me puxa, sempre ao meu lado,
Por meu manto de santo ou minha barba sábia
Para me oferecer o veneno do amor sem vergonha;

DAMNAÇÃO.
A margem dura e inextricável,

A passagem estreita, do voraz redemoinho,
sacudido menos areia e algas impuras

Do que nossos corações, onde tanto céu se reflete;
Eles são um píer com um ar nobre e maciço,
Onde o farol brilha, uma estrela benéfica,
Mas minado pelo alcatrão corrosivo;

Eles ainda podem ser comparados a esta pousada,
A fé dos famintos, onde os comensais noturnos batem à porta,
Feridos, quebrados, xingando, implorando por abrigo,
O colegial, o prelado, o escroque e o subornador.

Eles não voltarão para os quartos fedorentos;
Guerra, ciência, amor, nada mais nos quer.
A lareira estava fria, as camas e o vinho cheios de insetos
Esses visitantes, nós devemos servi-los de joelhos!

SPLEEN.

[SONNET.]


Eu amo seus grandes olhos azuis, teu cabelo ardente
Com estranhos aromas,
Teu belo corpo alvo e rosa, e tua saúde poderosa
Digno dos antigos jousters.

Adoro teu ar soberbo e teu vestido indecente
Mostrando a redondeza
De tua garganta rechonchuda com tua forma abundante,
Admirada pelos escultores.

Adoro teu mau gosto, tua saia colorida,
Tua grande amura coxa, tua fala desarticulada
E tua testa estreita.

Eu gosto dela assim, que pena! Essa garota de rua
Me intoxica e me fascina com tua beleza crua.
Não importa, eu a amo assim!

[PRIVAT D'ANGLEMONT.]

 

 A UNE BELLE DÉVOTE.

O que vimos neste século - mesmo um dia – 
quando abades galantes, sem achar crueldades,
Liam teu breviário no travesseiro da bela;
Quando Bernis amava Pompadour qual Madonna!

Esses tempos se foram, se foram sem retorno,
Quando, com pés libertinos, corriam pelas vielas,
E enfrentavam as chamas eternas do inferno
Nos boudoirs rochosos em chamas de amor.

Oh, porque não existimos, tudo por Deus, senhora;
Eu, todo para o sentimento que tua virtude reprova;
Nós dois apegados à nossa verdadeira adoração.

Eu teria tomado a tonsura, - e, o que sabemos? talvez,
Enquanto confidenciar a vós, teríeis acolhido que eu estivesse
Por metade de uma noite em teus divinos pecados.

AS CAMAS.


A
lgumas são atraentes em tuas alcovas rosadas,
Que pensaria que são ninhos com cortinas,
Que poderiam contar histórias graciosas.
Há pequenas que parecem berços,
Há outras assustadoras que parecem túmulos.

Que leitos repulsivos para os doentes!
Onde os torturados, retorcidos pela dor,
Sentem sobre si as mãos dum carrasco cruel!
Quantos colchões manchados com o pus das feridas!
Almofadas molhadas com as lamúrias do peito!

Camas, convosco contém toda a nossa vida:
Sempre miseráveis, doentes ou loucos,
Nascemos, amamos e morremos em ti.
Sabes tudo sobre nossa miséria e nossa escória.
Ó que sabe tudo, tenha piedade de nós!

Dê-nos muitas noites felizes em teu leito,
Tentem reunir o amante com o amante;
Tornem-se afetuosos para o momento divino,
E quando as carícias felizes cantarem,
Deixem as cortinas leves ondularem doce!

Quando viermos descansar nossas vértebras contigo,
De nossos sonhos banirem com visões lúgubres,
Seja a cerveja refrescante onde dormimos sozinhos,
E faça com que a escuridão seja tão reconfortante para nós
Quando teus lençóis alvos se tornam nossas mortalhas.

A UNE JEUNE SALTIMBANQUE.


N
ós afeiçoávamos amá-lo, quando em tua triste harpa
Dedilhavas o romance, e em uma encruzilhada,
Para atrair a multidão para ver teus saltos de carpa,
Uma criança escrofulosa tocava um tambor;

Quando estavas atribulada, torcendo teu lenço,
Algum atleta vestido de camisa, Alcide faz o truque,
Admirado pelos burgueses, escarafunchado pela polícia,
Que pesa cem quilos e o chama de mamour.

Teu violão rouco e tua saia de lantejoulas 
espalham o sonho dos poetas diante de nossos olhos,
A dançarina de Hoffmann, Esmeralda, Mignon.

Mas agora caída, aqui estás, meu pobre anjo,
Sultana da calçada, juntando na lama o dinheiro 
que deve embebedar teu rude companheiro.

 [AI. PRIVAT D'ANGLEMONT.]

Teu cabelo é loiro e teus olhos são úmidos?
Tu tens olhos para encantar o mundo?
São tão gentis ou cruéis? Orgulhosos ou tímidos?
Tu mereces que escrevam sobre ti?

Enrolas galante teus chåles em chlamydes?
Usas um brasão de armas de Gules ou Vairs?
Conheces o segredo dos altivos Armides?
Ou suspira sob tuas sombras tão verdes?

Se teu corpo polido se torce qual uma árvore jovem,
E se o pesado damasco, em teu peito de mármore,
Qual um rio em cólera transborda em correntes móveis,

Se todas tuas belezas são dignas de apreensão,
Não deixes meu sonho correr para todos os ventos,
Belle, venha então, e pose diante de teu poeta.

[AI. PRIVAT D'ANGLEMONT.]

SONNET CAVALIER.

A M E. M..., Gentille femme.

Por que me ama, minha bela amante?
Só tem sorrisos felizes para mim,
E muito depois do dia, no sofá de seda
Sabes acariciar-me minha preguiça com beijo.

Sou eu, para amá-la, loira encantadora,
Um tímido colegial que sonhas com teus olhos
E cora quando a testa sente teu cabelo tremer
Cuja brisa lasciva espalha uma trança?

Sou uma beleza refinada, vencedora do universo,
Jogando a tocha flamejante ao vento por palavra errada,
Fazendo de tua pose mais feroz para amar?

Não! Mas sou a única cujo sopro ousado,
Ó fria, Galatea, vem, quando me atrevo,
Lhe aquecer um pouco mármore inerte. 

CI. P. d'A. [sic.]

 SONNET.

A Mme Anna B...

Quando a brisa de abril afasta os outonos,
E dourou todas as coisas,
Anna, retornas com a doce primavera
Que faz as flores desabrocharem;

Vendo tão encantadora, 
alguém poderia pensar que o tempo em tuas metamorfoses,
Para embelezá-la, nos prados intensos
Tomou o roxo das rosas.

Quando lhe temos, o que o sol nos faz
Com raios dourados, flores com cálices rubros?
Tua face é mais bela!

Por que imitar, no inverno chuvoso,
A andorinha selvagem,
E nos privar do brilho de teus olhos?

Alex. PRIVAT D'ANGLEMONT.

CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

 

  ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

segunda-feira, setembro 01, 2025

AS FLORES DO MAL TRADUZIDO POR ÉRIC PONTY - CHARLES BAUDELAIRE

 

Ao Leitor 
A Tolice e do erro, da mesquinhez e do pecado
Possuem nosso espírito e cansam nossa carne.
E, são como um animal de estimação, 
alimentamos nosso remorso domesticado
Quais os mendigos alimentam teus piolhos.

Nossos pecados são teimosos, nosso pesar é frouxo;
Oferecemos generosos de nossos votos de fé
E voltamos de bom grado à passagem da imundície,
Pensando choros marotos lavarão nossas manchas.

No travesseiro do mal repousa o alquimista
Satanás Três Vezes Grande, embala nossa alma cativa,
E todo o metal mais rico de nossa vontade
É vaporizado por tuas artes herméticas.

Realmente o Diabo puxa todas as nossas cordas!
Nos objetos mais repugnantes, achamos graças;
Cada dia damos mais um passo adresse ao inferno,
De tão contentes em atravessar o poço fétido.

Como um pobre libertino chupa e beija
A triste e atormentada teta de uma velha rameira,
Roubamos um prazer furtivo quando passamos,
Numa laranja murcha cercamos e apertamos.

Perto, enxameando, um milhão de vermes que se contorcem,
Uma nação demoníaca se agita em nossos cérebros,
E, quando respiramos, a morte flui em nossos pulmões,
Um fluxo secreto de gritos constantes e lamentosos.

Se massacre, ou incêndio criminoso, veneno, estupro,
Ainda não adornaram nossos belos desenhos,
A tela banal de nossos tristes destinos,
É apenas porque nosso espírito não tem seiva.

Mas entre os chacais, as panteras, os piolhos,
Macacos, escorpiões, abutres, cobras,
Monstros que berram, uivam, rosnam e rastejam,
No infame zoológico de nossos vícios,

Há um mais feio, mais perverso, mais imundo!
Embora ele não faça grandes gestos ou gritos,
Transformaria de bom grado a terra em escombros
E em um bocejo engoliria todo esse mundo;

É o tédio! -Olhos se encheram duma fúcsia involuntária,
Ele sonha com andaimes enquanto fuma sua houka.
Tu o conheces, leitor, esse monstro delicado.

