RUMO AO NADA
RILKE NOS LEMBRA QUE CADA UM DE NÓS TRAZEMOS SUA PRÓPRIA MORTE. POR ISSO MESMO, ELA É INCONFUNDÍVEL. COMO O ECOAR DO POETA, NAS “ELEGIAS DE DUINO”, NUMA DAS VOZES DO DUETO ABSTRATO LAMENTA A “SOLIDÃO DE ESTAR EM DECOMPOSIÇÃO”.
AS DUAS VOZES DESSE AMARGO DUETO, IMPLACÁVEIS, NÃO NOS DEIXAM ESQUECER O CARÁTER PERECÍVEL DAS COISAS. A VIDA, TRISTE CONSTATAÇÃO, É ÉFEMERA. ALGUM CONSOLO? NENHUM, SALVO PARA OS QUE INSISTEM EM ACREDITAR EM DEUSES E QUEJANDOS (A MATURIDADE, ALIÁS, NÃO ESTÁ AO ALCANCE DE TODOS.) PARA OS CÉTICOS E REALISTAS, INÚTIL A ILUSÃO DE ETERNIDADE. UMA QUIMERA NADA MAIS. O DESTINO É INFLEXÍVEL: A MORTE (A DECOMPOSIÇÃO) NOS ESPREITA. ALGO PERTURBADOR RONDA O SER: SUA INAPELÁVEL FINITUDE.
SEGUNDO SOMERSET MANGHAUS “O SOFRIMENTO NÃO ENOBRECE, APENAS NOS TORNA MAIS AMARGOS”. PRESA DA CONTIGÊNCIA, O HOMEM SOFRE. A VIDA DESSA TRISTE FIGURA É O MERO PECORRER DE UMA TRAJETÓRIA RUMO AO INEXORÁVEL: O NADA.
JOÃO DA PENHA –autor de O que é existencialismo (Brasiliense), Períodos filosóficos e Wittgenstein (ambos pela Ática), além dos inéditos Proust e Bergson: Aproximações e confrontos e O marxismo de Sartre. Foi colaborador da revista Cult.
De acordo com título da peça Dueto Abstrato esta fala da existência de um ser incerto que está num espaço abstrato, por haver uma cadeira em cena pensamos numa casa ou lugar. Com isso, pensamos na chegada do espectador ao um lugar pátrio e com seus conterrâneos espectadores. A peça narra o diálogo entre duas vozes, que não se encontram em cena, mas estão lá no lugar pátrio da cena. Ao chegarem estas vozes regrecessantes ainda não alcançaram o local pátrio. De fato, essas vozes, são de (“difícil regresso de conquistar sendo reservada). Por isso, o regressante (as vozes) ainda permanece alguém que procura. Mas o procurado (os espectadores estão assistir) já vem ao seu encontro. Está próximo. Mas o procurado ainda não é encontrado, se encontrar significa receber o achado (emitido pelas vozes) como uma propriedade, para nele se instalar como um patrimônio. Ainda está retido. Por isso, também, o enviado por um envio, ou, como agora, e ao mesmo tempo parece interditado ao envio. Assim, o que já foi concebido e ao mesmo tempo interditado e reservado. Enquanto reservado, tesouro do compreendido (o que está proposto em cena) e permanece o procurado. Por quê? Porque aqueles (carregam preocupações) ainda não estão prontos em receber o mais próprio de pátrio como sua propriedade. Assim esta chegada reside precisamente em que os conterrâneos sintam-se, pela primeira vez, dentro da essência ainda neles retido; de fato antes disso ainda, que os (espectadores) aprendam a sentir-se pela primeira vez, por ficarem à vontade. Para isso, é preciso conhecer previamente o mais próprio e o melhor de que há de pátrio. Como, porém, podermos encontrá-lo, se não houver em nós alguém que busque, e se a essência procurada de pátrio não se mostrar.
O aberto amigável, o iluminado, o cintilante, o resplandecente, o luzidio de pátrio vem ao encontro em uma única aparição amigável no lugar da chegada ao portar-se da cena.
Esse de pátrio não se mostrar se justifica afirmando que anteriormente estivera preso a uma “imagem”, da qual não escapara antes porque “ela residia em nossa linguagem, e esta parecia repeti-la para nós, inexoravelmente”. Destruída tal imagem, dela só restou “blocos de referências e entulhos”, o que não se lamenta, porque o que fora destituído não passava de “referências estéticas” No passado, o presente acusado deixara-se levar pelo anseio de compreender a “essência”, convencido de que termos como “linguagem”, “experiência”, “mundo”, desfrutassem de um estatuto especial, para depois descobrir, ao perceber que não há um “esplendor” em torno do pensamento, que as ditas circunvizinhanças, se têm “um emprego, este tem de ser tão modesto como (o dos) objetos ‘cadeira’, ‘roda’, ‘jornais’”. Entretendo o engano nos fora induzido por uma “camada superficial” de linguagem.
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