Pesquisar este blog

sexta-feira, agosto 04, 2017

Ao Leitor - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty



Ao Leitor

Insensatez e erro, da miséria e pecado
Possuir nossas almas cansar nossa carne.
E, como um cão, alimentamos nosso pesar manso
Quão os mendigos levam a comer seus piolhos.

Nossos pecados são teimosos, nossa contrição;
Damos generosos nossos votos de fé
E voltam alegres com passagem entulho,
Pensar que os prantos vão lavar nossas nódoas.

Na almofada do mal está o alquimista
Satã Trimegistro, serena nossa alma cativa,
E todo o metal mais rico da nossa vontade
É sublimado por suas artes herméticas.

Realmente o Diabo puxa todas nossas cordas!
No grosso objetos repugnantes, achamos encantos;
Cada dia estamos um passo adiante no inferno,
Teor para se mover pelo meio do poço fétido.

Como um libertino pobre vai chupar e beijar
A triste e atribulado seio duma velha puta,
Nós furtamos prazer furtivo quando passamos,
Uma laranja moída que cingimos e apertamos.

Fechar, fervilhar, quão um milhão de vermes,
Tumultos duma nação infernal nas nossas cabeças,
E, quando respiramos, morte flui nossos pulmões,
Um fluxo secreto de gritos abafados e deploráveis.

Se matar, ou se ardor criminoso, veneno, estupro
Ainda não adornamos nossas boas ideações,
A tela banal de nossos destinos deploráveis,
É só que nosso espírito não tem seiva.

Mas lá com todos chacais, panteras, mastins,
Os macacos, escorpiões, abutres, cobras,
Uivam, gritam, grunhindo, brutos rastejantes,
Numa infame coletânea de nossos vícios,

Uma criatura apenas é mais suja e infida!
Apesar não faça bons gestos, nem grandes gritos,
Ele voluntariamente devastaria a terra
E em uma andorinha mordida em todo o mundo;

Ele é Ennui!  - Com olhos cheios choros ele sonha
De andaimes, enquanto sopra cachimbo d´água.
Leitor, tu conheces este monstro meigo também;
- Leitor hipócrita, - companheiro, meu irmão!
Tradução Eric Ponty

AU LECTEUR
A SOTTISE, L’ERREUR, LE péché, la lésine,
Occupent nos esprits et travaillent nos corps,
Et nous alimentons nos aimables remords,
Comme les mendiants nourrissent leur vermine.

Nos péchés sont têtus, nos repentirs sont lâches ;
Nous nous faisons payer grassement nos aveux,
Et nous rentrons gaiement dans le chemin bourbeux,
Croyant par de vils pleurs laver toutes nos taches.

 Sur l’oreiller du mal c’est Satan Trismégiste
Qui berce longuement notre esprit enchanté,
Et le riche métal de notre volonté
Est tout vaporisé par ce savant chimiste.

C’est le Diable qui tient les fils qui nous remuent !
Aux objets répugnants nous trouvons des appas ;
Chaque jour vers l’Enfer nous descendons d’un pas,
Sans horreur, à travers des ténèbres qui puent.

Ainsi qu’un débauché pauvre qui baise et mange
Le sein martyrisé d’une antique catin,
Nous volons au passage un plaisir clandestin
Que nous pressons bien fort comme une vieille orange.

Serré, fourmillant, comme un million d’helminthes,
Dans nos cerveaux ribote un peuple de Démons,
Et, quand nous respirons, la Mort dans nos poumons
Descend, fleuve invisible, avec de sourdes plaintes.

Si le viol, le poison, le poignard, l’incendie,
N’ont pas encor brodé de leurs plaisants dessins
Le canevas banal de nos piteux destins,
C’est que notre âme, hélas ! n’est pas assez hardie.

Mais parmi les chacals, les panthères, les lices,
Les singes, les scorpions, les vautours, les serpents,
Les monstres glapissants, hurlants, grognants, rampants,
Dans la ménagerie infâme de nos vices,

Il en est un plus laid, plus méchant, plus immonde !
Quoiqu’il ne pousse ni grands gestes ni grands cris,
Il ferait volontiers de la terre un débris
Et dans un bâillement avalerait le monde ;

C’est l’Ennui ! — l’œil chargé d’un pleur involontaire,
Il rêve d’échafauds en fumant son houka.
Tu le connais, lecteur, ce monstre délicat,
 — Hypocrite lecteur, — mon semblable, — mon frère!
Charles Baudelaire

A Dante ALIGHIERI II - Michelangelo Buonarroti Rime – Tradução Eric Ponty



A Dante ALIGHIERI II
Qualquer língua pode falar deve ser dito,
Pois, olhos cegos, esplendor brilhou muito forte;
"É mais fácil culpar daqueles fizeram errado,
Doente soar menos louvor boca de ouro.
Ele a abusou parte dor era afoita,
  Então subi a Deus, instruir almas por canção;
  O céu dos portões optou por sofrer os pés,
  Contra seu desejo, seu país jorrou.
Sem graça eu a chamei, e a sua própria dor
O mal foi com miséria; ao sinal, peguei isso,
  Isso sempre é a melhor causa mais aversão:
Entre mil provas, deixe-se de jazer;
Apesar nunca fosse dita mais torta do que a dele,
O seu igual ou seu melhor nunca brotou.

Quante dirne si de’ non si può dire,
ché troppo agli orbi il suo splendor s’accese;
biasmar si può più ‘l popol che l’offese,
c’al suo men pregio ogni maggior salire.
5 Questo discese a’ merti del fallire
per l’util nostro, e poi a Dio ascese;
e le porte, che ‘l ciel non gli contese,
la patria chiuse al suo giusto desire.
Ingrata, dico, e della suo fortuna
10 a suo danno nutrice; ond’è ben segno
c’a’ più perfetti abonda di più guai.
Fra mille altre ragion sol ha quest’una:
se par non ebbe il suo exilio indegno,
simil uom né maggior non nacque mai.
Michelangelo Buonarroti Rime – Tradução Eric Ponty


terça-feira, julho 25, 2017

Aldeia tangedor - John Clare – Tradução Eric Ponty



I.
Enquanto poetas precipitam finais ousados,
Raios do sol apanham a luz queimas da musa.
Um humilde rústico zuni seus sonhos humildes.
Longe na sombra onde a inópia se sai, e cantar
O que a natural e o que a verdade inspira;
Os dotes se originam do cenário rural,
Que ele nas pastagens nos bosques admira;
Os desportos, os sentimentos de sua infância,
E as coisas sem arte, quão são ruins a eles.
II.
Entanto, longe de tudo estudado confiou,
Ele não ansiou não pareceu renomado.
Entanto, poucas esperas rompem a sua noite.
A animar peito dum palhaço desesperado,
Onde descuido tetro lavra frustração contínua,
E ameaça seu fido inverno frio e frígido;
Onde a cruz e a servidão sustentam cada luxo,
Esses fariam disparar e cantar "apesar doente",
E forçá-lo se conter anseio mando do destino.
III.
O jovem Lubin era agreste de seu nascimento;
Seu pai um nascido da fenda e arado,
A derrubar o milho e a cultivar a terra,
A chance mais grosa que leis gênio permitem,
Ganhar a vida por uma sobrancelha cega;
Iniciais dias aflição banzé desigual,
Misturar-se com o trabalho inoportuno;
- Mas vós quão agora, aspectos ambiciosos
Dispararam sua pequena alma, e de luxuosos
Subiram e cantaram, "têm o mando da inópia".
John Clare – Tradução Eric Ponty