-Leitor hipócrita, meu companheiro, meu irmão!

AO LEITOR
Da insensatez, do erro, do pecado, da avareza,
Ocupem nossas mentes e nossos corpos aflijam, 
E alimentamos nosso agradável remorso 
Como os mendigos alimentam seus vermes. 

Nossos dolos são teimosos, nosso pesar é fraco; 
Nós pagamos por nossas confissões, 
E nos divertimos no caminho lamacento, 
Crendo que choros lavam todas as nossas manchas.

No travesseiro do maligno Satã Trismegistus 
Para acalmar nossas mentes encantadas, 
E o rico metal de nossa vontade 
É vaporizado pelo cientista alquímico.

É o diabo que é o filho que nos move! 
Em coisas repugnantes, descobrimos encantos; 
A cada dia descemos um degrau em direção ao inferno, 
Sem horror, pelo meio da escuridão fedida.

E um ancinho que os pobres fodem e comem 
O peito torturado de uma velha prostituta, 
Voamos em um prazer clandestino 
Apertamos com força qual uma laranja seca.

Apertado, enxameando num milhão de vermes, 
Em nossos cérebros, uma farra de demônios, 
E quando respiramos em nossos pulmões a morte 
Desce, rio invisível, com gemidos baixos.

Se o estupro, o veneno, o punhal, o vigor, 
Ainda não bordaram com amenos retratos
A tela banal de nossa lástima, 
É que nossa alma, infeliz, não é assaz ousada.

Mas entre os chacais, panteras, serpentes, 
Macacos, escorpiões, abutres, cobras, 
Monstros gritando, uivando, rosnando, rastejando, 
No infame zoológico de nossos vícios,

É mais feio, mais perverso, mais imundo! 
Embora não faça grandes gestos ou gritos, 
Ele ficaria feliz em aterrissar numa escória,
E fazendo um bocejo engolir o mundo;

É o Nada! O olhar bruno de choro involuntário, 
Sonhar com andaimes enquanto fuma teu narguilé. 
Tu o conheces, leitor, esse monstro delicado, 
- Leitor hipócrita - minha afinidade - meu irmão!
 
 Les Phares
Rubens, riacho alheio e jardim ocioso,
Travesseiro fresco de carne onde o amor não pode estar,
Mas onde a correnteza da vida se agita incessante,
Igual ao vento e a água fazem no céu e no mar;

Leonardo sombrio, espelho das profundezas,
O refúgio dos anjos cujo doce sorriso sustenta
O fardo de um mistério na sombra dos tons
De pinheiros e geleiras selando teu domínio;

Rembrandt, triste hospício de queixas pouco ouvidas,
Muros nus onde um grande crucifixo está pendurado,
Donde orações chorosas surgem, exaladas pela sujeira,
São perfuradas por um fugaz raio de sol invernal;

E Michelangelo, um desperdício onde figuras
De Cristo e Hércules se misturam; ali, eretos
Intensos fantasmas que estendem seus dedos
E rasgam roupas de sepultura na luz que se esvai;

A fúria de um boxeador, impudente qual um fauno,
Que busca a beleza até na escória humana,
Um peito forte e orgulhoso, preso na estrutura fraca,
Puget, o imperador sombrio dos velhos atrasos;

Watteau, esse carnaval onde corações famosos
Vagam iguais borboletas em um transe aceso,
De cenários frios e vaporosos sob lustres
Que chovem loucuras acesos na dança rodopiante;

Goya, um pesadelo de coisas inauditas
Um feto cozido para as festas de sabá das bruxas,
Com velhas bruxas nos espelhos, garotinhas nuas
Puxando tuas meias apertadas para tentar os demônios;

Delacroix, lago de sangue onde anjos caídos
Assombram os pinheiros escuros sob céus sombrios;
Estranhas fanfarras ecoam no bosque sempre verde
E se desvanecem quais os suspiros abafados de Weber;

Essas blasfêmias e maldições, esses lamentos,
Arroubos e lamúrias, esse canto de Te Deum,
São ecoados através de mil labirintos -
Para os corações mortais, um ópio celestial!

É uma ordem tocada por mil chifres,
Um chamado impresso por miríades de sentinelas,
Dum grito de caçadores perdidos na floresta 
sem caminho, qual o farol de mil cidadelas.

Pois é, de fato, Senhor, a assiste mais seguro,
Que podemos citar para provar nossa dignidade,
Esse soluço ardente que rola de idade em idade
E que padece nesse fio dessa tua eternidade.

