Depois de Balboa, conduzindo seu bom cavalo
Por meio de bosques não lavrados, para alto e para baixo,
Do outro lado destas altas Cordilheiras,
Pisoteou o lodo quente das costas insalubres
Do istmo que compartilha com suas gigantescas montanhas
A imensidão sombria dos dois grandes oceanos,
E que ele, lançando-se nele armado a partir da costa,
Plantou seu estandarte na espuma virgem,
Todos os aventureiros, cujos espíritos estavam inflamados,
Sonharam, ao chegar ao porto do Panamá,
Para achar uma esperança gananciosa e admirável,
Para as margens douradas do Pacífico,
O prometido El Dorado que fugiu diante deles,
E, permutando sonhos monstruosos com ouro,
Para forçar até o fundo dessas zonas tórridas
A amarga virgindade das amazonas
Que a raça dos heróis não havia conseguido domar
Para derrubar os deuses obstinados
E derrotar, verdadeiros filhos de seu ancestral Hércules
Os povos da Aurora e os do Crepúsculo.
Eles sabiam que, enfrentando esses ilustres perigos
Chegariam às margens onde germinam os berilos
E Doboyba, com suas ricas ravinas,
Com o vasto colapso de templos em ruínas
A necrópole dourada dos príncipes de Zenu;
E ainda seguindo a passagem desconhecida
Para a Índia, além das Ilhas das Especiarias
E a terra onde borbulha no fundo dos báratros
Em um leito de prata fina, a Fonte da Saúde
Eles veriam, subindo em um céu enlevado
Até o zênite torrado com o fogo das pedras preciosas,
Cintilantes ao sol, os encantos vivos
Serras de esmeralda e picos de safira
Que ocultam a antiga e fabulosa Ophir.
E quando Vasco Nuñez pagou com sua cabeça
O orgulho de ter tentado essa grande conquista,
Perseguindo após ele essa miragem fascinante,
Apesar de sua morte, a flor dos gentis, usando
O galhardete de Castela esquartejado pela Áustria,
Chegou às profundezas dos bosques de Côte-Riche
Pelo meio da horrível montanha ou navegando
Ao longo dos recifes negros que cercam Verágua,
E em direção ao leste, apesar dos grandes naufrágios,
As margens onde o Orinoco, inchado pelas chuvaradas,
Imergindo um imenso horizonte com sua lama,
Sob o brilho febril de um céu carregado de veneno,
Deságua no mar por suas cinquenta bocas.
Enfim, uma centena de compartes, todos de boa estirpe
Embarcaram com Pascual d'Andagoya
Que, prosseguindo ainda mais em sua rota, navegou ao longo
O golfo onde surge o Oceano Pacífico,
Virou para o sul, contornou a Ilha das Pérolas
E seguiu em frente a toda vela,
Tendo assim, entre os colonizadores da época,
Ter sido o primeiro a desbravar novos mares
Com as esporas de pesadas caravelas.
Mas quando, dez meses estava doente e desconsolado,
Tendo navegado por toda parte sem lucro
Em direção a esse El Dorado que era apenas um mito vão,
Afrontou a morte cem vezes, excedeu o limite
Do mundo, tendo perdido quinze soldados em vinte,
Em seus navios quebrados Andagoya retornaram,
Pedrarias d'Avila ficou muito zangado;
E aqueles que, de acordo com a história popular,
Fidalgos e homens da estrada, haviam se reunido
No Panamá, foram irresolutos pelo golpe.
Ora, os senhores, vendo que duramente poderiam
Empregar suas pessoas em ações de guerra,
partiram para o México; mas aqueles que, sem nada,
tinham vindo tentar a sorte nas praias de Darien,
Querendo driblar a indesejável miséria,
O que vale um grande peito para vencer a fortuna,
Discutindo os mais belos sonhos com o ânimo vazio,
Com suas espadas ociosas e suas capas em farrapos,
Embora fossem todos bons aratus ou velhos bateristas,
Notando as ondas se agitarem na enseada,
Confiando que um líder ousado os comandasse.
José-Maria de Heredia - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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