Sentada, a fiandeira em azul na janela
Onde o jardim melodioso balança;
A antiga roda de fiar que zumbe a rói.
Cansada, tendo ébrio o azul, de fiar a cabeleira,
Com os dedos tão fracos e evasivos,
Ela pensa, e tua cabecinha se inclina.
Um arbusto e o ar puro formam uma fonte viva
Que, suspensa ao dia, rega aprazível
Com tuas gotas de flores o jardim do ócio.
Um galho, onde o vento vagabundo repousa,
Curva a saudação vã de tua graça estrelada,
Consagrando com admiração, ao velho tear, tua rosa.
Mas a dormente fia uma lã isolada;
Mística, a sombra frágil se entrelaça
Ao longo de teus dedos longos e dormidos, fiados.
O sonho desenrola-se com preguiça angelical,
E incessante, ao teu doce fuso crédulo,
Nestes cabelos ondulam ao sabor da carícia...
Por trás de tantas flores, o azul se esconde,
Fiandeira de folhagem e com a luz grávida:
Todo o céu verde morre. A última árvore arde.
Tua irmã, a grande rosa onde sorri uma santa,
Perfuma tua face vaga com o sopro de teu hálito
Inocente, e acreditas estar definhando... Tu estás extinta.
No azul dessa janela onde fiavas a lã.
Paul Valéry - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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