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quinta-feira, junho 21, 2018

QUATRO SONETOS - ERIC PONTY


I

Poente sem nuvens vãs ramagens sôfregas,
Tangida sépia às margens, pradarias
Que avarento céu ao cândido silêncio
Fez ladrar qual éson tão faminto.

Ao vagar terrestres, olvidam formas,
São voz ao plenilúnio, nas folhagens,
Solapam cepas, cissos vestes chão
Ébrios sentidos, pálidas efígies.

As caravelas, quadros, astrolábios,
Fundaram cinzas, dão humana espécie,
Diluem-se paraísos, de azuis pássaros...

Alvos crânios, fêmures, cotovelos,
Ajuntam-se de oblíquas, alvas relva
Solene a tampa, lavra, estragos, pátinas.

II

Avara fonte carpir vítrea da foz,
Plumacho tomba solar, plenilúnio
Sobre herói, eco luz, solfeja tumbas,
Zelo puro, do rio, pradarias.

Mussita ágrafa, faz-se destituída
Fonte, lagos, languidas curvas águas,
Assopra alcunhas ocos, ave harpia,
Migram sólida, fátuas, invisíveis.

Cópias jamais sentiram-se à vertigem
Não lhes importa qual nau são assoprada,
Avocar névoa, pó, tensa fuligem.

No firmamento afagam solitárias
Ideias faltas, murmúrios, passagens,
Fazem concepções aradas à luz.

III

Ah irmãos nossos de mil e oitocentos
Veem cativos, perpétuos, Bilac,
Que farão dos versos raros dos dele,
Pobre o néscio, içado na harmonia.

E que quer? Céu ladear? Harmonia?
Ondas, silêncio, ouvir sons, sereias,
Dá bronze do sino árido, som pétreo,
Do mármore abrigo, refúgio mar.

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Tangem estrelas! Astros dissipam
São gritos alquebrados do universo.


Casa longínqua, irmãos assustados,
Luzes rompidas, paz da aurora, lâmpadas,
Conduza além estrelas, poente, pássaros.

IV

Os Cavalos fulgidos do universo,
Içam a manhã, lábios tão opacos,
Dos murmurantes paralelepípedos
Ecoam calçadas, foz dura das minas.

Não murmura ele, regras desse acaso.
Não mussitam a Deus, dessas exíguas
Histórias, fátua acasos notar ágrafos,
Sôfregas, soçobradas das noctâmbulas.

Imersos nas horas, pensam, ocasos,
Dão prados rubros, flui grito, sufrágio,
Assopradas portas, o instante gázeo.

Sucumbidos perfazem às estrelas,
Batizam uma a uma estas garças límpidas
Margem vítrea da efígie, ressoa à sépia.
ERIC PONTY

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