Correspondências

No templo do natural, colunas vivas se alçam
E às vezes dão termos confusos; o homem vagueia
Pelos abertos do capão de símbolos que observam
Passos dos quais os de alguém que se adotam.

Tais são os longos ecos de longe ressoam
E se misturam em uma união escura e profunda,
Vasta qual a noite e clara qual o meio-dia, assim
Perfumes, sons e cores se correspondem.

Alguns aromas têm o cheiro fresco da pele das crianças,
Suaves quais oboés, verdes dos campos na primavera
- E outros são corrompidos, ricos, triunfantes.

Exalando larga qual todas coisas infinitas,
Âmbar gris, almíscar, benjamim e incenso,
Que cantam êxtases da alma e dos sentidos.
 
Correspondências

A natureza é um templo, onde colunas vivas, 
às vezes, respiram um discurso confuso;
O homem pisa entre bosques de símbolos,
Cada um deles o vê uma coisa semelhante.

Como os longos ecos, sombrios, profundos,
Ouvidos de longe, se misturam em união,
Vasta qual a noite, e, a claridade do sol,
Assim perfumes, cores e os sons podem se retribuir.

Odores existem, frescos qual a pele de um bebê,
Suaves tais oboés, verdes tais a grama do prado.
-Outros corrompidos, ricos, triunfantes, plenos.

Com dimensões infinitamente vastas,
Incenso, almíscar, âmbar gris, Benjamin,
Cantando o êxtase dos sentidos e da alma.
Albatroz

Muitas vezes, quando enfadados, os marujos,
Prendem albatrozes, as grandes aves dos mares,
Viajantes suaves que acompanham no azul
Navios que deslizam nos mistérios do oceano.

E quando os marujos os prendem nas pranchas,
Feridos e indecisos, esses reis de todos os ares
Deixam, lamentosa, rastros em teus flancos
Grandes asas alvas, arrastando remos vãs.

Este viajante, como é cômico e fraco!
Outrora belo, como é impudico e inepto!
Um marinheiro enfia um cachimbo em teu bico,
Outro zomba do passo manco do voador.

O poeta é como o príncipe das nuvens
Que assombra a tempestade e ri do arqueiro;
Exilado no chão em meio às zombarias,
Tuas asas enormes o impedem de andar.
 
 Albatroz
Muitas vezes, para se divertirem, marujos
Pegam albatrozes, grandes aves desses mares,
Que seguem, indolentes companheiros de viagem,
O navio deslizando nos amargos abismos.

Assim que os colocam nas pranchas do convés 
Esses reis do céu, desajeitados e vexados,
Deixam suas grandes asas quaradas céu,
Como remos, se arrastem para lado deles.

Esse viajante alado, tão canhoto e fraco!
Ele, outrora tão belo, é tão bufo e feio!
Um deles irrita seu bico com cachimbo,
Outro imita, mancando, aleijado que voou!

O poeta é como o príncipe dessas nuvens,
Que assombra a tempestade e ri desse arqueiro;
Exilado no chão em meio ao pio do convés,
Tuas asas gigantescas o impedem de andar.

 À une indienne

Amor pelo incógnito, suco da maçã antiga,
A velha perdição da mulher e do homem,
Curiosidades, sempre as fará
Desertar, como fazem as aves, essas infecundas,
Por uma miragem longínqua e céus menos prósperos,
O teto perfumado pelos caixões de seus pais.
 
 OS OLHOS DA BELEZA
Vós és um céu de outono, pálido e rosado;
Mas todo o mar de tristeza em meu sangue
Surges, e refluis, deixando meus lábios morosos,
Salgados com a lembrança do amargo dilúvio.

Em vão tua mão desliza sobre meu peito fraco,
O que buscas, meu amado, é profanado
Por dentes e garras de mulher; ah, não mais
Busque em mim um cerne que os cães comeram.

É uma ruína onde descansam os chacais,
E rasgam, atassalham, se empanturram e matam -
Um perfume nada em teu peito nu!

Encanto, duro flagelo dos espíritos, faça tua passagem!
Com olhos flamejantes, festas intensas se acenderam
Queime esses farrapos que as feras pouparam!
 
 SONETO DE OUTONO.
Eles me dizem, teus olhos claros e cristalinos:
"Por que me ama tanto, estranha amante minha?"
Sejas doce, fiques quieto! Meu íntimo e alma desprezam
Tudo, menos essa tua fé antiga e bruta;

E não revelarão o segredo de tua vergonha
A ti, cuja mão me acalma para um longo sono,
Nem tua lenda negra escreverá para ti em chamas!
A paixão eu odeio, um espírito me faz mal.

