Pesquisar este blog

domingo, julho 22, 2018

O CAVALEIRO DE BRONZE -(PRÓLOGO) Aleksandr Serguieyevich Pushkin

PRÓLOGO



Nas costas das desertas ondas nas margens,
Que estão grandiosos desígnios tomados,
Se olhava ele, abismar-se fazia o distante.
Ante seus olhares se inchava o rio
Por ele que um pobre esquife viajava.
Haver aqui e ali choupanas miseráveis,
Abrigo despojados finlandeses,
Cobriam-se dos ribeiros pantanosos,
E bosques ignorados por os raios,
Dum sol sempre ocultar entre a neve,
Por onde quer ressoavam por estes lados.

E ELE então pensou consigo:

«Desde aqui infundirei pavor ao sueco,
E encherei os cimentos duma cidade,
Para irritar a esse vizinho altivo.
Aqui ordenara-nos Natureza
Que abriremos a Europa uma janela,
É firme pontal na costa dos mares,
Aonde por um mar para eles novo,
Chegaram barcos de todas as bandeiras,
Para tratos e festas a porfia.»

Um século transcorreu, e uma urbe nova,
Do Setentrião à glória e o assombro,
Se levantou soberba e suntuosa,
Do obscuro do bosque e a marisma.
Onde os pescadores finlandeses,
Da Natureza infaustos filhos da natura,
Desde o baixo e solitário oceano,
As ignotas águas arrolhavam
Suas decrépitas redes, hoje em dia,
Pelos ribeiros cheios de azáfama,
Esbeltos edifícios se vislumbram,
E algazarres e torres; desde todos
Os pontos das Terrestres, multidões
Dos navios se dirigem nessas molas.

Agora a Neve se veste de granito;
Cruzaram águas pontes incontáveis,
Se cobrem com as ilhotas de jardins,
Verde obscuro. E inclina à cabeça
Ante da jovem capital tão antiga
Moscou, como ante nova soberana,
Viúva real de púrpura vestida.

Te amo, criação de Pedro, amo teu aspecto
Severo ao num tempo cheio de acordo,
Na corrente do Neva majestoso
Dentre seus parapeitos de granito,
Ao arabesco de teus férreos bares,
Do transparente ocaso de tuas noites,
Cujo fulgor sem lua está me embeleza,
Quando estou em meu quarto escrevendo,
Relendo sem lâmpadas, e as pálidas.

Ruas adormecidas e vazias,
Na áurea agulha do almirantado,
Assim, sem deixar passo nas trevas,
Duma aurora a outra aurora lhe sucede
No doirado céu, até ao tal ponto
Que não durará à noite meia hora.
Amo teu cruel inverno, ao ar de calma,
Na gelada e ao correr das locomotivas,
Sobre a Neva largamente, e a bochecha,
Doncellil, mais purpúreas que a rosa,
À conversa ao brilho, o ruído dos bailes
E, agora das festas de solteiro,

Ao chocar destas copas espumosas
Chama azul dos eliminadores.
Adoro a belicosa animação,
Dos campos de Marte e seus desfiles,
Ao uniforme beleza artificiosa,
Massas dos infantes e cavaleiros,
Nas triunfantes fileiras ondulantes
Das gloriosas bandeiras em farrapos,
E ao esplendor dos bronzeados elmos,
Que na guerra são balas trespassaram.

Amo, cidade marcial, tiros canhões,
E da fumaça de tua Fortaleza,
Quando a Imperatriz do Setentrião,
Deu à luz um filho na casa dos Czares,
Quando celebrar Rússia uma vez mais,
Sua vitória campal sobre ao contrário,
Ou quando, atrás romper ao fim o céu,
Lhe arrastra ao Neva ao mar, e barruntando
Dias de primavera, se alvoroçava.

Resplandece por sempre, urbe de Pedro,
E permanece firme como Rússia!
Que ao líquido elemento derrotado
Também venha a rendição homenagem!
Que se esqueçam as ondas de Finlândia
De seu hostil cativeiro milenar,
E não perturbem com seu vão rancor,
Pedro O Grande o sonho sempiterno!

Sendo abissal aquele dia, e sua memória,
Estando recente em nós, todavia!
Os falarei ocorreu, amigos meus,
Sendo com à tristeza meu relato.



Aleksandr Serguieyevich Pushkin

Nenhum comentário: