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sexta-feira, dezembro 29, 2023

Les Fleurs du mal - Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty

Para todos nós, a ganância, a loucura, o erro, o vício
esgotam o corpo e obcecam a alma,
e continuamos a alimentar o nosso remorso congénito
congénitos, como os vagabundos alimentam os seus piolhos.

Os nossos pecados são teimosos; o nosso arrependimento, fraco.
Quando nos confessamos, pedimos prémios elevados.
Assumindo que lágrimas baratas irão expurgar os nossos crimes,
nós alegremente percorremos o mesmo velho caminho lamacento.

Satanás três vezes potente, amortecido na perdição,
embala incessantemente as nossas mentes encantadas.
Como um perfeito alquimista, ele ferve
o valioso minério de nossa vontade.

O Diabo guia-nos como um mestre de marionetas.
Os objetos nojentos agradam-nos muito.
Cada dia damos mais um passo em direção ao inferno,
sem vacilar, através de uma pútrida falta de brilho.

Da mesma forma que um devasso falido
beija e mordisca a teta martirizada de uma velha puta,
nós roubamos, de passagem, um prazer fora dos limites
e esprememo-lo, como uma laranja temperada, até secar.

As fileiras de demónios que se divertem nos nossos cérebros,
como multidões de vermes, enxameiam e fervilham,
e a Morte, rio invisível, quando respiramos,
desce para os nossos pulmões e suavemente aplaude.

Porque é que o fogo posto, o veneno, a violação, a faca
bordaram as suas imagens sedutoras
nas tapeçarias tediosas das nossas vidas tristes?
Infelizmente, os nossos espíritos não têm coragem suficiente.

Ali, entre todos os chacais, panteras, rafeiros,
macacos e abutres, escorpiões e cobras,
esses bandos e matilhas que uivam, ganem, grunhem,
essa infame coleção de animais dos nossos cadáveres,

há um nascimento muito feio, falso e sujo!
Embora mal se mova, não emitindo nenhum grande som,
ele faria de bom grado uma confusão nesta terra
e, bocejando, engolir a terra inteira:

O tédio! Com os olhos húmidos, sonha, enquanto puxa
um cachimbo de narguilé, com pescoços cortados pela guilhotina.
Tu, leitor, conheces está terna aberração das aberrações...
leitor hipócrita, homem espelho, meu irmão!

 Charles Baudelaire - Trad. Eric Ponty
ERIC PONTY-POETA-TRADUTOR-LIBRETISTA

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