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sábado, novembro 08, 2025

SONHO PARISINO - CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

 À M. CONSTANTIN GUYS.

I

 
Dessa paisagem, qual mortal jamais viu!
Da mesma forma, esta manhã, a efígie,
Tão vaga e distante, que me encantou. 

O sono é cheio de milagres! 
Por um capricho singular, 
eu havia abolido dessas contemplações 
Deste vegetal irregular,

O Pintor ébrio pelo meu gênio, 
eu saboreava em meu quadro 
a monotonia entorpecente 
do metal, do mármore e d´água.

Uma Babel de escadas e arcadas, 
Era um palácio infinito, 
Cheio de bacias e cascatas 
Cascateando em douro mate ou polido;

E destas pesadas cataratas
Quais cortinas de cristal 
Se suspendiam, deslumbrantes, 
Em paredes de metal.

Não de árvores, mas de colunatas de milho 
Os lagos adormecidos se cercavam, 
Onde náiades colossais, e, imensas, 
Das quais mulheres, se espelhavam.

Náves de água se espalham, azuis, 
Entre margens rosas e verdes, 
Por milhões destas léguas, 
Até os confins do Universo;

Eram pedras inéditas 
E ondas mágicas! Eram 
Imensos espelhos deslumbrantes 
Por tudo o que refletiam!

Despreocupados e levianos, 
Do Ganges, no firmamento, 
Derramavam o tesouro de tuas urnas 
Em abismos de diamante.

Arquiteto das minhas fantasias, 
Eu fazia, à minha vontade, 
Sob um túnel de pedras preciosas, 
Passar um oceano domado; 

Tudo, até mesmo a cor preta, 
Parecia polido, claro, iridescente; 
O líquido encerrava tua glória 
Tal qual raio cristalino. 

Nenhum ar, nenhum reflexo do sol, 
E nem mesmo no fundo do céu, 
para iluminar esses prodígios, 
que brilhavam com fogo próprio!

Sobre essas surpresas em abalo pairava 
(terrível novidade!) 
Tudo para os olhos, nada para os ouvidos! 
Um silêncio desta eternidade. 

II

 
Ao reabrir meus olhos cheios de chamas, 
Vi o horror do meu casebre, 
E senti, penetrando em minha alma, 
A ponta das apreensões malditas; 

O relógio com teus tons fúnebres, 
Que bateu brutal o meio-dia, 
O céu derramava trevas 
Sobre o triste mundo inerte. 

CHARLES BAUDELAIRE - TRAD. ERIC PONTY

 ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA 

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