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segunda-feira, outubro 20, 2025

Narcisse - IWAN GILKIN – TRAD. ERIC PONTY

No quarto macio, feito de pelúcia e de penas,
Onde sonha a brancura do arminho e do cisne,
Onde muitas opalas brilham qual um olho que pisca,
Onde, no enchimento, muitos diamantes se aclaram.

Com o aroma forte e virgem dos jacintos brancos
E narcisos orgulhosos morrendo em vasos,
Ao lado da cama órfã de carne e êxtase,
Cuja madrepérola avocava a madrepérola dos quadris,

Em frente ao espelho alto, sem outra moldura
Que as torrentes geladas das cortinas de seda,
- Numa piscina límpida onde nenhuma torrente ondula
Mas um jogo de reflexos verdes e rosa,

Uma jovem frágil e nua, com apenas dezesseis anos,
longos cabelos dourados encaracolados, rosto adorável,
Boca com asas de fogo, deslizando sobre o impalpável,
Está se contemplar tua beleza cândida e serena.

Com teus grandes olhos azuis banhados de luz
Ele olha incessante para teu doce seio,
Como um lírio intoxicado com tua carne divina
Que desmaia em uma luz quente e primaveril.

Ah, que sorriso voluptuoso e ardente
Tão desesperadamente resignado
E treme por todo esse corpo de porco,
Qual um beijo sem rumo que expira lenta!

Ame-se, prezada filha, ame-se, contudo, ama-se,
Por quem muitos desejos definham e se cansam,
Por quem muitos peitos jovens e ternos se quebram;
Ame a si mesma! Seu amor é o amor supremo.

Ame a si mesma! Que carne vale a tua carne? Que ser
É digno de beijar teus belos pés?
Somente em ti a beleza sobre-humana se adora
E tão-só seu sonho amoroso pode ser teu sacerdote.

IWAN GILKIN – TRAD. ERIC PONTY

    ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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