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segunda-feira, junho 18, 2018

Lamento duma amante - William Shakespeare - TRAD. ERIC PONTY


Num colado de cujo ventre de fora,
Dobrava ao triste canto doutro vale,
Deteve ao passo para lhe ouvir o eco
Com todos meus sentidos expetativas;
E vi a duma moça pálida e variável
Partindo nas duas uniões e quartilhas
E afogando na chuva e vento seus ditas.

Um capuz de palha resguardava
Do sol seu rosto, onde o pensamento
Pode pensar que viera alguma traça
Duma beleza triste. Porém o tempo
Não havia apagado o rastro por inteiro
Daquela juventude nem céu airado,
Espelhado essa beleza com os anos.

Assim como enjugava os salobres
Lágrimas de seu cantar num lenço,
Lavando das curiosas inscrições
Bordadas nesta seda com esmero,
Lançava toda classe de lamentos,
De viva voz o em lânguidos gemidos,
Ao reler com o avidez destes os signos.

Às vezes, com a precisão duma arma,
Aponta olhar ao céu numa guerrilha;
As vezes suas pupilas vão atadas
Ao chão terrenal; as vezes fixa
Na frente a visão e logo admira
Há todas partes e a nenhum lugar,
Tão confusas mente e vista por igual.

Seus pelos, nem ao atlas nem recolhidos,
São mostra dum orgulho descuidado.
Alguns folgam destas sombras, finas,
Sobrancelha abaixo, junto a cútis branca,
E há outros que, sujeitos aos seus laços,
Preferem ser-lhe fieis e se quebram
Trespassados entre si com negligência.
WILLIAM SHAKESPEARE
TRAD. ERIC PONTY

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