I
Clara tumba teu corpo sobre o vale,
E olvida a foz escura das flores,
De terra primitivo, da migalha,
O pão do que é findo e ainda ressoa.
O que se foi (não custou a cinza e treva,
Que os idos passam para ouvir dos vivos,
Mais finda está que toda essa harmonia,
De vozes e colcheias fazem translucidas.
Mais morto está porque olvida esse limbo,
Ausente tempo, mas nas era audível,
No teu esquecido jaz a partitura.
Se para alaúde e folha escrita nuvens,
Que passam sem alívio no escuro,
Do bronze de sinos, música em tons.
II
O que se foi (à tona, lei de juiz),
Ardor que nunca foi na superfície,
Ao crível do martírio, mas na dor,
Que flor que destila sua patina.
Quando oculta sob a foz das frinchas,
Alerta pela morte de outras idas,
Nas pálpebras fundidas do existido,
Espessa formação de linhos tão ígneos.
De te saberes restos de um infante,
Que anoiteceu teu lado num jardim,
Entre solstícios de ecos partidos.
Bronzes quebradiços, vida e vinda,
Onde agora és linfa dessa alquimia, flamas,
Dum sol de solstícios teus ritos.
III
Deixa tumba tombar teu corpo útero,
Húmus, os vermes – disseram sepulcro,
Para logo, o mesmo, erguer-se a sombra,
Talvez Orfeu lhe toque a Lira olvido.
Ao pó serás, cá, porque estavas vivo,
Onde alteram antes e após do fundo,
Passagem que retorna Orfeu ergue-se,
Onde o tempo não cala e já resvala.
Nem como esposa lírica lhe encanta,
Nem nesta tumba nem em parte alguma,
Cá que somente o foi quanto defunto.
Que reserva irá equilibrar teu saldo?
Não tem bom aspecto retém substância,
Do tempo inexorável transfigura.
ERIC PONTY
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