Pesquisar este blog

segunda-feira, novembro 10, 2025

Fiandeira - Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

 Sentada, a fiandeira em azul na janela
Onde o jardim melodioso balança;
A antiga roda de fiar que zumbe a rói.

Cansada, tendo ébrio o azul, de fiar a cabeleira, 
Com os dedos tão fracos e evasivos, 
Ela pensa, e tua cabecinha se inclina.

Um arbusto e o ar puro formam uma fonte viva 
Que, suspensa ao dia, rega aprazível
Com tuas gotas de flores o jardim do ócio.

Um galho, onde o vento vagabundo repousa, 
Curva a saudação vã de tua graça estrelada, 
Consagrando com admiração, ao velho tear, tua rosa.

Mas a dormente fia uma lã isolada; 
Mística, a sombra frágil se entrelaça 
Ao longo de teus dedos longos e dormidos, fiados.

O sonho desenrola-se com preguiça angelical, 
E incessante, ao teu doce fuso crédulo, 
Nestes cabelos ondulam ao sabor da carícia...

Por trás de tantas flores, o azul se esconde, 
Fiandeira de folhagem e com a luz grávida: 
Todo o céu verde morre. A última árvore arde.

Tua irmã, a grande rosa onde sorri uma santa, 
Perfuma tua face vaga com o sopro de teu hálito 
Inocente, e acreditas estar definhando... Tu estás extinta.

No azul dessa janela onde fiavas a lã.

Paul Valéry - Trad. Eric Ponty

  

 ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

Nenhum comentário: