Pesquisar este blog

quarta-feira, setembro 13, 2017

Me denodo enjeito - Eric Ponty



Alma amaina casta, que eu lhe persigo
Com Minh ‘ideia de amor e de pecado,
Benzida sejas, tu benzida sejas
Rigidez que te acodes é meu perigo.
Assim excluas sempre meu tratado
Teus olhares; nem escutes que eu digo;
E assim possa perecer, vou comigo,
Este amor delituoso e condenado.
Sê sempre casta! Eu me denodo enjeito
Duma aventura obtida com teu dano,
Bem meu que de teus males fosse eleito"-
Assim ajuízo, assim quero, me dano...
Como si não notasse que em meu peito
Pulsando o medroso cerne humano.
Eric Ponty

À tarde, mas ela insiste - Eric Ponty



 À Carine
Eu não almejo bem do que eu mais desejo:
Sou maldito, e disso me conduz convencido;
Vossas palavras vagas, com que sou punido,
São penas das faltas verdades de sobejo.
O que dizeis é mal soberbo mui sabido,
Pois nem se abriga nem flui na busca do ensejo,
E ainda à vista naquilo é visto que mais vejo:
Em vosso olhar, Ágata severo ou distraído.
Tudo quanto afirmais Minh ‘alma eu cismo alegro:
Ao meu amor em vão repudiado em riste
Toda a esperança de alçar –vos te entrego.
Digo-lhe quanto sei, à tarde, mas ela insiste;
Conto-lhe o mal prevejo, e ela, que és tão cega.
Põe-se a presumir do bem que é não existir.
Eric Ponty

Duma quase flor nada - Eric Ponty



À Carine
Belas, galantes, flores lívidas, altivas.
Qual tu mesma, outras consortes em ti desejo:
São damas, e segue-te vivaz dum cortejo
Extensa multidão Núbia de feitios cativos.
Têm brancura do mármore imortal;  lascivas
Feitios; os lábios feitos para o teu desejo ;
E impassível e desdenhoso vulto a vejo
Belas, galantes, flores lívidas, altivas...
Porque? Porque lhes falta vida todas delas.
Mesmo ás que são mais duras e demais tão belas.
Detalhe fez sutil, duma quase flor nada:
Falta-lhes compaixão que em mim tu me exaltas,
E entre as graças odor do que brilha, que exalas
A vaga graça luz da mulher fez amada.
Eric Ponty