Amemos de modo gentil. Amor, de teu retiro,
Emboscado e sombrio, inclina teu arco fatal,
E eu conheço muito bem tuas antigas flechas:

Crime, horror, loucura. Ó Margarida pálida,
És como eu, um sol brilhante caído no chão,
Ó minha tão branca, minha tão fria Margarida.
 
O REMORSO DOS MORTOS
Ó sombria Beleza, minha, quando dormiras,
No íntimo profundo de uma campa de mármore negro;
Quando tiveres por mansão e por refúgio
Apenas caverna chuvosa de escuridão oca;

E quando a pedra sobre teu peito trêmulo,
E sobre a graça maleável de teu corpo reto e doce,
Esmagas vontade e mantém teu íntimo em repouso,
E retém esses pés de tua corrida afoita;

Então o túmulo profundo, que compartilha meu devaneio,
(Pois o túmulo profundo é sempre o amigo do poeta)
Durante as longas noites em que o sono está longe de ti,

Sussurrará: "Ah, não entendeu, dirás
Os mortos choraram assim, tua mulher frágil e fraca".
E, como o remorso, o verme roerá tua face.
 A Musa Venal

Ó
musa, minha, apaixonada por palácios,
Será que, quando janeiro lançar teus ventos,
No tédio negro das noites de neve, achar toras 
meio queimadas para aquecer seus pés roxos?

Teus ombros manchados, se aquecerão
Quando raios de luar penetrarem pelo vidro de nossa janela?
Sabendo que tua bolsa e teu paladar estão secos,
Ide tu buscares ouro nos cofres azuis?

Tu precisas, ganhar teu magro pão da noite,
Acólito entediado, vibrar os incensários, cantar
Te Deums para os deuses nunca presentes,

Qual palhaço faminto, botar teus encantos à venda,
Riso mergulhado em lágrimas para os olhos 
de ninguém, para divertir a multidão vulgar.
O monge mau
Quais antigos mosteiros sob paredes sólidas
Exibiam quadros da santa Confiança, aquecer
Interior dos homens naqueles corredores frios
Contra o frio desse teu rigor nesse mosteiro.

Naqueles tempos, quando as sementes de Cristo
 floresciam e cresciam, mais de um monge, 
cá no anônimo, tomando campo-santo teu estúdio,
Enobreceu a morte, com toda a candura.

-Minha alma é um túmulo, mau cenobita,
Desde a eternidade tenho vagado e habitado;
Nada embeleza as paredes deste odioso claustro.

Ó monge preguiçoso, quando saberei fazer
Contemplação vivo de minha triste miséria
O trabalho de minhas mãos e o amor de meus olhos?
 
L’Ennemi

Q
uando eu era jovem, vivia em um toró constante,
Embora de vez em quando o sol cintilasse,
Então, em meu jardim, poucas frutas rubras surgiram,
A chuva e os trovões tinham muito o que fazer.

Agora estão chegando os dias de outono de reflexão,
E eu devo usar o ancinho e a pá para cuidar,
Reconstruir e cultivar a terra devastada
A água erodiu intensamente quais túmulos.

E quem sabe se as flores em minha mente
Nesta pobre areia, varrida qual numa praia, acharão
O alimento da alma para ganhar começo saudável?

Eu choro! Eu choro! A vida alimenta a boca das estações
E aquele Inimigo sombrio que rói nossos corações
Se nutre do sangue que flui em tuas mandíbulas!

Vida passada

D
urante muito tempo vivi sob vastos pórticos
Que os sóis do mar tingiam com mil fogos,
E teus grandes pilares, retos e majestosos,
Faziam com pintassem tocas de basalto à noite.

As ondas, jorrando as imagens dos céus,
Misturavam-se de maneira solene e mística
Os acordes poderosos de tua rica música
Com cores pôr do sol pensadas em meus olhos.

Era ali que eu vivia em uma calma volúpia,
Em meio ao azul, às ondas, aos esplendores
E escravos nus saturados de perfume,

Que afrescavam minha testa com palmas das mãos,
E cuja única preocupação era aprofundar
No dorido mistério que me fazia então ansiar.
 
Bohémiens en voyage
 A tribo profética com olhos ardentes
Ontem partiu, carregando teus filhotes
Nas costas, ou entregando a teus altivos apetites
Num tesouro sempre perto em tetas penduradas.

