Albert Cuyp
Cuyp, sol poente dissolvido no ar límpido
Que um bando de pombos cinzentos perturba água,
Umidade dourada, auréola na testa de um boi ou de uma bétula,
Incenso azul dos dias bonitos fumegando na encosta,
Ou pântano de claridade estancada no céu vazio.
Cavaleiros estão prontos, com plumas cor-de-rosa nos chapéus,
Palma da mão ao lado; o ar fresco que torna a pele rosada,
Incha levemente suas bocas finas e loiras,
E, atraídos pelos campos ardentes e pelas ondas frescas,
Sem perturbar com o seu trote os bois cujo rebanho
Sonha num nevoeiro dourado e repousante,
Partem para respirar esses momentos profundos.
Paulus Potter
Sombrio pesar dos céus uniformemente cinzentos,
Mais tristes por serem azuis nos raros clarões,
E que deixam então nas planícies geladas
Filtrar os choros mornos de um sol incompreendido;
Potter, melancólico humor das planícies sombrias
Que se estendem sem fim, sem alegria e sem cor,
As árvores, a aldeia não projetam sombras,
Os jardins escassos não têm flores.
Um lavrador puxando baldes volta para casa, e, frágil,
Sua égua estava resignada, preocupada e sonhando,
Ansiosa, treinando seu cérebro pensativo,
Homem com respiração curta o forte sopro do vento.
Antoine Watteau
O crepúsculo obscurece as árvores e os rostos,
Com seu manto azul, sob sua máscara incerta;
Pó de beijos em torno de bocas cansadas...
O vago torna-se terno, e o que está próximo, distante.
A mascarada, outra melancolia distante,
Faz o gesto de amar mais falso, triste e encantador.
Capricho de poeta — ou prudência de amante,
O amor precisa ser adornado com sabedoria
Eis barcas, lanches, silêncios e música.
Antoine Van Dyck
Doce orgulho dos corações, graça nobre das coisas
Que brilham nos olhos, nos veludos e nas madeiras,
Bela linguagem elevada da postura e das poses
— Orgulho hereditário das mulheres e dos reis!
Você triunfa, Van Dyck, príncipe dos gestos calmos,
Em todos os seres belos que em breve morrerão,
Em todas as mãos belas que ainda sabem se abrir;
Sem suspeitar — pouco importa — ela lhe oferece as palmas!
Calmo como eles - como eles, perto das lágrimas,
São crianças reais já magníficas e tâo sérias,
Vestimentas resignadas, valentes chapéus de penas,
E jóias chorando - ondas através das chamas
A amargura das lágrimas com que as almas estão cheias.
Altas demais para deixá-las subir aos olhos;
E você acima de todos, precioso passeante,
Em camisa azul-clara, uma mão na cintura,
Na outra, um fruto frondoso arrancado do galho,
Sonho sem compreender seu gesto e seus olhos;
De pé, mas descansado, neste obscuro asilo,
Duque de Richmond, jovem sábio! — ou encantador louco?
— Volto sempre a si: um safira, em seu pescoço,
tem um brilho tão suave quanto seu olhar tranquilo.
MARCEL PROUST – TRAD. ERIC PONTY
ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA
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