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quarta-feira, fevereiro 16, 2022

Soneto - Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty



Soneto

Tocha na mão abafada apagada no breu 
Sem o sopro imortal que agora figura, 
Não se pode parar o abandono a maré! 

 De muitos um rico, mas de querido troféu 
Nem sequer seria aquecido por um mau breu 
Se veio através do corredor de um destino 
As aflições do passado são necessárias!

Sob um mármore pesado que fez isola 
Nenhum outro fogo é aceso na aurora 
do que a deslumbrante rito consola. 
 
Agarrar como com garras nau de um ferino 
O sepulcro da repugnância breve nau, 
A antiga câmara do herdeiro nasce breu. 

 Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty

Saudação
Nada, esta espuma, esta virgem
Para marcar apenas taça; 
Uma tropa tão longe afoga 
Sereias, mui cabeça baixo.
Navegar, ó meus vários, 
eu já estou na popa amigos
É o sumptuoso arco que corta 
A cheia de brilhos e invernos; 
Bela envenenar-se envolve-me 
Sem temer sequer a seu amor
Levar salvação na vertical
Solidão, recife, estrela
Ao que quer que o lhe valha
A apreensão branca da estrela

Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty

Aparição

A lua entristeceu-se. Serafim chorão
Sonhar, com arcos nos dedos, calma das flores
Ligeiros, atraíram violações moribundas
Soluço alvos a fluir sobre azul das corolas.
- Foi o dia abençoado do seu primeiro beijo.
A minha mente gostava de me atormentar
intoxicado com perfume da tristeza
Que mesmo sem pesar e sem tristeza deixa
Reunião de um sonho no cerne reuniu.
Por isso vagueei, meu olho rebitou no chão velho
Quando com o sol no meu cabelo, na rua
E, à noite, apareceu-me a sorrir noturna
E eu pensei ter visto a fada com o chapéu vivo
Uma vez, meu belo sono de guri mima
Passou, deixa sempre a sua mão mal fechada
Cachos brancos nevados de fado aromais.

Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty 

A Brisa Marinha

A carne é triste, infeliz! Eu li todos livros.
Fuja! Fuja pra lá! Sinto que aves estão ébrias
Estar entre a espuma ignota e os céus!
Nada, nem os velhos jardins refletir n` olhos
Reterá este cerne que no mar está molhado,
Ó noites! nem a luz deserta minha lâmpada
Sobre o papel vazio que a alvura defende
Nem a jovem mulher a lactar o seu filho
Eu vou! Vapor a balançar o seu mastro,
Pesa âncora pra uma natureza exótica!
 Um tédio, desculpem as esperanças cruéis,
Ainda acredita no supremo adeus dos lenços!
E, talvez, os mastros, convidar a dilúvios
São daqueles que um vento dobra sobre os náufragos
Idos, sem mastros, sem mastros, nem ilhas férteis...
Mas, oh meu cerne, ouve o canto dos marinheiros!

Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty

O Azul

Do azul eterno desta ironia serena
duma forma indolente bela como as flores,
Poeta impotente amaldiçoa a sua genial
Através dum árido deserto de Dores.
A fugir, de olhos fechados, sinto-o a notar
Com o vivo dum remorso consternador,
Minha alma vazia. Onde fugir?  Noite alegria,
Atirar, desfazer-se, sobre aversão dor?
Névoas, subam! Deite fora cinza´ iguais
Com longos farrapos de névoa nos céus,
Que irá afogar o pântano lívido d´ Outono
E construir um grande teto silencioso!
E você, saia das lagoas de Lethean e junte
Quando se chega ao lodo e aos canaviais pálidos,
Caro tédio, pra ligar com mão nunca cansada,
Grande buraco azul aves fazem maldosos,
Ainda assim! que sem folga as tristes chaminés,
Fumo, de uma prisão de fuligem errante,
Extingue-se no horror das suas listras negras,
- O céu está morto. - Vós eu corro! dou, ó tema,
O olvido do Ideal cruel e do Pecado,
A este mártir que vem repartir a ninhada,
Onde jazeu o gado ditoso dos homens,
Pois quero, uma vez final meu miolo foi evacuado,
Como pote de rubor deitado pé de um muro,
Já não tem arte de adornar a ideia de chorar,
Bocejando sombrio para uma morte sombria.
Em vão! o Azul triunfa, e eu ouço-o cantar,
Nos sinos. A minha alma, faz-se a voz pra mais,
E o metal vivo sai em azul do angélico!
Rola através da névoa, antiga e de encontro,
A sua agonia nativa quão uma espada segura;
Estou chocado. Do azul! Do azul! Do azul! Azul!

 Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty

As Janelas

Cansado do triste hospital, do incenso fétido
Se elevar na brancura banal das cortinas
Pra o grande crucifixo entedia muro vazio,
moribundo errado endireita a velha estela,
Arrasta-se e vai, menos pra calor a sua sânie,
do que ver o sol sobre as pedras, do colado,
Os cabelos e ossos brancos do rosto fino,
Nas janelas que um belo raio claro quer manchar,
E desta boca, febril e azul voraz,
Qual uma jovem, foi respirar seu tesouro,
De uma pele virginal desta antiga!
Com longo beijo amargo, azulejos sapés quentes,
Bêbado, vive, olvida horror dos óleos sagrados,
Os chás, o relógio e a cama infligida,
Tosse; e quando a noite sangrar entre os azulejos,
O seu olho, no horizonte desta luz,
Vê galeras douradas, belas como cisnes,
Sobre um rio de púrpura e odor a dormir,
A embalar os ricos clarões dourados da sua linha,
Numa grande indiferença cheia de memórias!
Assim, tomado com asco homem de alma dura,
Comer, e quem persiste em buscar este refugo,
Para o dar à mulher que está a aleitar suas crias,
Eu evado e agarro-me de cada janela,
De onde se vira o ombro para a vida e, abençoado,
Que marmoreia a manhã casta do Infinito
No seu um copo, lavado com orvalho eterno,
Olhar para mim vejo-me quão um anjo! Morro, e amo,
Renascer, usando meu sonho quão um diadema,
Para o velho paraíso onde Encanto floresce!
Mas, infeliz, aqui abaixo está mestre: abissal,
Vem por vezes enjoar-me a este abrigo seguro,
Forçando-me a bloquear meu nariz em frente ao azul.
Será possível, ó eu que aceito a amargura?
Afundar-me o cristal pelo monstro insultado,
E fugir, com as minhas duas asas sem penas,
- E correr o risco de cair pra eternidade?

Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty

Suspiro
Minha alma à tua testa onde os sonhos, ó calma irmã,
Um Outono é cheio destas sardas manhã,
E para o céu do errante do seu olho angélico,
Para alto, como num jardim jaz melancólico,
Fiel, curso alvo de água suspira em chefia ao Azul!
Que aclara a infinda frisagem nas grandes piscinas
E folhas, sobre a água morta, onde agonia selvagem,
Folhas vagueiam ao vento escavam um sulco frio,
Arrastar o sol amarelo de um longo raio.

Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty

Uma negra...

Uma pobre negra abalada pelo diabo,
Quer provar uma criança triste frutos novos,
E os criminais também embaixo pronto com furos
Porco está prestes a fazer uma aflição astuto:
À sua barriga compara festivo duas tetas,
E, tão alto que a mão não a consegue agarrar,
Ela aponta o choque negro das suas botas,
Como alguma língua imprópria para o prazer,
Contra a temível nudez de uma gazela,
Que treme, de costas quão um elefante louco,
Ela espera e admira-se com muito zelo,
A rir com os dentes ingénuos na criança;
E, nas pernas, onde a vítima se encontra,
Erguer a pele negra aberta sob o buço,
Avançar o paladar desta estranha boca,
Pálido e rosado quão uma concha do mar.

Stéphane Mallarmé – Trad Eric Ponty

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