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terça-feira, outubro 28, 2025

A FUNÇÃO DO POETA - I - VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

 ¿Por que se exilar, ó poeta?
Na multidão onde o vemos?
O que são festas, caos sem raios
As festas, caos sem raios?
Em sua atmosfera contaminada
Morre sua poesia murcha;
O hálito deles rouba seu incenso.
Seu coração, em suas lutas servis,
É como os gramados da cidade
Roídos pelos pés dos transeuntes.
Nas capitais enevoadas
Não ouves com terror o clamor,
Como dois poderes fatais,
O povo e o rei se enfrentam?
Desses ódios que tudo desperta
De que adianta encher seu ouvido,
O poeta, ó mestre, ó semeador?
Tudo para o Deus que você nomeia,
Não se misture com esses homens
Que vivem em um rumor!

Ressoará, alma pura que apura,
No concerto pacífico!
Desabrocha, flor sagrada,
Sob os amplos céus do deserto!
Ó sonhador, busque os retiros,
Os abrigos, as discretas cavernas,
E o esquecimento para encontrar o amor,
E o silêncio para ouvir
A voz do alto, severa e terna,
E a sombra para ver o dia!

Vá para a floresta, vá para as praias!
Componha suas canções inspiradas
Com a canção das folhas
E o hino das ondas azuis!
Deus o espera na solidão;
Deus não está nas multidões;
O homem é pequeno, ingrato e vaidoso.
Nos campos tudo vibra e suspira.
A natureza é a grande lira,
O poeta é o arco divino!

Saia de nossas tempestades, ó sábio!
Deixe o império trabalhar para você,
Que faz sua perigosa passagem
Sem nenhuma bússola ou leme,
Como um navio que em dezembro
O pescador, das profundezas de seu quarto
Onde as redes secas estão penduradas,
Ouves a noite passar nas sombras
Com um ruído sinistro e sombrio
De mastros trêmulos e pendentes!

VICTOR HUGO - TRAD. ERIC PONTY

 

    ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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