Os homens vão a pé com tuas armas intensas
Ao longo das carroças onde os teus estão apinhados,
Com os olhos embotados no firmamento,
Com o triste pesar das quimeras ausentes.

Das profundezas de tua morada arenosa, o grilo,
Vendo-os passar, redobra tua canção;
Cibele, que os ama, aumenta tua vegetação,

Faz a rocha fluir e o deserto florescer
Diante desses viajantes, para os quais está aberto
Nesse império familiar da escuridão futura.

O HOMEM E O MAR

H
omem livre, sempre tu valorizarás o mar!
O mar é teu espelho; contempla tua alma
No infinito desenrolar dessas tuas ondas,
E teu espírito não é menos amargo que abismo.

Se deleita em mergulhar no seio de tua imagem;
Abraças com teus olhos e braços, e teu coração
Às vezes se distrai de teu próprio rumor
Ao som dessa queixa selvagem e indomável.

Tu és ao mesmo tempo sombrio e discreto,
Homem, ninguém sondou os imos de teus abismos;
Ó mar, ninguém avalia tuas riquezas íntimas,
Tão cioso é de guardar teus segredos!

E ainda assim, por incontáveis séculos
Lutaste sem piedade ou de remorso,
Tão afeiçoados por dispersão de sangue e morte,
Ó eternos lutadores, ó irmãos inexoráveis!
 
Vida passada

Eu já vivi sob abóbadas vastas e com colunas
Tingidas com mil fogos de sóis oceânicos,
De modo que grandes e retos pilares se tornavam,
À luz da noite, como grutas de basalto.

Em ondas rolaram as imagens dos céus;
Com força solene e mística o mar combinava
Suas harmonias, todo-poderosas, sublimes,
Com cores do pôr do sol, brilhando em meus olhos.

Então lá eu vivia, em uma calma voluptuosa
Cercado pelo mar, por um azul esplêndido,
E por meus escravos, perfumados, formosos e nus,

Que esfriou minha testa com as palmas das mãos,
E tinha um único cuidado - sondar e tornar mais profundo
O que me fazia sofrer tanto, minha dor secreta.
 
 Beleza

S
ou adorável, ó mortais! Qual um sonho de pedra,
E meu peito, onde cada um é ferido por sua vez,
É feito para inspirar no poeta um amor
Eterno e mudo tal qual a matéria.

Eu reino no azul uma esfinge inescrutável;
Uno o peito de neve à alvura dos cisnes;
Odeio a oscilação que perturba as linhas,
E eu nunca rio e eu nunca choro.

Os poetas, diante de meu porte altivo,
De um ar transposto dos marcos mais altivos,
Consumirão seus dias em estudos austeros;

Pois eu tenho, para abismar esses dóceis amantes,
Puros espelhos que tornam todas as coisas mais belas:
Meus olhos, para sempre lúcidos olhos arregalados!
 
A Dança da Serpente

C
omo eu gosto de ver, valiosa impassível,
De seu belo corpo,
Qual num tecido cintilante,
O brilho da pele!

Em seu cabelo sem fundo
Com seus aromas acre,
Mar perfumado e andarilho,
Com suas ondas marrons e azuis,

Como um navio que se inclina
Ao vento da manhã,
Minha alma sonhadora zarpa
Para um céu distante.

Seus olhos, onde nada é revelado
Nem doce nem amargo,
São duas joias frias em que se embaralham
Ferro com ouro.

Para ver você marchar em cadência,
Linda com abandono,
É como ver uma serpente dançar
Na ponta de um bastão.

Sob o peso de sua molúria
A cabeça de seu filho
Equilibra-se com o apego
De um jovem elefante,

E seu corpo é afligido e teso
Como um belo navio
Que rola de um lado para o outro e mergulha
Suas jardas na água.

Como uma maré inchada pela fusão
De geleiras que gemem,
Quando a umidade da sua boca acha
A borda de seus dentes,

Parece que bebo um vinho da Boêmia,
Bem-sucedido e acre,
Um céu líquido que semeia
Meu peito com estrelas.

 LE VAMPIRE

T
u, que como um golpe de faca,
Entrou em meu peito triste;
Tu, que poderoso qual uma horda
De demônios, veio, selvagem e blindado,

Para fazeres de meu espírito humilhado
Qual teu leito e teu domínio;
-Infâmia a quem estou preso
Qual um condenado à cadeia,

Como o jogador ao jogo,
Como o ébrio para a garrafa,
Como a carniça para as larvas
-Maldito, seja anátema!

Eu rezei para que a espada veloz
Para difundir-se minha liberdade,
E pedi ao pérfido veneno
Para aliviar minha covardia.

