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segunda-feira, setembro 29, 2025

MEDITAÇÕES POÉTICAS- O ISOLAMENTO- M. A. DE LAMARTINE - TRAD. ERIC PONTY

 PARA MINHA ADORADA ADMIRADORA

Muitas vezes, montanha, à sombra de velho carvalho,
Ao pôr do sol, tristemente me sento na raiz da árvore,
Passeio fortuita meus olhos pela planície
Cuja cena mutável se desdobra aos meus pés.

Aqui ruge o rio com ondas espumantes
Serpenteia, afundando em uma distância escura;
Lá, o lago tranquilo estende suas águas calmas
Onde a estrela vespertina se ergue no azul.

Nos cumes desses montes coroados bosques escuros,
O crepúsculo ainda lança um último raio;
E a carruagem vaporosa da rainha das sombras
Sobe, e já embranquece as bordas do horizonte.

No entanto, subindo da torre gótica,
Um som religioso se espalha pelo ar;
O viajante para, e o sino rústico
Aos últimos sons do dia mistura concertos sagrados.

Mas a essas doces cenas minha alma apática
Não sente encanto nem transporte diante delas;
Contemplo a terra como uma alma errante;
O sol dos vivos já não aquece esses mortos.

De colina em colina, em vão levo minha visão,
Do Sul ao aquilão, do amanhecer ao pôr do sol,
Viajo por todos os pontos da imensa extensão,
E digo que a beleza não me espera em lugar algum.

O que vales, palácios, chalés de palha fazem comigo?
Objetos vãos cujo encanto se foi para mim?
Rios, rochas, florestas, solidões tão queridas para mim,
Se perder um único ser, tudo estará despovoado.

Quando o sol começa ou termina,
Com um olhar indiferente eu sigo seu curso;
Em um céu escuro ou puro, quer ele se ponha ou se levante,
O que importa o sol? Não espero nada dos dias.

Quando eu pudesse segui-lo em sua vasta carreira,
Meus olhos veriam o vazio e os desertos por toda parte;
Não deseja nada de tudo o que nos ilumina;
Eu não peço nada ao imenso universo.

Mas talvez além dos limites de sua esfera,
Lugares onde o certo sol aclara outros céus,
Se eu pudesse deixar meu corpo na terra,
O que há tanto tempo sonhei surgiria aos meus olhos!

Lá, eu me embebedaria na fonte à qual aspiro,
Lá eu encontraria esperança e amor.
E aquele bem ideal que toda alma deseja,
E que não tem nome na morada terrena!

O que não posso fazer, levado na carruagem da Aurora,
O vago objeto de meus votos, correr para ti!
Por que ainda estou entregue no exílio?
Não há nada em comum entre mim e a Terra.

Quando a folha cai do bosque para o prado,
O vento da noite se ergue e a arranca dos vales
E eu sou como a folha murcha;
Leve-me embora como ela, aguilhões tempestuosos!

M. A. DE LAMARTINE - TRAD. ERIC PONTY

   ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA

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