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terça-feira, setembro 02, 2025

LES FLEURS DU MAL (FRAGMENTS INEMPLOYÉS). - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

 LES FLEURS DU MAL
(FRAGMENTS INEMPLOYÉS).

 
I
BRIBES.

Anjos vestidos de ouro, púrpura e jacinto.
O gênio e o amor são tarefas fáceis.
Amassei lama e a transformei em ouro.
Teus olhos mostravam a força de teu peito.
Em Paris, teu deserto vivia sem fogo ou lugar,
Forte qual uma fera, livre qual um Deus.

O GOINFRE.
Enquanto eu moía, ria dos transeuntes famintos.
Eu morreria como uma concha,
Se não me absorvesse como um cancro.
Teu olhar não era indiferente ou tímido,
mas sim exalava algo ganancioso,
E, como tua narina, expressava as emoções
dos artistas diante das obras de teus dedos.

Teu viço será mais rico em tempestades
Do que esta canícula de olhos brilhantes
Que em nossas testas pálidas torcem teus braços em suor,
E sopra teu hálito febril na noite,
Faz com moças se arrebatem por teus corpos frágeis,
E os transforma em estéreis espelhos lascivos,
Contemplar os frutos maduros de tua virgindade.

Mas posso ver por esse olhar tempestuoso
Que teu coração não foi feito para festejos pacíficos,
E que essa beleza, escura tal que o ferro,
É uma daquelas forjadas e polidas pelo Inferno
Para realizar um dia terríveis luxúrias 
E atormentar os corações de humildes criaturas.

Um enorme travesseiro enfraqueceu sob teu peso,
Um belo corpo jazia ali, doce de se ver dormido,
E teu sono adornado com um sorriso soberbo.

O sulco em costas era efeito dum desejo atônito.

O ar estava impregnado de uma fúria amorosa;
Insetos voavam pela lâmpada e nenhum vento
Não agitava a cortina ou o toldo.
Era uma noite quente, um correto banho de viço.

Grande anjo que usa em teu rosto orgulhoso,
A escuridão do inferno de onde ascendeu-se;
Domador feroz e gentil que me botou em uma jaula
Para fazer uma contemplação de tua crueldade,

Pesadelo de minhas noites, sereia sem corpete,
Que me puxa, sempre ao meu lado,
Por meu manto de santo ou minha barba sábia
Para me oferecer o veneno do amor sem vergonha;

DAMNAÇÃO.
A margem dura e inextricável,

A passagem estreita, do voraz redemoinho,
sacudido menos areia e algas impuras

Do que nossos corações, onde tanto céu se reflete;
Eles são um píer com um ar nobre e maciço,
Onde o farol brilha, uma estrela benéfica,
Mas minado pelo alcatrão corrosivo;

Eles ainda podem ser comparados a esta pousada,
A fé dos famintos, onde os comensais noturnos batem à porta,
Feridos, quebrados, xingando, implorando por abrigo,
O colegial, o prelado, o escroque e o subornador.

Eles não voltarão para os quartos fedorentos;
Guerra, ciência, amor, nada mais nos quer.
A lareira estava fria, as camas e o vinho cheios de insetos
Esses visitantes, nós devemos servi-los de joelhos!

SPLEEN.

[SONNET.]


Eu amo seus grandes olhos azuis, teu cabelo ardente
Com estranhos aromas,
Teu belo corpo alvo e rosa, e tua saúde poderosa
Digno dos antigos jousters.

Adoro teu ar soberbo e teu vestido indecente
Mostrando a redondeza
De tua garganta rechonchuda com tua forma abundante,
Admirada pelos escultores.

Adoro teu mau gosto, tua saia colorida,
Tua grande amura coxa, tua fala desarticulada
E tua testa estreita.

Eu gosto dela assim, que pena! Essa garota de rua
Me intoxica e me fascina com tua beleza crua.
Não importa, eu a amo assim!

[PRIVAT D'ANGLEMONT.]

 

 A UNE BELLE DÉVOTE.

O que vimos neste século - mesmo um dia – 
quando abades galantes, sem achar crueldades,
Liam teu breviário no travesseiro da bela;
Quando Bernis amava Pompadour qual Madonna!

Esses tempos se foram, se foram sem retorno,
Quando, com pés libertinos, corriam pelas vielas,
E enfrentavam as chamas eternas do inferno
Nos boudoirs rochosos em chamas de amor.

Oh, porque não existimos, tudo por Deus, senhora;
Eu, todo para o sentimento que tua virtude reprova;
Nós dois apegados à nossa verdadeira adoração.

Eu teria tomado a tonsura, - e, o que sabemos? talvez,
Enquanto confidenciar a vós, teríeis acolhido que eu estivesse
Por metade de uma noite em teus divinos pecados.

AS CAMAS.


A
lgumas são atraentes em tuas alcovas rosadas,
Que pensaria que são ninhos com cortinas,
Que poderiam contar histórias graciosas.
Há pequenas que parecem berços,
Há outras assustadoras que parecem túmulos.

Que leitos repulsivos para os doentes!
Onde os torturados, retorcidos pela dor,
Sentem sobre si as mãos dum carrasco cruel!
Quantos colchões manchados com o pus das feridas!
Almofadas molhadas com as lamúrias do peito!

Camas, convosco contém toda a nossa vida:
Sempre miseráveis, doentes ou loucos,
Nascemos, amamos e morremos em ti.
Sabes tudo sobre nossa miséria e nossa escória.
Ó que sabe tudo, tenha piedade de nós!

Dê-nos muitas noites felizes em teu leito,
Tentem reunir o amante com o amante;
Tornem-se afetuosos para o momento divino,
E quando as carícias felizes cantarem,
Deixem as cortinas leves ondularem doce!

Quando viermos descansar nossas vértebras contigo,
De nossos sonhos banirem com visões lúgubres,
Seja a cerveja refrescante onde dormimos sozinhos,
E faça com que a escuridão seja tão reconfortante para nós
Quando teus lençóis alvos se tornam nossas mortalhas.

A UNE JEUNE SALTIMBANQUE.


N
ós afeiçoávamos amá-lo, quando em tua triste harpa
Dedilhavas o romance, e em uma encruzilhada,
Para atrair a multidão para ver teus saltos de carpa,
Uma criança escrofulosa tocava um tambor;

Quando estavas atribulada, torcendo teu lenço,
Algum atleta vestido de camisa, Alcide faz o truque,
Admirado pelos burgueses, escarafunchado pela polícia,
Que pesa cem quilos e o chama de mamour.

Teu violão rouco e tua saia de lantejoulas 
espalham o sonho dos poetas diante de nossos olhos,
A dançarina de Hoffmann, Esmeralda, Mignon.

Mas agora caída, aqui estás, meu pobre anjo,
Sultana da calçada, juntando na lama o dinheiro 
que deve embebedar teu rude companheiro.

 [AI. PRIVAT D'ANGLEMONT.]

Teu cabelo é loiro e teus olhos são úmidos?
Tu tens olhos para encantar o mundo?
São tão gentis ou cruéis? Orgulhosos ou tímidos?
Tu mereces que escrevam sobre ti?

Enrolas galante teus chåles em chlamydes?
Usas um brasão de armas de Gules ou Vairs?
Conheces o segredo dos altivos Armides?
Ou suspira sob tuas sombras tão verdes?

Se teu corpo polido se torce qual uma árvore jovem,
E se o pesado damasco, em teu peito de mármore,
Qual um rio em cólera transborda em correntes móveis,

Se todas tuas belezas são dignas de apreensão,
Não deixes meu sonho correr para todos os ventos,
Belle, venha então, e pose diante de teu poeta.

[AI. PRIVAT D'ANGLEMONT.]

SONNET CAVALIER.

A M E. M..., Gentille femme.

Por que me ama, minha bela amante?
Só tem sorrisos felizes para mim,
E muito depois do dia, no sofá de seda
Sabes acariciar-me minha preguiça com beijo.

Sou eu, para amá-la, loira encantadora,
Um tímido colegial que sonhas com teus olhos
E cora quando a testa sente teu cabelo tremer
Cuja brisa lasciva espalha uma trança?

Sou uma beleza refinada, vencedora do universo,
Jogando a tocha flamejante ao vento por palavra errada,
Fazendo de tua pose mais feroz para amar?

Não! Mas sou a única cujo sopro ousado,
Ó fria, Galatea, vem, quando me atrevo,
Lhe aquecer um pouco mármore inerte. 

CI. P. d'A. [sic.]

 SONNET.

A Mme Anna B...

Quando a brisa de abril afasta os outonos,
E dourou todas as coisas,
Anna, retornas com a doce primavera
Que faz as flores desabrocharem;

Vendo tão encantadora, 
alguém poderia pensar que o tempo em tuas metamorfoses,
Para embelezá-la, nos prados intensos
Tomou o roxo das rosas.

Quando lhe temos, o que o sol nos faz
Com raios dourados, flores com cálices rubros?
Tua face é mais bela!

Por que imitar, no inverno chuvoso,
A andorinha selvagem,
E nos privar do brilho de teus olhos?

Alex. PRIVAT D'ANGLEMONT.

CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

 

  ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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