Ai de mim! o veneno e a espada
disseram com desdém:
"Você não merece ser aliviado
De sua maldita escravidão,

"Imbecil! -se de seu império
Nossos esforços o libertassem,
Seus beijos ressuscitariam
O cadáver de seu vampiro!"

Incompatibilidade

M
ais alto, mais alto, longe das passagens,
das fazendas e dos vales, além das árvores,
indo além das colinas e da névoa da grama,
longe das tapeçarias pisoteadas pelo rebanho,

Descobres uma piscina sombria nos imos
que algumas elevações nuas e cobertas de neve formam.
O lago, no sono sublime da luz e da noite,
nunca é perturbado em sua tempestade muda.

Naqueles resíduos lúgubres, para o ouvido inseguro,
vêm sons fracos e arrastados, mais mortos que o sino,
de alguma vaca distante, os ecos não são claros,
enquanto ela pasta na encosta de um vale distante.

Nas colinas onde o vento apaga todos os sinais,
naquelas geleiras, torradas pela luz pura do sol,
naquelas rochas, onde a tontura ameaça a mente,
no vermelhão daquele lago, presságio da noite.

Sob meus pés e acima de minha cabeça,
o silêncio, que lhe faz querer fugir;
aquele silente eterno, do leito montanhoso
desse ar tão imóvel, onde tudo espera.

Dirias o que o firmamento, em sua solidão,
olhava para si mesmo no vidro e, lá do alto,
que as montanhas ouviam, em grave vigilância
ao mistério que nada que é humano pode ouvir.

E quando, por acaso, uma nuvem errante
escurece o lago silente, acontecendo,
Podes pensar que viu o manto de algum espírito,
Ou então sua sombra clara, viajando, sobre o céu.
 
Madame crioula

E
m uma terra perfumada acariciada pelo sol
Achei, sob a copa carmesim das árvores,
palmeiras das quais a languidez se derramou sobre olhos, 
Dos encantos velados duma senhora crioula.

Seu matiz pálido, mas quente, sedutora de velos enevoados,
ela mostra em seu pescoço a mais nobre das maneiras:
sendo esbelta e alta, ela pisa como uma caçadora,
de seu sorriso tranquilo, olhos cheios de fiança.

Se viajasse, minha senhora, para a terra da exata glória,
às margens do Sena ou do verde Loire, uma beleza
digna de enfeitar as mansões dos velhos tempos,

Inspiraria, entre os segredos sombrios das árvores,
Com todos mil sonetos nos corações dos poetas,
a quem, mais do que negros, vastos olhos livres servos.

Rebelde.
Um anjo salta como uma ave de rapina,
Agarra o pecador firmemente pelos cabelos,
Sacudi-o com fúria: 'Ouça-me e obedeça!
Sou seu anjo bom e farei com que se importe.

Saiba então que deves amar, e com boa vontade
O pobre, o deformado, o mesquinho e o estúpido de peito.
Aos pés de Jesus, um tapete se colocará ante ti,
De bondade amorosa tecida; - pois ser bondoso

É lhe sendo amor. Não deixe teu peito esfriar,
Mas, para a glória de Deus, deixe a chama tomar conta
De beleza duradoura, o brilho constante do certo êxtase".

O Anjo, assim, castigando em nome do Amor,
Com garras gigantes rasgam o corpo de tua vítima;
Mas, estando maldito, o infeliz ainda objeta: "Não!
 
A DANÇA DA MORTE
 Entrando e, carregando buquê, lenço e luvas,
Orgulhosa de Tua altura quando vivia, ela se move
Com toda a graça descuidada e de passos largos,
E o rosto fino da extravagante cortesã que ouve.

Uma vez a cintura mais fina foi cortejada salão de baile?
Teu manto cândido flutuante, de real intensidade,
Em dobras profundas em torno de um pé seco, calçado
Com um sapato viva em forma de flor que enfeita o gramado.

Os enxames que zumbem em tuas clavículas
Enquanto as correntes lascivas acariciam as pedras,
Escondem de toda brincadeira desdenhosa que voa,
Tua beleza sombria; e os teus olhos insondáveis.

São feitos de sombra e vazio; com ramos floridos
Teu crânio é artisticamente enfeitado e balança,
Tão débil e fraco, em tuas frágeis vértebras.
Ó encanto, deste nada enfeitado de loucura!

O que riem e lhes o chamam de Caricatura,
Não vê em, a quem a carne e o sangue seduzem,
A graça sem nome de cada osso nu e branqueado
Que me é mais caro, desse esqueleto altivo!

