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sábado, julho 07, 2018

SONETOS - WILLIAM SHAKESPEARE - TRAD. ERIC PONTY


IV
Encanto derrotado, por que gastas
Tua herança de postural só em ti?
Natura não presenteia apenas nada:
Tão só prestando há quem dão sem fim.

Por que, então, beleza egoísta, abusas,
Da largueza com que te hão munido?
Efêmero usuário, por que apuras,
Tamanha suma e não obtêm respiro?

Sendo tu único cliente é tua pessoa,
Acabarás findando tu encanto;
Assim, quando por fim chegue tua hora,

Com que reserva farás guardar saldo?
Sem uso, tua beleza é coisa morta;
Ao usar, se converte em teu testamento.



V
As horas obsequiosas talharão,
O rosto que cativou os olhares,
Serão as mesmas que, como dos tiranos,
Desgracem o que agora irradia graça.

O tempo inexorável transfigura,
Ao agraciado estio em tenso inverno:
A seiva gelada, os ramos desnudos,
O belo embaixo neve, ao campo ermo;


Se à essência estival não permanece,
O Cativo em seu cárcere cristalino,
A beleza seu efeito, ambos dois morrem.

Há um tempo, sem deixar memória viva,
As flores, ao que hibernem, destiladas,
Não iluminam mas conservam sustância.

WILLIAM SHAKESPEARE
TRAD. ERIC PONTY 

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