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sábado, julho 05, 2025

O CEMITÉRIO MARINHO - Paul Valéry - TRAD. ERIC PONTY

 Minha alma não aspire à vida imortal,
Todavia a exaustão do possível.

PÍNDARO, PÍTICASIII, EP.

Tranquilo teto donde marcham pombas,
pinhos palpitam, dentre destas tumbas,
justo do meio funde dos ardores!
Pélago deste sempre início mar!
Oh recompensa após de um pensar,
visão resguarda alívio desses deuses!

 Puro trabalho fim que se consuma
imperceptível brio diamante escuma,
qual paz parece para conservar!
E sobre abismo quando sol repousa
obras de casta eterna desta causa,
Cintila tempo é Saber sonhar!

Firme ouro, templo simples de Minerva,
massa de calma, visto que reserva,
soberbo céu que vê guardado alto!
Tanto repouso véu embaixo flama,
Ó meu silêncio! Prédio sóbrio d´alma,
coberto douro mil das telhas, teto!

 Tempo do templo, sol suspira sumo,
é deste ponto alcanço me acostumo,
tudo resguarda olhar meu do oceano
do Criador de doação tão soberana,
cintilação semear-nos já serena,
deste desdém que me alço soberano.

 Como fundida fruta desta essência
desta delícia altera sua existência,
qual duma boca morre na feição.
Sou fumo vero deste eu meu assuma,
que canta do céu da alma que consuma,
das rumorosas docas cicio dão.

 Belo céu, vero guarda céu alterável,
após de tanto orgulho do estranhável,
ócio total do pleno do poder.
Eu me abandono brio deste espaço,
mansões dos mortos, sombra minha ao passo,
que domestica frágil do mover.

 Exposta d´almas sol solstício abraça,
domina-a da admirável das justiças,
das quais das luzes armam da piedade!
Eu me só rendo prima da pureza:
Que me resguarda!...Junto à luz beleza
suposta sombra triste da metade.

Ó para meu eu, mim, para mim mesmo,
da fonte poema, do imo de tão próximo,
dentre da vida mais me envolve puro;
Eu espero do eco do amplo minha interna,
sombra de amargo, som estar cisterna,
tocar-me d´alma d´oco do futuro!

 Cativo sábio falso da folhagem,
comedor golfos magros da linhagem,
são meus cerrados olhos fascinados,
quais dos corpos prendem fins ociosos,
fronte arremete a terra destes ósseos?
Uma centelha pensa se ausentados.

 Ferido sacro, pleno fel conduz,
fragmento do terrestre oferta à luz,
que léu me deu, domínio tochas jaz,
Composto douro, pedras, cedros sombras,
tanto do marmo são que temblam abras;
Mar fiel sobre dor jazigos faz.

 Cã arreda deste crente do esplendor!
Qual solitário riso do pastor,
perpétuos dos carneiros misteriosos
branco rebanho calmas destas tumbas,
distantes das prudentes alvas pombas,
sonhos altivos, anjos tão curiosos.

Aqui futuro a terra mais que pura,
que deste inseto arranha-se secura,
é tudo bruto lhe arde aceita aragem,
que não sei da severa da existência...
A vida vasta livre desta ausência,
desse amargor doce alma da celagem!

 Mortos ocultos são bem terras quem,
é lhes aquecem secos lhes renascem,
meio do alto, meio mutações,
pensam de si, que acena de si mesma...
Fronte completa destro do diadema,
Eu sou de sua secreta alteração.

 Não faz contenham vagos meus temores!
Remorso dúvida, entre dos horrores,
defeitos são de extensos do diamante…
Noite doridas doídas são dos mármores,
vagam o povo tronco destas árvores,
extraídos outra vez partir errante.

Fundirem duma espessa desta falta
argila rubra bebe a branca casta;
O dom da vida passou para flores!
São destes mortos frases familiares,
Arte pessoal das almas singulares?
Larva mudada fia lamentações!

 Os gritos tão de agudos, moça irada,
olhos dos dentes, pálpebra mirada
seio encantado face deste fogo,
do sangue brilhou lábios se renderam,
últimos dons, dos dedos que acorreram,
De tudo que há na terra esvai vai jogo!

 Você grande alma espera sonhos danos,
das cores aura são dos sempre enganos,
douro olhos vivos, fonte onda daqui?
Cantaram quando for tão vaporosa?
Vá! Tudo foge! Minha está porosa,
impaciência santa morre aqui!

 Magra imortal sombria deste doirado
consolador do medo do laureado,
da morte seio fez tão maternal,
bela mentira dó que desta acusa!
Que nem conhece, quem que lhe recusa,
crânio vazio de riso de eternal.

 Profundos pais, de testa inabitada,
embaixo pesos tantas já pazadas,
terra confunde passam do jamais.
Roedor do vero verme irrefutável,
do ponto desta tábua do dormível,
viver da vida não se ata jamais!

Amor, por mim, eu mesmo será cisma?
dente secreto está que me aproxima,
dos quais dos nomes ele convencer!
Importa! Vê! Sonhando quer pegada!
Manta de carne agrada até camada
vivente eu deste volto pertencer!

 Zenão! Cruel Zenão! Zenão d’Eleia!
Mas furo deste dardo se volteia
vibrar nem voa, mais voeja do jamais!
Som me infantil me mata dardo fuga!
Ah! Sol... Qual sombra desta tartaruga
Aquiles d´alma grande passo mais!

Não! Não!… Levante! Tempo de exaustivo!
Parta meu corpo, forma, pensativo!
Bebam meu seio nasce deste vento!
Oh frescor, deste mar tão de exaltado,
Torna minha alma! Fonte do salgado!
Corram voltando d´onda avivamento!

 Oh! Grande mar delírios de doirados,
Pele pantera, Clâmide em tornados,
ídolos desses mil do sol da qual
da livre carne azul, de Hidra absoluta,
remorso da brilhante cauda solta
tumulto paz idêntica tão igual!

 Desvia se vento!… Qual viver tentar!
Imenso abrir reforma meu livro ar,
O pó saltou da pedra dos mais roços!
O vácuo desta folha de extasiada!
Dissolvam vagas! Quebrem d’água alçada!
Tranquilo teto do pipocar focos!

Paul Valéry
 Esta tradução usou como base da edição
 da Collection A. Lagarde & L. Michard de 1965

  ERIC PONTY POETA-TRADUTOR-LIBRETTISTA 

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