Venha perturbar com tua potente zombaria
A festa dessa vida! Ou és levado para cá,
Para o sábado prazer, por desejos mortos se agitam
E que açodam teu cadáver em agitação com uma espora?

Ou esperas, quando cantam os silentes violinos,
E a pálida chama de a vela fulgurar nossos pecados,
Para afastar para longe algum pesadelo zombeteiro,
E esfriar a chama que o inferno acendeu em teu peito?

Nesse poço insondável dessas falhas e tolices!
Eterno alambique dessa angústia tão antiga!
Ainda sobre a treliça alva e curva de teus lados
A serpente errante e sem sela se enrola e desliza.

E, verdade seja dita, temo que não há encontres,
Entre nós aqui, nenhum amante para teu pensar;
Qual desses peitos bateu pelo sorriso que deste?
Os encantos do horror não agradam a ninguém.

O abismo negro de teus olhos, onde se pulsam terríveis 
pensar, trazes vertigem; folião prudente, olhas, 
enquanto horror o agarra, do eterno sorriso 
de trinta e dois dentes brancos inscritos na goela.

Para aquele que não dobrou em teus braços
Um esqueleto, nem se alimentou de encantos de cemitério,
Não se lembra de penas, tintas ou aromas,
Quando o horror vem pela passagem que encanto percorreu.

Ó irresistível, com rosto sem carne, faceta esqueleto,
Diga a esses dançarinos em tua corrida deslumbrada:
"Amantes orgulhosos com a pintura acima de teus ossos,
Provarão a morte, esqueletos com cheiro de almíscar!

Antínoo murcho, dândis com rostos rechonchudos,
De cadáveres envernizados e amores idos cinzentos,
Ide para terras desconhecidas e sem fôlego,
Atraídos pelo rumor desta Dança da Morte.

Dos cais frios do Sena ao fluxo ardente do Ganges,
As trupes mortais dançam em um só sonho;
Elas não veem em, no firmamento aberto,
A trombeta sinistra do anjo erguida no alto.

Em todo clima e sob todo sol fazes sombras de ti,
A morte ri de vós, loucos mortais, enquanto correis;
E muitas vezes se perfuma com mirra, como vós
E que se misturais à vossa loucura, ironia!"
 
 O GATO

Mais adorável, deite-se em meu peito,
Em sua pata suas garras se dobram,
Deixe-me achar chaves em seus olhos -
Seus olhos de ágata com bordas de ouro!

Pois quando meus dedos lânguidos se movem
Ao longo de suas costas ondulantes, e todos
Meus sentidos vibram de prazer
Em uma suavidade tão elétrica.

Rosto de minha esposa surge em meu pensar;
Teus olhares frios e misteriosos me trazem,
Doce fera, estranhas lembranças dela
Que cortam, flagelam e picam!

Da cabeça aos pés, um ar sutil
Envolve a floração sombria de teu corpo,
E por toda parte a acompanha
Sendo um perfume tênue e crespo.
 
A TRISTEZA DA LUA

A Lua, mais apática sonha mais indolente esta noite
Do que uma bela mulher em seu leito de repouso.
Acariciando, com uma mão perturbada e leve,
Antes que durma, desse contorno de seu peito.

Em sua avalanche de seda penugem,
Ao morrer, dá um longo e longo e desmaiado suspiro;
E observa as visões alvas passando por ela,
Que se erguem quais flores para o céu azul.

E quando, às vezes, envolta em seu profundo langor,
Para a terra deixa uma furtiva gota de lágrima,
Algum poeta piedoso, esse inimigo do sono,

Toma em sua mão oca a lágrima de neve
De onde partem brilhos de íris e de opala,
E a oculta do sol, no fundo de seu coração.
Duelo

D
ois guerreiros se enfrentaram, espalhando pelo ar
Com jorros de sangue e brilhos de aço. Essa luta,
De jogos turbulentos, barulhos estridentes vinham
De amantes que despertavam para a vida.

Chapas estão falidas agora, tal nosso próprio viço,
Mas dentes e unhas assumiram os papéis
Que outrora eram da espada mordaz e da faca traiçoeira.
- Tanta raiva em peitos mais velhos e cheios de amor!

Nossos heróis, presos em um combate cruel, lutam
E jorram nessa ravina com o leopardo e o lince;
São pedaços de sua pele florescerão nos arbustos.

- Esse abismo é o inferno, povoado por nossos amigos!
Vamos pular para lá sem remorso, amazona desumana,
Para então eternizar desse ardor de nosso ódio!
CHARLES BAUDELAIRE - ÉRIC PONTY
  
   ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA